Adrien é a estrela da 1.ª Liga

Adrien é a estrela da 1.ª Liga

1 - Não costuma ser fácil a vida dos jovens maestros quando atingem as salas mais ilustres. Passam anos como heróis absolutos das comunidades que integram e, de um dia para o outro, são apenas mais um inquilino do edifício. Os extremos, por serem peças soltas da engrenagem, têm mais oportunidades, porque o risco de desequilíbrio estrutural é muito menor. Em 1984, aos 17 anos, o sportinguista Litos era um génio reconhecido em toda a Europa, resumido ao conceito de “novo Platini”. Quando chegou aos seniores tinha várias armas apontadas: a elevada expectativa dos adeptos, as contratações de Jaime Pacheco e Sousa ao FC Porto e um treinador (John Toshack) que preferiu jogar pelo seguro. O comandante ficou sem exército, perdeu credibilidade e nunca foi tão grande quanto prometeu.

2 - Só aos 24 anos, isto é, próximo do auge das suas potencialidades, Adrien reuniu as condições ideais para assumir o lugar que lhe cabe no Sporting e no próprio futebol português. Precisou apenas de sentir que fazia parte da solução institucional da nova liderança (que já fez muitas e ilustres vítimas) e confirmar que era fundamental na proposta de Leonardo Jardim para anular muitos dos fatores que inibiam a expressão total do seu jogo. Ao contrário de Litos há 30 anos, Adrien dispôs de condições para criar e consolidar a imagem de autoridade necessária como exemplo definitivo para os companheiros, general temido pelos adversários e jogador admirado por quem o analisa de fora.

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3 - Adrien despoja o futebol de superficialidade porque o valoriza em todas as dimensões. É solidário e generoso nas ações de caça à bola e revela técnica sem adorno quando a recupera; tem personalidade para travar o TGV e talento para alimentar a manobra ofensiva. Só uma elite conjuga elementos de compromisso com as ideias do treinador, noção de disciplina e entrega ao trabalho com o virtuosismo que permite transformar esses princípios de segurança, equilíbrio e organização num projeto criativo participado e temível em que desempenha o papel de denominador comum. É gregário e estrela; sensível à relevância do senso comum e gerador de surpresa; dá satisfações à estatística e preserva a inteligência; luta pela eficácia e respeita as emoções. Tornou-se um médio total com orgulho em ser futebolista e que vive a felicidade plena de defender o clube do coração.

4 - Por fim, encontrou refúgio de confiança, respeito e carinho no palco ideal para confirmar a excelência do seu futebol. Neste Sporting deslumbrante, consistente e ganhador fica mais fácil convencer o Mundo de que é um prodígio de clarividência e intuição, orientado por notável instinto simplificador. Sem as virtudes hipnóticas dos encantadores de serpentes, explode em constantes relâmpagos de lucidez com os quais revela sabedoria enciclopédica para abordar cada momento do jogo. Porque deixou de ser mero passageiro do comboio e passou a ter uma palavra na definição de itinerário e destino da expedição, está a tornar-se um caso sério. Ninguém joga como ele em Portugal. A meio da longa viagem, e sem esquecer a dimensão de William e os golos de Montero, tem sido ele a estrela maior da 1.ª Liga.

Artur e Oblak em despique
Levantam-se dúvidas sobre quem vai defender a baliza encarnada no clássico de domingo

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Sente-se uma forte corrente para a continuidade de Oblak no onze. O esloveno é reconhecido por quem já trabalhou com ele, embora esse talento superior, até agora, só tenha sido demonstrado em formações menores. Aliás, são raros os guarda-redes com 20 anos que se impõem em grandes equipas. Jorge Jesus já sugeriu a decisão ao afirmar que o jovem não sofreu golos, é verdade, mas em jogos nos quais pouco ou nada teve de fazer. Porque o adversário é o FC Porto, os dados estão lançados: se puser Oblak, acaba com Artur; se o miúdo falhar no clássico, há o risco de perder um e outro.

Disse Varela a Harry Potter
Ricardo Quaresma está nos blocos de partida para jogar o clássico da Luz frente ao Benfica

De resto, a contratação de Harry Potter tem subentendida a convicção de que os extremos portistas são uma espécie de elo mais frágil na cadeia criativa dos campeões nacionais. Mais do que para o clássico, Paulo Fonseca vê-lo-á como solução para um problema que, até ao momento, os outros não têm sido capazes de resolver. No jogo com o Atlético, Varela aproveitou a presença de Quaresma nas bancadas do Dragão para lhe comunicar que existe e não está disposto a oferecer-lhe o lugar em bandeja de ouro. E que verdadeiramente preocupados devem estar Licá, Josué, Quintero e Kelvin.

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King adoraria ouvir D. Alfredo
Quando tinha mais saúde e sentia o fim distante, Eusébio costumava refletir sobre um tema

De vez em quando, o King manifestava o sonho mórbido de cá ficar para assistir às suas exéquias fúnebres – ouvi-o falar no assunto por alturas da morte de Amália Rodrigues (6 de outubro de 1999). Entusiasmava-o a ideia de avaliar a paixão do povo; de ver as lágrimas, as palavras e medir toda a extensão da dor e suas expressões mais profundas. Não ficaria dececionado, mas o que adoraria mesmo era saborear a declaração de D. Alfredo di Stéfano, seu ídolo eterno, devolvendo o elogio: “Para mim, Eusébio será sempre o melhor jogador de todos os tempos”. Nem mais nem menos.

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