Opinião
Tomás Froes

Vejo o Sporting campeão

É imperativo que o clube defina a sua ambição rumo ao ‘destino’ dos grandes clubes europeus e mundiais para não cair na divisão daqueles que ficarão irremediavelmente de de fora, por não perceberem a dimensão do mercado.

É a única e desejável resposta que um Sportinguista pode dar. Acontece que não basta desejar para a tornar real. É preciso mais...

PUB

Comecemos pela história centenária do clube. O Sporting ocupa, de forma consolidada, o lugar de incontornável potência desportiva nacional. A sua história, herança, feitos e posicionamento desportivo são um património único que chancela o valor simbólico e emocional do clube. Todos aqueles que ao longo da nossa história passaram pelo Sporting, deixaram o seu legado. Presidentes, dirigentes, atletas, sócios e simpatizantes, acredito que todos entregaram ao clube o que de melhor souberam e puderam para dar continuidade ao legado do nosso fundador. E conseguiram fazer do Sporting um clube que abriu a sua identidade, os seus valores e as suas portas a uma enorme massa de adeptos e simpatizantes de todas as classes sociais, raças, géneros e de diferentes locais do país e do Mundo. Um clube que é hoje uma verdadeira marca.

Vejo o Sporting campeão

Mas a exigência e a ambição são maiores e isso, pelo menos a mim, inquieta-me positivamente. O foco, mais do que nunca, tem de estar no futuro. Na história que não era expectável escrever, num legado que inspire as gerações futuras, nas surpreendentes conquistas que ainda estão por fazer. O Sporting sempre foi, e continuará a ser, muito mais do que um clube de futebol. É um clube eclético, popular e democrático, com uma identidade e valores muito próprios que o difere de todos os outros. Mas nos dias de hoje a verdadeira projeção da marca e do clube terá obrigatoriamente de ser feita através dos resultados desportivos no futebol profissional. Não é possível, e muito menos sustentável, um clube com a dimensão do Sporting não ganhar no futebol. Por isso acredito que será de distanciamento, e de uma diferente visão, que se deverá erguer um projeto mais cativante, democratizado, inspirador e acima de tudo global. Um projeto que venha dar mundo ao Sporting para que o Sporting nos possa dar o Mundo.

PUB

Aprendi com um dos principais responsáveis dos extraordinários sucessos da nossa Seleção Nacional, que o futebol é aquilo que o campo nos dá. São os resultados que vêm do campo que podem potenciar resultados positivos em todas as dimensões de uma organização desportiva. Sim, é um ciclo vicioso, mas todos os ciclos têm obrigatoriamente um ponto de partida. E a evolução que o futebol hoje atravessa obriga-nos a competir num tabuleiro de enorme competitividade, desportiva e financeira. No Sporting, o legado de vitórias que nos foi ‘deixado’ está a desaparecer, e com ele a desaparecerem sócios, adeptos e simpatizantes. Todos os dias o clube perde valor, em reputação de marca e financeiramente, e esta desvalorização agrava ainda mais a (in)sustentabilidade do clube e do seu ecletismo, um património que deveremos defender e que terá tendência a degradar-se com a quebra das receitas, diretas e indiretas, provenientes do futebol. Cada dia que passa o clube está, por isso, mais fragilizado em todas as suas dimensões, ficando assim mais exposto à entrada ‘hostil’ de um qualquer ‘agiota’. Este é o caminho que definitivamente não queremos continuar a percorrer e que temos de inverter.

Vejo por isso um caminho alternativo. A crise pandémica e económica que abalou o Mundo, abanou também o futebol. Já muito se fala sobre a expectável redução das receitas de bilheteira (e quotizações?), a diminuição dos patrocínios e investimentos publicitários, a renegociação dos direitos televisivos e até os valores das transferências e dos contratos de jogadores. Uma tempestade dura, difícil, que o futebol e os seus intervenientes vão ter de ultrapassar com muita inovação e agilidade. Os grandes clubes vão fazê-lo e a reinvenção da indústria vem aí. E, não tenhamos dúvidas, vai ser grande.

É neste contexto de águas agitadas que sinto que deve ser dado um passo estratégico e abrir a possibilidade da venda da maioria do capital da SAD. A transformação do futebol vivida nos últimos anos, e aquela que será espectável nos próximos tempos, legitima essa mudança de estratégia e posicionamento perante os sócios, ativo maior do clube, sem os quais não se perspetiva uma evolução, nem saudável, nem sustentável. Por isso defendo: o clube é dos sócios, mas o futebol deve ter um dono!

PUB

E não me assusta, como a alguns, a terminologia e o ‘fantasma’ do dono. O que é verdadeiramente assustador é a atual fragilidade desportiva e financeira do clube, a sua perda de valor a cada dia que passa, e o espaço que podemos estar a deixar para o tal ‘agiota’ entrar sem que percebamos de onde veio... e então aí não há muito que possamos fazer. Esta é por isso a nossa oportunidade, este é o momento de aproveitar os ventos que sopram a nosso favor. As velas içadas e orientadas para o lado certo levar-nos-ão a um destino onde teremos forçosamente de ser dos primeiros a chegar se quisermos reduzir o ‘fosso’ financeiro, e consequentemente desportivo, que nos tem distanciado dos nossos rivais internos e dos nossos concorrentes europeus. É preciso que o clube como um todo se mobilize agora, já, com a visão e a competência para darmos um passo decisivo de aproximação ao ‘pelotão’ da frente, percebendo a importância estratégica de um investimento imediato na marca Sporting através do seu produto com maior impacto e potencial financeiro, o futebol. É triste e difícil perceber como fomos capazes de deixar, anos após anos, os dois lugares de acesso ao ‘pote’ europeu à disposição dos dois nossos rivais. É por isso imperativo que o Sporting defina a sua ambição rumo ao ‘destino’ dos grandes clubes europeus e mundiais, para não cairmos na divisão daqueles que ficarão para trás, e irremediavelmente de fora, por não perceberem a dimensão e alcance do mercado do futebol.

Lanço aqui a ideia, e o debate, que poderá tornar numa realidade a resposta que dei no título deste artigo. Um caminho que se deverá iniciar com a venda da maioria do capital da SAD a um grupo de investidores, nacionais, que o deverão fazer por paixão clubística e simultaneamente como acionistas e gestores de um negócio que exige investimento (alto), competência (muita) e ADN (‘cheiro’ a futebol). Com um modelo de governance que deverá ser liderado por profissionais com elevado grau de experiência no futebol profissional. Sem olhar a nacionalidades ou preferências clubísticas, mas apenas e só aos seus CV e competência. Com um plano de investimento focado em talento, competência e profissionalismo, neste caso fora e dentro das quatro linhas. E com um plano financeiro que deverá estar comprometido com um plano estratégico a cinco anos e sustentado em três eixos. Portugal, formar! Europa, competir! Mundo, projetar.

Muito haverá por pensar, dizer e discutir sobre este novo modelo para o Sporting. Haverá certamente outras ideias e opiniões. Estou certo que este é o momento certo e oportuno para falar Sporting. Vem aí um período único na história do futebol mundial, e isto tem de nos fazer perceber, a todos nós Sportinguistas, que há um bem comum, um bem maior, que se chama Sporting. Viva o Sporting Clube de Portugal.

PUB

Por Tomás Froes
Deixe o seu comentário
PUB
PUB