Jan Ullrich e o ciclismo sem doping: «Era como ir para um tiroteio só com uma faca»

• Foto: Getty Images

Estreia no final deste mês um documentário sobre a vida e carreira de Jan Ullrich, um título que deverá passar em revista os anos dourados do antigo ciclista, mas principalmente a queda de um dos nomes que marcou uma era na modalidade. Tanto pelos resultados que obteve, como pelas batalhas com Lance Armstrong, mas acima de tudo por conta do facto de, nesse período, o consumo de doping ser algo visto como generalizado. E é sem rodeios que o antigo ciclista, agora com 49 anos, fala sobre o tema numa entrevista à revista alemã 'Stern'.

"Percebi muito rapidamente que o doping estava muito generalizado. Disseram-me que eu era bom, tinha um grande talento, que treinava com muita dedicação e que tinha todas as capacidades necessárias. Mas também me disseram que se queria manter-me ali teria de participar", disse o antigo ciclista. O "participar" era, claro, nos esquemas de doping, que o antigo ciclista alemão, que se notabilizou na equipa Team Telekom, aproveita para falar de uma forma peculiar: "A perceção generalizada naquela altura era que, sem nenhuma ajuda, seria como ir para um tiroteio armado só com uma faca".

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"Pensava-se 'se não fizeres isso, como é que vais sobreviver numa corrida?' Então, vais no pelotão e sabes que provavelmente és um dos únicos que não tem nada e, por isso, tens zero chances de ganhar", acrescentou.

Ullrich, recorde-se, venceu o Tour de 1997 e a Vuelta de 1999, tendo sido em 2006 suspenso por dois anos devido a ligações ao médico espanhol Eufemiano Fuentes, no âmbito da chamada 'Operación Puerto'. Sobre esse caso, o alemão assume-se arrependido de nunca ter falado publicamente da situação na altura, justificando o seu silêncio por não querer ser um traidor. "Os meus advogados aconselharam-me a ficar em silêncio. Segui o seu conselho, mas sofri as consequências durante muito tempo. Devia ter falado. Teria sido muito duro por um momento, mas depois a vida teria sido mais fácil. Não queria dizer meias verdades, mas também não queria dizer a verdade absoluta. Sabia que as vidas deles, de familiares e amigos, dependiam disso".

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Por Fábio Lima
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