PITA da Costa, advogado vimaranense que renunciou à direcção do Contencioso do Vitória de Guimarães na sequência do “caso Cléber” – foi suspenso por cuspir em Capucho no jogo com o FC Porto –, aceitou explicar a Record as razões que o levaram a dar por terminada uma ligação profissional com mais de oito anos. Acusado de amador por Augusto Inácio, Pita da Costa requereu autorização à Ordem dos Advogados – concedida no passado dia 15 – para se defender das acusações.
– Renunciou ao contencioso por entender a determinada altura que o Vitória pretendia prescindir dos seus serviços, ou porque sentiu perda de confiança da parte do clube?
– Renunciei porque senti perda de confiança, consubstanciada nas palavras do presidente da Direcção.
– Foi acusado de amador pelo treinador da equipa. Qual é a sua interpretação?
– Em princípio não posso reconhecer legitimidade a quem não tem licenciatura em Direito e muito menos é advogado, para fazer uma apreciação técnico-jurídica de um advogado em exercício desde 1977.
– Sente que foi posta em causa a sua honorabilidade?
– Acho que sim. Sobretudo, foi criada uma imagem negativa acerca do meu trabalho profissional. As pessoas que me conhecem sabem que gasto largas horas dos meus dias a trabalhar nisto. Só faço isto e desde 1977.
– Vai, eventualmente, accionar Augusto Inácio pelas declarações proferidas?
– É uma hipótese que estou a ponderar. Não ponho de lado a possibilidade de agir judicialmente.
– O que o vai levar a decidir?
– Queria, em primeiro lugar, falar com uns colegas acerca do enquadramento técnico-jurídico da questão e se eventualmente agir terei de constituir advogado. Portanto, antes de tomar qualquer decisão terei de dar uma explicação à massa associativa.
– Alguma vez falou com Augusto Inácio sobre este tema?
– Nunca falei com Augusto Inácio.
– Disse, em determinada altura, que tinha a confiança de Pimenta Machado. A verdade é que em conferência de Imprensa ele deu razão a Augusto Inácio. Em que ficamos?
-–Para responder a essa pergunta teria de revelar um telefonema que tive com o presidente do Vitória. A bem do segredo profissional, acho por bem não responder a essa pergunta.
– O que ganhou por ser advogado do Vitória?
– Ganhei as alegrias inerentes a quem trabalha com entusiasmo. O Vitória, como clube desportivo, é o meu único amor.
– E o que perdeu?
– Só nestes últimos tempos é que senti que perdi alguma coisa, de resto ganhei sempre. Terminar desta forma o meu relacionamento profissional com o Vitória não foi bonito.
– Perdeu mais causas do que ganhou para o Vitória?
– Os assuntos do Vitória eram por natureza assuntos complexos e que exigiam grande atenção e cuidado e com factos complicados de trabalhar. Fizemos sempre tudo para obter os melhores resultados.
– É difícil ser advogado do Vitória?
– Muito difícil.
Os processos perdidos sem glória
– Qual foi o caso mais complicado que teve como advogado do Vitória?
– Sem dúvida o que ligou o clube a uma empresa jornalística (ndr: Rádio Santiago).
– O que recorda desse processo?
– A minha vontade e a do colega que patrocinava a parte contrária era de que esse problema, a bem do clube e da cidade, se resolvesse por transacção. Não se resolveu.
– E o Vitória perdeu todos os processos...
– O Vitória tem tido sempre resultados desfavoráveis.
– Essas decisões levam-no a entender o quê?
– Levam-me a entender que há qualquer coisa que deveria estar melhor do que está.
-- O que é que pensa um advogado de um seu constituinte que recusa acatar ordens de um juiz?
– A obrigação de um advogado é defender o seu cliente desde que acredite que por detrás de decisões aparentemente nocivas estão valores que convém preservar. Competia-me defender o presidente do Vitória e foi o que fiz.
– Como sócio, acha que o Vitória não tinha a razão que reclamava?
– Como sócio gostaria que o Vitória tivesse um bom relacionamento com os meios de comunicação social. Temos bons profissionais na nossa praça, belíssimos jornais e belíssimas rádios.