A morte de Jorge Costa deixa-nos novamente perante a trágica fragilidade da nossa existência. Se isto acontece a um portento, como o foi Jorge Costa, quer como atleta quer com líder de homens, o que nos pode acontecer a todos nós?
Deixa, sem avisar, um vazio imenso no futebol português, mas sobretudo no FC Porto, onde se fez lenda e era peça instrumental do novo Porto de André Villas-Boas.
"O Bicho", como lhe chamou um dia Fernando Couto, e assim ficou conhecido entre companheiros e adversários, não era apenas um central de força bruta e cortes decisivos. Era, acima de tudo, um líder natural — o arquétipo do capitão.
Capitão do FC Porto durante sete temporadas, Jorge Costa representava algo que hoje parece em extinção: autoridade sem vaidade, dureza com sentido de justiça, e uma entrega total ao clube e aos companheiros.
Como afirmou Ricardo Carvalho, "aprendi a liderar com o Jorge Costa. Ele ensinou-me que um defesa vê tudo e tem de assumir essa responsabilidade." Não era preciso levantar a voz — bastava um olhar para perceber que ali ninguém brincava com o emblema do dragão ao peito.
José Mourinho, que o treinou nas conquistas da Taça UEFA e da Liga dos Campeões, disse um dia: "Tive capitães que não eram líderes. Mas Jorge Costa era as duas coisas."
Essa síntese perfeita entre o estatuto e a alma do grupo fez dele um exemplo irrepetível. No balneário, era o primeiro a cobrar, mas também o primeiro a proteger. O primeiro a dar o corpo ao manifesto quando a coisa aquecia e o último a sair do relvado quando tudo corria mal.
Nunca quis os holofotes. Preferia ser respeitado a ser idolatrado. E foi isso que o tornou eterno. Jorge Costa morreu como viveu: ao serviço do FC Porto, no centro de treinos do clube onde começou e terminou a sua gloriosa jornada.
Deixa-nos um legado de lealdade, coragem e liderança que nenhuma estátua poderá replicar — porque o verdadeiro monumento ao Capitão Jorge Costa é a memória viva de todos os que aprenderam com ele o que significa representar um clube e liderar, em campo e fora dele, uma verdadeira equipa.
Todas as equipas que ficaram para a historia tiveram lideres fortes, Jorge Costa foi o maior de todos.
Por Nuno Félix