Madrid - O Sporting juntou mais uma goleada à crise que assola a equipa. Em Madrid, entrou mal e saiu pior. No jogo que acabou por consumar o afastamento dos leões das provas europeias de 2000-2001, a equipa de Augusto Inácio não apresentou argumentos que assustassem o adversário, teve no seu guarda-redes, apesar de batido por quatro vezes, o único elemento com registo positivo e estragou a excelente imagem que deixara no Santiago Bernabéu, há seis anos, quando ainda contava com Luís Figo nas suas fileiras.
É difícil isolar uma razão e identificá-la como causa do malogro dos leões. Não foi só da táctica, não foi só da condição física, não foi só da falta de confiança, não foi só do défice de concretização, não foram só as dificuldades no jogo aéreo defensivo, não foi só, também, o inegável valor do adversário. Terá sido de tudo um pouco e a consequência foi uma exibição pobre, triste, sem alma nem chama, aquém do que se espera de um participante na Liga dos Campeões. Em Alvalade há “pano para mangas” quando chegar a altura de encontrar soluções, internas ou exteriores, para dar a volta ao texto e encarar a I Liga como o objectivo prioritário. Augusto Inácio, ontem herói da conquista do título, terá de encontrar argumentos para convencer hoje a Administração da SAD de que ainda tem meios para continuar a ser o homem do leme. Para já, dificilmente podia imaginar-se um início de temporada tão pobre do Sporting, com custos desportivos e económicos altíssimos. Quarta-feira, no Estádio Santiago Bernabéu, o Sporting escreveu uma das páginas mais tristes do seu historial europeu. Não por ter perdido, mas pela forma como perdeu...
NOVIDADES
Augusto Inácio decidiu-se pelo lançamento de duas novidades na equipa. Delfim, após um afastamento de oito meses, voltou à titularidade e, a meias com Hugo, teve de se entender com Makelele, Celades e frequentemente Figo, que actuou muitas vezes “por dentro”. Foi substituído ao intervalo por Bino. O outro foi o irlandês Alan Mahon, que jogou como médio-esquerdo em apoio sistemático a Dimas. Também não aguentou em campo mais de 45 minutos e, pelos vistos, esta oportunidade pode ter sido um presente envenenado. Foi substituído por Acosta quando Inácio quis dar um novo élã ao ataque.
O Sporting actuou em 4x4x2 mas, ao perder, como perdeu, de forma clara, a batalha do meio-campo, ficou sem meios para equilibrar a partida. O resto foi pouco complicado para uma equipa da cilindrada do Real Madrid. Apesar do descanso dado em “full time” a Casillas, Hierro e Raúl e em “part-time” a Figo e Roberto Carlos, os merengues mandaram sempre na partida e estiveram, inclusivamente, à beira de engordar mais o resultado, quando o Sporting, no quarto de hora final, praticamente atirou a toalha para o ringue.
UM MOMENTO
Sempre inferior ao adversário, o Sporting teve, contudo, um momento que desaproveitou. Os leões já perdiam por 1-0 quando Sá Pinto dispôs de uma ocasião clara para empatar (26 minutos), mas César fez uma extraordinária defesa e manteve a sua equipa em vantagem. A seguir, como que a avisar os portugueses, Geremi, a passe de Figo, esteve à beira do 2-0. Que haveria de aparecer, contudo, graças à supremacia espanhola a meio-campo, quando uma triangulação entre Figo, Munitis e Guti colocou a bola nos pés de Sávio para este facturar.
Após o intervalo, Inácio quis ainda dar a volta ao jogo e chamou Acosta e Bino. O Sporting passou a jogar com Sá Pinto na direita, Mpenza na esquerda e JVP no apoio a “Betogol”. Hugo e Bino ocupavam-se do “miolo”. Mas a noite não era verde-e-branca e pouca ou nenhuma foi a mossa que estas alterações produziram no campeão europeu. E quando Del Bosque resolveu que era tempo para fazer regressar Morientes à competição, este respondeu tão bem que no primeiro toque que deu na bola (por sinal um belo remate) fez o golo do 3-0.
Se havia, no coração dos leões, alguma secreta esperança de ainda amenizar o desaire, esfumou-se rapidamente. E um pouco mais tarde, faltavam ainda 21 minutos para o apito final, veio o quarto golo do Real Madrid, com Morientes a bisar, desta feita de cabeça, perante a incrível passividade de toda a defesa do Sporting, com culpas acrescidas para André Cruz, o seu marcador, que nem tirou os pés do chão para disputar a bola. Com quatro a zero (o pior resultado europeu do Sporting desde os 5-0 de Glasgow em 83-84, numa noite negra de Bela Katzirz), o Sporting desfaleceu e teve alguma fortuna em não ver o prejuízo aumentado. Com os merengues a actuarem soltos, Steve McManaman cabeceou para fora um centro de Geremi, com os “Ultra Sur” por detrás da baliza de Nélson, já a gritarem “golo”.
Quando o excelente árbitro suíço Urs Meier apitou para o final da partida, foi um Sporting em crise profunda que se dirigiu às cabinas. Com muitos problemas para resolver. A começar pela crise de confiança que tolhe movimentos, bloqueia pensamentos e aniquila a inspiração. E o Sporting, quarta-feira, na sua noite mais cinzenta de há muitos anos a esta parte, padeceu de todos esses males.
JOSÉ MANUEL DELGADO, OCTÁVIO LOPES e PEDRO SÁ DA BANDEIRA, enviados especiais