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Senti um grande alívio ao ver como os franceses afastaram finalmente a pressão, decorrente do facto de serem os anfitriões deste Euro’2016. Realizaram uma grande exibição e venceram, por claros 5-2, enviando para casa a Islândia, que era a nova a seleção a reunir a simpatia dos adeptos europeus.
Nada tenho contra eles, mas ver a Islândia e o País de Gales numas meias-finais de um Europeu seria demasiado. Já tinha sido o bastante assistir à eliminação dos pobres ingleses diante dos nórdicos.
Com um Alemanha-França, teremos uma segunda meia-final muito respeitável. Ambas as equipas podiam estar tranquilamente no jogo decisivo, mas vejo a Alemanha como favorita para este duelo, apesar de ter necessitado de 18 grandes penalidades para ultrapassar a sólida formação italiana. A turma germânica conseguiu a qualificação, apesar de grandes jogadores como Thomas Müller, Mesut Özil e Bastian Schweinsteiger terem desperdiçado os respetivos penáltis. Todos eles acabaram por colocar em dúvida o estatuto de ‘rei dos penáltis’ que a Alemanha ainda ostenta no futebol.
O confronto dos quartos-de-final diante da Itália foi, aliás, pródigo em erros mas difícil de superar em termos emotivos. Os transalpinos até teriam alguma possibilidade de seguir em frente, caso Daniele de Rossi, o cérebro do meio-campo não se lesionasse...
Mesmo assim, a Alemanha pagou caro o preço da vitória. O defesa Mats Hummels, para mim o melhor da equipa germânica nessa partida, viu o cartão amarelo e vai cumprir um jogo de suspensão. Por outro lado, Mario Gómez lesionou-se e está fora do Euro, enquanto Sami Khedira y Schweinsteiger permanecem em dúvida pelo mesmo motivo. Enfim, foi uma vitória que fez mossa.
As ausências de Hummels e Gómez afetam mais a equipa do que as possíveis baixas de Khedira ou Schweinsteiger. Se os dois últimos não puderem defrontar a França, o treinador alemão tem como substituí-los. O defesa Joshua Kimmich, do Bayern Munique,
tem possibilidade de atuar como médio-defensivo e o também jovem Julian Weigl, do Borussia Dortmund, já demonstrou que não teme grandes desafios. Tem muita confiança nele próprio, apesar ne não ter participado ainda no torneio.
É preciso salientar que qualidade de jogo da equipa alemã melhorou muito com Mario Gómez. Esteve sempre muito bem lá na frente, quer pelo poder físico que apresenta quer pela forma como trata a bola. Mario Götze ou Thomas Müller podem jogar agora como falsos número 9, ou mesmo fixos na área. Mas já pode parecer uma imensa loucura o recurso ao velho Lukas Podolski, embora se trata-se, deve ressalvar-se, de um jogador com um vínculo muito forte ao público alemão e, com este treinador, Joachim Löw, estou seguro de que deixaria tudo em campo.
Os franceses demonstraram, por seu turno, que com Antoine Griezmann, Olivier Giroud y Dimitri Payet formam uma frente de ataque com grande qualidade, num momento em que, no meio-campo, Paul Pogba já despertou neste Europeu. Mas a defesa gaulesa já não é tão confiável, como provam os dois golos obtidos pela Islândia. Neste domínio, vejo abrirem-se boas possibilidades para a Alemana seguir em frente.
Na outra meia-final, creio que são muito grandes as possibilidades de Portugal se qualificar. Estão mais organizados do que na fase de grupos. Cristiano Ronaldo não se encontra no seu melhor, mas apresenta-se mais tranquilo. Deixou de ter aqueles gestos ‘pomposos’ , o que me parece muito positivo.
Portugal beneficia também do aparecimento de Renato Sanches, um futebolista de 18 anos que joga como um veterano. Os 35 milhões de euros que o Bayern Munique pagou ao Benfica parecem um bom investimento. Vale ouro, ainda para mais num momento em que Cristiano Ronaldo parece ter alguns problemas físicos, motivados pela longatemporada. Ainda assim, o astro do Real Madrid manteve Portugal vivo, com os dois golos obtidos diante da Hungria.
Os galeses têm mais qualidade do que os vizinhos ingleses. Fizeram um grande Europeu. Apresentam uma equipa com grande presença física e um extraordinário Gareth Bale, pelo que Portugal terá de atuar ao seu melhor nível para alcançar a final. De qualquer forma, fico muito satisfeito com este duelo entre Cristiano Ronaldo e Gareth Bale, mas espero por uma final de Campeonato da Europa entre Alemanha e Portugal.
Por Lothar Matthäus