Manuel Boto
Manuel Boto

Schmidt, o réu de serviço!

Muito mais depressa do que eu poderia imaginar, o Sporting foi um justo campeão nacional e, neste momento da inapelável derrota do meu Benfica, a primeira palavra deste artigo terá de ser sempre para o nosso maior rival – Sporting – sua equipa, treinadores, estrutura diretiva e massa associativa. Os campeões nacionais são sempre justos, porque foram os mais regulares e, se quiserem uma evidência dessa superioridade, basta atentar na possibilidade de chegarem aos 90 pontos, se não desandarem em festanças. Parabéns dados, vamos à matéria que interessa aos benfiquistas para quem escrevo!

Este título começou a ser perdido na 1ª jornada do campeonato, quando aos 89’, com 10 homens, ganhávamos 2/1 ao Boavista e conseguimos "a proeza" de perder 2/3 no tempo extra. Seguiu-se a novela Odysseas, uma instabilidade desnecessária sobre a posição de guarda-redes a que se sucederam diversos outros folhetins que marcaram a época, como a entrevista de Di Maria a afirmar que não gosta de ser substituído ou a novela da renovação de Rafa que perdura. As consequências foram os resultados, reflexo de demasiadas exibições de fraco quilate e de um esbanjar de oportunidades em cada jogo que não pode ser apenas azar, mas seguramente muita aselhice.

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Seria fastidioso entrar no detalhe de tantas estórias, até porque o problema central não são essas estórias, mas a sua existência e a sucessão de casos e casinhos que essas estórias originaram e que uma liderança forte teria cortado cerce. A confirmar esta ideia (convicção), para quem está de fora como eu, sem acesso a informações privilegiadas, a ideia que perpassa a época é que a liderança da equipa ficou excessivamente na mão do treinador Schmidt (que continua a não falar português) e nos líderes de cabine que aparentam ser Otamendi, Di Maria, João Mário e Rafa. Quanto ao dirigente mais perto da equipa, Lourenço Coelho, externamente nunca se sentiu dele o exercício do poder para o qual foi incumbido. Nessa ausência, teria de ser o Presidente Rui Costa a estar mais presente e a perceção com que fiquei das vezes em que surgiu a falar, foi a de que indiscutivelmente as hostes acalmavam quando o fazia, mas era sol de pouca dura.

Schmidt aparece assim aos olhos da esmagadora maioria, como o grande responsável da débacle que para todos nós foi esta época. Pobres exibições na Champions, Taça da Liga em que soçobrámos às mãos de um Estoril, um campeonato em que a consistência, com raras exceções, se exprimiu na pobreza generalizada das exibições, uma Liga Europa em que caímos perante um acessível Marselha, onde nos faltou audácia para assumirmos a superioridade, e uma Taça de Portugal onde por um triz falhámos contra o Sporting o que seria salvar "a honra do Convento".

"De médico e de louco todos temos um pouco", lá diz o ditado. Acrescento eu que "de bola, todos percebemos um pouco". Aqui precisamente, começa o busílis de Schmidt perante os Sócios, que sem saberem nada do que se passa durante a semana veem os jogos e julgam pelo que veem. Mas afinal o que será que os Sócios viram durante toda a época e por demasiadas vezes? Jogadores a arrastarem-se no campo sem serem substituídos, como se o treinador estivesse capturado pela cabine, experiências incompreensíveis para os leigos que todos somos e, "last but not the least", exibições confrangedoras para o que todos cremos ser a qualidade do plantel. Em suma, o adepto comum, exigente e desejando uma qualidade exibicional de acordo com os pergaminhos do Benfica, tomou Schmidt de ponta e não mais o largou, eleito como o réu de tudo o que de mal sucedeu durante a época.

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Em surdina, há uns quantos que vão dizendo que se Schmidt tem culpas, a realidade é que, se calhar, o plantel não terá a propalada valia, apontando-se-lhe lacunas, agravadas pelas normais lesões que afetam

todas as equipas. Ainda há aqueles, para quem comprar caro significa comprar bom, que levianamente exigem que jogadores medianos adquiridos a preços de craques internacionais resolvam os jogos na razão proporcional do seu custo exorbitante. Schmidt, que todos os dias trabalha com eles, já há muito percebeu o que tem à disposição e vai fazendo experiências ao longo de toda a época tentando equilíbrios como se estivesse todas as semanas a fazer o "cubo de Rubik". Não dá, não deu, assim também não vou lá… e a época passou, com Schmidt, entregue aos Sócios como o "réu útil" pelos mesmos dirigentes que não supriram atempadamente as óbvias lacunas e compraram ativos, de tal forma caros que viraram passivos.

Mas o problema é bem mais profundo como já o referi neste artigo, tendo de ir à estrutura dirigente, questionar competências e, sobretudo, tentar perceber se essa estrutura (bem paga, diga-se) apoia efetivamente o Presidente Rui Costa ou se o apoio se limita à presença nos jogos e se desmaterializa nos bastidores da semana. As circunstâncias tornaram Rui Costa Presidente, este ganhou a seguir umas eleições que o legitimaram, mas sem qualquer renovação visível, mantendo basicamente uma estrutura que herdou de LFV e da qual perdeu DSO que jamais foi substituído, talvez o único que o poderia apoiar para se tornar verdadeiramente Presidente. Seja assim ou não, a sensação com que ficamos é que está rodeado de "yes-man" que objetivamente o desajudam e o deixam sozinho a aprender a ser Presidente, tendo como consequência já estar a ser largamente questionada a sua competência e visão para o lugar.

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Acabou o período de graça de todos. Schmidt já anunciou que tem contrato até 2026, a comunicação social já o "plantou" como forte candidato a treinador do Bayern (solução que faria todos sorrir), o final da época arrasta-se sem que que se perceba o "day after" nem a estratégia futura e, no meio disto tudo, a crueza da real situação financeira vai-se impor, conforme notícias que começam a surgir. Algumas coisas parecem certas: serão efetuadas umas vendas de ativos (jogadores) a valor real, a maioria ao valor possível, umas velinhas ao Leverkusen (de preferência com golos de Grimaldo que mais uma vez nos ajudaria) a ver se temos entrada direta na Champions, mas uma certeza eu tenho: ou o Presidente Rui Costa lidera a reestruturação profunda do Clube/SAD, emagrecendo estruturas e adquirindo certezas e não apenas promessas, ou os próximos anos arriscam ser a "pão e água", até porque os nossos rivais não dormem. Também há outra hipótese: entrada de fundos, com dinheiro fresco, mas aí - adeus Benfica como hoje o conhecemos.

Perante esta realidade, digam lá qual o maior problema: Schmidt, o réu de serviço, ou este quadro que nada augura de bom?

Manuel Boto

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Sócio 2794

Por Manuel Boto
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