GRUPO A
PORTUGAL: Arte e espectáculo
Num Europeu onde as selecções tidas como favoritas, com base na avaliação do seu potencial actual, mas também pelo peso histórico que o passado lhes confere, Portugal acabou por ser a única meia surpresa da prova. E digo meia porque o valor individual dos jogadores portugueses, alguns dos quais jogam em grandes clubes italianos e espanhóis, era conhecido internacionalmente, embora tardasse uma afirmação colectiva dessas individualidades.
O momento mais alto da participação portuguesa foi, indiscutivelmente, a grande exibição frente à Inglaterra. O momento menos bom a exibição reatraída frente à França, fruto de uma estratégia em que a preocupação dominante foi anular as "pedras" mais influentes do adversário.
DESTAQUE:Figo
O golo que marcou à Inglaterra foi um monumento, um rasgo genial que catapultou Portugal para a reviravolta. Mas Figo espalhou o seu talento nos relvados holandeses e belgas e afirmou-se internacionalmente como um dos melhores jogadores do mundo da actualidade.
REVELAÇÃO: Nuno Gomes
À partida para o Europeu nem titular era e só o foi no jogo inaugural devido à lesão de Sá Pinto. Agarrou a chance com ambas as mãos e fez emergir o potencial que se lhe reconhecia e que tardava em exprimir. E fê-lo num patamar competitivo tão exigente que se tornou na revelação do Europeu.
DESILUSÃO: Paulo Sousa
A falta que um Paulo Sousa ao seu melhor nível fez no meio campo português. O jogo com a França foi paradigmático da ausência de um patrão no meio campo, de alguém que disciplinasse o jogo e garantisse qualidade no primeiro passe nas saídas para o ataque. O que Paulo Sousa, em condições normais, garantiria.
ROMÉNIA: A idade não perdoa
Dos nossos adversários era aquele que melhor conhecíamos, por ter tropeçado no mesmo grupo de qualificação. A sua base assenta numa geração que entrou na curva descendente, amenizada pela injecção de sangue novo de qualidade. No entanto, continuam a ser uma equipa temível, pelo elevado índice técnico dos seus jogadores e pela força do colectivo. No jogo dos quartos-de-final com a Itália ficaram privados de alguns jogadores nucleares, o que não lhes permitiu baterem-se em pé de igualdade por um lugar nas "meias".
DESTAQUE: Chivu
Um miúdo de 19 anos com futebol da cabeça aos pés e uma personalidade a jogar que espanta em alguém tão jovem. Tem um futuro promissor pela frente.
REVELAÇÃO: Chivu, obviamente.
DESILUSÃO: Hagi
Este Europeu demonstrou que Hagi já não é o que era e que está na altura de se despedir destes palcos internacionais.
INGLATERRA: Muitos nomes pouco sistema
O estatuto de grande potência europeia e a qualidade individual de jogadores como Beckham, Mc Manaman, Owen, Scholes e Shearer criaram a ilusão de que a Inglaterra iria longe no torneio. A estreia com Portugal deixou a nu a falência de um sistema de jogo que tarda em adaptar-se às exigências do futebol moderno, apesar dos passos que se têm dado nesse sentido nos últimos anos.
DESTAQUE: Keegan afirmou que Beckham e Figo eram os melhores números 7 do mundo. O inglês provou ser o segundo melhor, atrás de Figo. Aquele seu pé direito é mágico a cruzar...
REVELAÇÃO: Não houve.
DESILUSÃO: Michael Owen fez um Europeu discreto e sem brilho. Dele se esperava muito mais.
ALEMANHA: Renovação precisa-se com urgência
Afinal, eram fundados os receios daqueles que temiam uma derrocada no Europeu no contexto da crise em que mergulhou a selecção alemã nos últimos dois anos. Se poucos acreditavam na revalidação do título, também ninguém se atrevia a prever campanha tão desastrosa. Podia-se ter poupado Lothar Mathaus a esta despedida pela "porta pequena" do Europeu. É tempo de uma renovação profunda e urgente.
DESTAQUE: Mehmet Scholl
Crónico suplente da geração que se sagrou campeã europeia em 96, emerge como principal figura, à beira de completar os 30 anos. Elucidativo.
REVELAÇÃO: Sebastian Deisler. Confirmou-se como um dos raros talentos em ascensão no futebol germânico.
DESILUSÃO: Oliver Khan fez um Europeu para esquecer, nada condizente com a categoria que se lhe reconhece.
GRUPO B
ITÁLIA: «Catenaccio» ia dando título
O cepticismo pairava em redor da "squadra azzurra" à partida para o Europeu. A prestação da "squadra azzurra" na fase de qualificação e nos jogos de preparação não auguravam nada de bom. A lesão de Vieri aumentou o pessimismo. Mas a Itália fez um percurso excepcional que avalizou um sistema de jogo assente numa componente defensiva marcante, um "catenaccio" em versão moderna, primorosamente interpretado por jogadores de uma qualidade técnica e cultura táctica dignas da "escola italiana".
DESTAQUE: Nesta
Provou ser o melhor defesa-central europeu da actualidade. Que classe!
REVELAÇÃO: Totti
Explicou de forma eloquente porque é que Del Piero era seu suplente. E tem só 23 anos!...
DESILUSÃO: Del Piero
Não chegou a este Europeu em grande forma. Jogou aos "bochechos". Na final teve nos pés, por duas vezes, a chance de aplicar o "xeque-mate" à França e falhou.
TURQUIA: Pouca ousadia
Se é certo que a Turquia se qualificou para os quartos-de-final, feito inédito no futebol turco, a verdade é que ficou aquém das expectativas criadas com a carreira brilhante do Galatasaray, base da selecção, na Taça UEFA. Foi uma equipa muito defensiva, sempre à espera de um deslize adversário para o tentar surpreender, sem um rasgo de ousadia ou criatividade.
DESTAQUE: Hakan Sukur
Demonstrou ser um ponta-de-lança a quem não se pode conceder espaços ou um momento de desconcentração.
REVELAÇÃO: Não houve.
DESILUSÃO: Tugay
Um jogador vulgar, protagonista de uma atitude reprovável quando Denizli o substituiu por Tayfur no jogo com a Bélgica.
BÉLGICA: Desilusão de um anfitrião
Desiludiu um país inteiro por não ter alcançado a qualificação para os quartos-de-final, mas apresentou um futebol que agradou aos adeptos belgas, e cuja qualidade justificava ter ido mais longe na prova. Mas os erros e a inexperiência pagam-se caro a este nível competitivo.
DESTAQUE:Wilmots
O "motor" da equipa, jogador de uma qualidade técnica e visão de jogo acima da média.
REVELAÇÃO: Emile Mpenza
Um diamante em bruto. Grande potencial a necessitar de ser trabalhado.
DESILUSÃO: De Wilde
Numa fase final de um Europeu não se podem sofrer dois golos caricatos como os que sofreu com a Suécia e a Turquia. Ainda por cima num guarda-redes com a sua experiência.
SUÉCIA: Previsibilidade sem talento
Esta geração não tem o talento e a maturidade da que alcançou o 3º lugar no Mundial dos Estados Unidos. A Suécia praticou um futebol com um toque britânico muito acentuado, que o tornou excessivamente previsível.
DESTAQUE: Ljunberg.
Este médio do Arsenal, de 23 anos, sobressaiu pelo seu talento numa equipa onde ele não abunda.
REVELAÇÃO: Ljunberg.
DESILUSÃO: Kennet Anderson. Aos 33 anos provou não ter muito mais a dar à selecção sueca.
GRUPO C
ESPANHA: Candidata mas pouco
Pelé voltou a considerar a Espanha favorita e estragou tudo. Mas nem só o "Rei" se enganou com "nuestros hermanos". Meio mundo gritava "olé" por antecipação. O primeiro jogo colocou a nu as deficiências, sobretudo a mais visível: o sistema dependia demasiado de Guardiola. Molina deu barraca com a Noruega, Raúl só apareceu a espaços e a qualificação para os "quartos" foi conseguida com dois golos em tempo de descontos. Más indicações antes de enfrentar a França...
DESTAQUE: Guardiola
Começou mal com a Noruega mas foi aumentando o campo de acção e saiu da prova em grande, ante a França.
DESILUSÃO: Raúl
Apesar de a UEFA o ter incluído no lote dos melhores da prova, a sua prestação ficou aquém do esperado. E aquele "penalty" falhado...
REVELAÇÃO: Munitis
O lado esquerdo do ataque causou dores de cabeça a Camacho, que experimentou Fran e Mendieta antes do veloz e acutilante Munitis.
JUGOSLÁVIA: Mesmos nomes Mesmos erros
Nesta formação, quando os consagrados falham, não há remédio. E não foram poucos a desiludir: Kralj, Mihajlovic, Djukic, Jugovic, Mijatovic... O técnico Boskov preparou um caldeirão de sopa de letras mas não conseguiu juntá-las para fazerem sentido. Não bastam nomes sonantes aos molhos, é preciso formar uma equipa, e isso, a Jugoslávia nunca foi. Foi humilhada ante a Holanda (6-1) e voltou a casa com uma necessidade na bagagem: renovação.
DESTAQUE: Milosevic
Cinco golos! Marcou em todos os jogos, com revelo para os dois primeiros tentos, ante a Eslovénia, após ter saltado do banco.
DESILUSÃO: Mihajlovic
Para esquecer. Deu o mote quando foi expulso na primeira partida e defendeu mal. Nem livres certeiros nem juízo na cabeça.
REVELAÇÃO: Drulovic
Já é um veterano mas nunca se tinha assumido como titular nesta selecção. As suas assistências tiveram requintes de precisão.
NORUEGA: «Kick and rush» em versão rasca
O sistema do técnico Semb foi um dos mais criticados da prova. Os amantes do futebol irritaram-se com um tipo de jogo em que a defesa é o ponto central da acção e a bola sobrevoa sempre o meio campo à procura de um avançado solto. O antigo "kick and rush" inglês em versão escandinava não levou a equipa a lado nenhum, pois nem sempre se vencem jogos confiando num erro do adversário, no caso, do guardião espanhol Molina.
DESTAQUE: Mykland
Numa equipa de gente alta, sobressaiu a garra de um baixinho, verdadeiro "faz tudo" no meio-campo, duas vezes "homem do jogo".
DESILUSÃO: Tore Andre Flo
Queixou-se que joga no Chelsea com a bola no chão e na selecção só a vê pelo ar. Pode ter razão. Por isso passou ao lado da prova.
REVELAÇÃO: Nada a assinalar
ESLOVÉNIA: Se tivessem acreditado...
À partida, este "grupo de turistas" só ia ao Euro-2000 para marcar presença. Quando se colocou a ganhar por 3-0 à Jugoslávia, provocou o espanto geral. Durou pouco a euforia, pois a ingenuidade da maioria dos jogadores veio ao de cima. A formação orientada por Katanec dependeu muito da inspiração de Zahovic e nunca foi uma equipa débil. Pelo contrário, teve organização, sentido de entreajuda e capacidade de sacrifício. Se tivesse havido mais confiança e ambição...
DESTAQUE: Zahovic
Foi a estrela, o patrão, o goleador, o marcador de livres, o organizador... Só falta um bom contrato como recompensa.
DESILUSÃO: Nada a assinalar
REVELAÇÃO. Pavlin
O golo de cabeça foi um justo prémio para a muleta de Zahovic. Mas o médio-defensivo ganhou o "jackpot": um contrato com o FC Porto.
GRUPO D
HOLANDA: Sumo bebido aos «penalties»
A laranja azedou quando menos indicava: a jogar contra dez e beneficiando de duas grande penalidades durante a partida. Rijkaard demitiu-se sabendo que a equipa tinha talento para chegar à final, mas a produção em campo só entusiasmou os mais fiéis. Faltou sempre algo a esta equipa, o toque extra de classe (para além de um defesa-esquerdo). Bergkamp disse adeus à selecção, Kluivert marcou cinco golos, Frank de Boer precisa de treinar "penalties"...
DESTAQUE: Davids
O "pit-bull" correu atrás dos adversários, roubou bolas atrás de bolas, jogou para a frente. Não é preciso óculos para ver ali classe pura.
DESILUSÃO: Overmars
A condição física não era a melhor e a "Laranja" acabou por não beneficiar do mesmo jogador que brilhou no Mundial 98.
REVELAÇÃO: Zenden
Descoberto no Mundial de França, finalmente impôs-se como titular e colocou alguma constância no seu futebol imaginativo e repentino.
FRANÇA: Estrelinha de campeão
O favorito nº 1 à partida venceu mesmo a prova. Não sem mácula. A equipa de Lemerre, apesar do potencial em matéria de jogadores, foi obrigada a contar com a "estrelinha de campeão" para voltar a levantar um "caneco" dois anos após o Mundial. Uma mão de Abel Xavier e o último cartucho de Wiltord na final contribuíram para mais uma caminhada vitoriosa por parte de uma geração que ficará na história do futebol. E os jovens prometem continuar a saga.
DESTAQUE: Zidane
"Zizou" foi mágico. Saiu deste Europeu com o estatuto de melhor jogador do continente e é o mais sério candidato à "Bola de Ouro".
DESILUSÃO: Anelka
Lemerre deu-lhe a oportunidade de agarrar a titularidade, mas o jovem avançado mostrou estar ainda algo "verde" para estas andanças.
REVELAÇÃO: Henry
Não era um desconhecido, mas ninguém imaginaria que fosse capaz de "varrer" a prova com a sua velocidade e dribles desconcertantes.
REPÚBLICA CHECA: O primeiro dos últimos
Porque não seguiram os checos para os quartos-de-final? Apontam-se duas razões: a existência de duas potências do futebol no grupo, casos da Holanda e da França e o "penalty" inventado por Collina no jogo com a "Laranja", perdido nesse lance. O melhor quadro de equipas nos "quartos" teria a Rep. Checa no lugar da Turquia. Apesar de eliminada na primeira fase, foi ponto comum o elogio ao virtuosismo dos jogadores e à atitude positiva com que encararam as partidas.
DESTAQUE: Nedved
O médio da Lazio, na ausência de Berger, assumiu o comando do ataque e acabou por não merecer a eliminação precoce.
DESILUSÃO: Koller
O gigante da competição (2,02m) é um lutador nato, mas faltou um golo para dar razão a quem não o vê como um tosco.
REVELAÇÃO: Rosicky
Sobretudo ante a Holanda, a jovem estrela do Sparta Praga mostrou a sua velocidade de ponta e angariou alguns clubes interessados.
DINAMARCA: Sem os Laudrup não há milagres
A Dinamarca embateu nas suas próprias limitações. Quando o guarda-redes é a única estrela verdadeiramente internacional, não se pode pensar em grandes aventuras. A era pós-manos Laudrup prevê-se dolorosa para os "vikings", necessitados de elementos virtuosos para juntar à tribo de guerreiros. A defesa meteu água atrás de água, o meio-campo não teve uma voz de comando e faltou peso ao ataque, onde apenas Tomasson demonstrou saber tratar a bola.
DESTAQUE: Schmeichel
Sofreu 8 golos em três jogos, mas evitou outros tantos. Mesmo não estando na sua melhor forma, ainda é um líder na equipa.
DESILUSÃO: Joergensen
Seria o único capaz de dar um toque de classe e colocar em campo um cheirinho a manos Laudrup. A condição física traiu-o.
REVELAÇÃO: Gronkjaer
A espaços, o jovem extremo-esquerdo do Ajax fez os dinamarqueses acreditarem que a nova geração já tem o seu expoente.