Antes de começar este texto, declaro o meu registo de interesses. Estive na apresentação da candidatura de André Villas-Boas (AVB), sou seu apoiante, mas não sou sócio do FC Porto, todavia sigo o FC Porto com interesse.
Não tenho partido, sou independente e não tenho clube apesar de ter as minhas convicções e opiniões, que muitas vezes o expresso por escrito e oralmente. Vivo no Norte, sei as dificuldades que é fazer algo e conseguir chegar a algum lado, para quem é do Porto, pela minha experiência no Clube dos Pensadores (CdP).
Já tive como convidado André Villas-Boas no CdP e cheguei a convidar diversas vezes, Pinto da Costa (PdC), muito antes de AVB sonhar ser candidato, mas não se concretizou.
Nestas eleições do FC Porto, mete-me muita confusão não se poder ter a veleidade de alguém, se opor a Pinto da Costa. Parece ofensivo e ultrajante alguém querer ser presidente do FC Porto, para além, de Pinto da Costa.
Pode não agradar a Pinto da Costa e seus correligionários, mas isso, é normal.
Apesar de se falar de guarda pretoriana, o FC Porto é um clube, não é um império Romano. O FC Porto tem que passar de uma autocracia, para uma democracia.
Não se pode acusar André Villas-Boas de fazer o jogo dos adversários do FC Porto. O lema "se não és por nós, és contra nós", é digno de mentes caudilhas.
Pinto da Costa foi um enorme presidente, mas está na hora de sair. Não entendo este agarrar ao poder! Medo da perda de privilégios? Só se for de quem anda à sua volta, ele ama mais o FC Porto que tudo. Medo de uma auditoria independente às contas do clube? Se calhar, talvez. Medo da perda do controlo da distribuição dos bilhetes? Claro que sim.
Nunca vi, li ou ouvi André Villas-Boas dizer mal de Pinto da Costa ou do FC Porto, sempre pautou a sua intervenção em colocar no debate, uma nova forma de gerir o clube, com outro tipo de intervenientes e métodos apoiados na sua inteligência, no seu saber (pós-graduação em Gestão Executiva, na Columbia Business School em New York) e na sua experiência no futebol além-fronteiras.
O estar no poder muito tempo levou à existência de uma evidente teia de interesses em que se interlaçam objetivos pessoais, desportivos e financeiros.
Não me vou alongar nos últimos acontecimentos do líder da claque Super Dragões e, em tudo, que está relacionado com alguns esquemas que não dignificam nada o FC Porto.
O que está em causa nas eleições presidenciais do FC Porto é um confronto de gerações (AVB – PdC), em que a geração mais velha não soube ou não quer dar lugar a uma geração mais nova, com outras ideias, mais energia, mais transparência e ética.
Na vida, temos que saber parar, pois, o tempo devora-nos. A ditadura do tempo é incontornável. O maior privilégio é parar de forma prazerosa. Pinto da Costa não soube abrandar, desviar-se e usufruir desse privilégio, de ter sido o maior presidente do FC Porto.
O que me chama mais atenção neste período eleitoral para a presidência do FC Porto é não se poder questionar ou querer seguir outro caminho.
Vivemos numa democracia, é natural haver vários candidatos a um cargo, o que é anormal é estar nesse cargo ininterruptamente mais de 40 anos. Os partidos únicos ou cargos unipessoais são dignos das maiores ditaduras.
Qualquer instituição que recebe apoios estatais deveria ter nos seus estatutos limitação de mandatos. As pessoas não podem ficar num cargo ad aeternum.
Pelo que vi nas candidaturas de André Villas-Boas e Pinto da Costa, uma foi realizada na Alfândega num dia semana e à noite, com um rigoroso controlo de entradas ( André Villas-Boas), ficando imensa gente à porta que não conseguiu entrar. A outra foi realizada num domingo de tarde, no Coliseu, com entradas aligeiradas ( Pinto da Costa).
Como não vai haver debates nem campanha eleitoral. Espero que esta campanha não se resuma a ver quem enche mais recintos. Estas eleições devem ser dominadas pela apresentação de um projeto de futuro, consistente, transparente e acabar com pequenos poderes e influências nefastas para o FC Porto.
Estas eleições são dominadas pelo medo, auto-censura e ameaças. Porém o voto é secreto e isso muda tudo nestas eleições: André Villas-Boas será um bom presidente.
Por Joaquim Jorge