No futebol de elite, a dor nem sempre é visível. Luis Suárez, em ascensão no Sporting, afirmou recentemente numa entrevista: “Passei por uma depressão… Nem conseguia sair da cama”, acrescentando de seguida que, com trabalho e ajuda de psicólogos, reconstruiu-se e hoje “aproveita ao máximo” o jogo, e mais, que ter "batido no fundo" fez dele um atleta mais empenhado e competitivo.
Na verdade há padrões que se repetem. Paul Pogba admitiu ter vivido depressão “por várias vezes”, lembrando que o dinheiro não imuniza ninguém e que o isolamento é um sinal ignorado demasiadas vezes. Andrés Iniesta descreveu o vazio que o assolou após a morte do amigo Dani Jarque e como precisou de ajuda para se reencontrar.
E podemos até apontar uexemplos de como a saúde mental dos jogadores impacta no sucesso colectivo. Quando tanta gente se pergunta porque é que o Tottenham Hotpurs não ganhou nada com tantos e tão bons jogadores e treinadores que passaram pelo clube, porventura aqui está a resposta. Vários ex jogadores do clube expuseram recentemente os seus problemas de natureza mental. Dele Alli falou dos traumas de infância, do vício em comprimidos e de semanas em clínicas de recuperação. Danny Rose também revelou a sua depressão após lesão prolongada e vários episódios familiares mais marcantes, ao ponto de o clube o mandar fazer exames psicológicos antes de o contratar. Aaron Lennon foi internado por doença relacionada com stress e descreveu a importância de pedir ajuda.
E a doença mental chega até aos gigantes! Gianluigi Buffon contou ter sofrido ataques de pânico no início da carreira e uma espiral depressiva que o obrigou a necessitar de fazer vários micro-afastamentos da competição. Bojan Krkic, confessou que sofreu de crises de ansiedade pela pressão de ser apontado como o “novo Messi” e como a terapia lhe devolveu ferramentas para lidar com a exposição à pressão do público e dos media.
Mas nem todas as histórias acabam bem. Robert Enke, com quem me cruzei à época no Hannover 96 em 2009, não resistiu à doença. Jogador de selecção, foi um choque que empurrou o futebol alemão a falar muito mais de saúde mental.
O que aprendemos?
Que rendimento sustentável nasce de ambientes que normalizam pedir ajuda: psicólogos integrados no dia a dia, formação para treinadores e dirigentes, confidencialidade real, planos de regresso pós-lesão que incluam a cabeça.
Os exemplos de Suárez, Iniesta, Buffon — e de tantos outros — mostra que falar cura! E que o golo mais difícil continua a ser este: transformar fragilidade em força para que a mente continue a jogar por nós e não contra nós.