Para lá de Emanuel Cortes, também Nuno Lopes deu a Portugal uma medalha de bronze na categoria de Masters dos Mundiais de kickboxing WAKO de Abu Dhabi. Natural de Fafe, conseguiu ao seu segundo Mundial a primeira medalha de sempre, mas assume que queria mais do que um terceiro lugar. O ouro, admite, era o seu objetivo e aquilo pelo qual trabalhou.
"Vinha preparado para ir à medalha de ouro e acho que fisicamente, mentalmente e tecnicamente estava pronto para fazê-lo. Este último combate foi extremamente frustrante para mim, porque em termos de jogo jogado eu fui superior. Fiz mais pontos, mas depois levei muitos pontos negativos - tive três saídas, cada uma das saídas depois dá pontos negativos. Tive dois 'warnings' também, que me dá mais ponto negativo. Um deles foi injusto, porque devia ter sido a outra atleta. E tudo isto fez com que eu perdesse. Não foi uma grande diferença de pontos, num árbitro foi 3, num outro foi 1, num outro foram 3 pontos de diferença, mas eu quase compensei mesmo assim aqueles pontos todos negativos no jogo. Portanto, tinha jogo para lhe ganhar perfeitamente e à vontade. Não consegui e estou muito chateado comigo por não ter conseguido", assumiu, algumas horas depois da luta e já com a mente algo mais calma.
E fica a vontade de voltar a um Mundial para tentar o tal sonhado ouro? "Ainda não sei, porque é preciso muita disciplina, muito sacrifício, retirar a muitas outras coisas: à família, a amigos, momentos de prazer... Tens de te deitar a horas, não podes ficar até à tarde, conviver com os amigos quando te apetece ou numa festa, não podes comer o que te apetece, tens de treinar bastante... Tiras também momentos à família e a dedicação que tens ao desporto também acaba por tirar tempo ao trabalho. O tempo, se vem para aqui, não vai para outros sítios. E para estar a este nível, e ao nível de uma medalha de ouro, temos que treinar, temos que levar as coisas com muito rigor e com muita disciplina. Não sei se vou desistir porque está aqui a faltar a medalha de ouro e eu acho que está ali. Está ali quase ao meu alcance, mas ainda não a consegui alcançar, mas sinto que está perto e que este ano podia estar ao meu alcance. Foi também por erros meus, aquelas saídas eram escusadas e isso fez com que o resultado fosse outro, não fosse o que eu gostaria que fosse."
Uma vida sempre em alta rotação, mas com o kickboxing como algo essencial
Aos 52 anos, Nuno Lopes tem no kickboxing parte integrante da sua vida há praticamente três décadas. E mesmo que tenha uma vida bastante preenchida, é na modalidade que encontra o equilíbrio. Tudo começou quando tinha 23 anos, pela mão de um colega de faculdade. E depois disso não mais parou.
"Experimentei, gostei, comecei a fazer uns treinos. Depois, quando terminei a faculdade, continuei a treinar. Depois nunca mais parei, tenho 52 anos e continuo a praticar", explica, passando depois a detalhar como consegue conciliar o desporto com a vida pessoal e profissional.
"O desporto é a parte integrante da minha vida. Sempre foi. Dou aulas de kickboxing, treino enquanto dou aulas também, dou aulas aos adultos e também aos mais pequenos, Em termos profissionais, sou consultor internacional, professor universitário e também sou político e presidente de uma associação. Tenho uma vida muito preenchida. Começo o dia às sete da manhã e termino às nove e tal com os treinos kickboxing. E faço isso todos os dias, sem paragens", detalha.
Ainda assim, no meio disto tudo, apesar de ter fundado um clube em 2022 e liderá-lo (União Desportiva de Fafe), Nuno Lopes não olha para a modalidade como um trabalho, mas antes um 'hobbie', que "dá muito prazer e muito gosto". "Faço tudo o que gosto e que me faz bem. E adoro o kickboxing. Posso acabar um dia muito cansado e até psicologicamente esgotado - que acontece muitas vezes - e chego ao treino, começo a treinar e no final sou outro, estou como novo. Chego lá completamente arrasado fisicamente e mentalmente e é quase um 'reset' que acontece".
"Eu acho que é paixão, o que nos motiva e o que nos faz andar é tudo o que gostamos. Estou aqui, tiro das minhas férias para vir para aqui. E a nível profissional também tiro muitas horas para dedicar ao kickboxing. E não é kickboxing que me dá a vida a ganhar. Só perco dinheiro mas dá-me vida, preenche-me, enche-me".
Ainda assim, é a paixão que comanda a sua missão no kickboxing. Uma paixão que nasceu na tal aventura na faculdade e que o levou a vários títulos, tanto regionais como nacionais e até uma medalha de prata internacional. E agora este bronze em Masters, que no futuro, se a decisão for essa... poderá ser acompanhado de um ouro em 2027.
Por Fábio Lima