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Vou a correr, tropeço em fios, tropeço nas escadas, aguento-me, desato a teclar no computador. Há um ano e uns meses foi igual, com a diferença de em Baku serem mais quatro horas do que em Lisboa e não ao contrário. A pressa é grande, por causa da diferença horária. Há uma edição para fechar. Não deu sequer para festejar, para admirar convenientemente o momento. Mas não me custa nada. Escrever sobre dois dos feitos mais brilhantes da vida de Telma Monteiro é, antes de mais, uma sorte e um privilégio. Em 2015 foi o Campeonato da Europa, seu quinto título, agora os Jogos Olímpicos, a tal medalha que lhe faltava. A mais merecida das medalhas. Em ambos, Telma chegava após longa paragem por lesão e em ambos foi mentalmente intransponível. Precisou de mais de uma década, várias desilusões, outras quantas operações para se tornar uma fortaleza. Aos 30 anos, duvido que alguma vez tenha estado melhor. É como o Vinho do Porto, não é o que se diz? E do vintage. Longe de mim querer armar-me em professor Zandinga, mas ontem disse-vos que Telma ia ganhar uma medalha. Não atirei para o ar, não disse por dizer, apenas reconheci os sinais que havia já visto no Azerbaijão em 2015. A completa concentração, a imunidade à pressão que só a tranquilidade da experiência dá. E quando Telma lançou aquele grito lá do mais fundo, aquele "Eu vim para ficar!", aí eu tive a certeza de que a minha profecia estava certa.
Por Lídia Paralta Gomes