Nuno Félix
Nuno Félix Scout internacional

Mourinho, Dahl e o coração benfiquista

Quando José Mourinho confessou no final da partida que lhe "doía o coração" por ter sido do Samuel Dahl o erro que ditou o destino do jogo, disse também que o lateral havia feito uma excelente exibição e que mais uma vez o futebol não foi justo com quem mais o merecia. Efectivamente o Benfica não merecia ter perdido o jogo de ontem, e muito menos em consequência de um erro daquele que estava a ser um dos melhores jogadores encarnados em campo. 
Dahl, com 21 anos, que foi titular na derrota caseira frente ao Bayer Leverkusen, cometeu o deslize que deu o golo para os alemães mas Mourinho não perdeu tempo em reforçar a confiança do jovem sueco, porque o treinador sabe exatamente o que tem em mãos.
É precisamente nesta dualidade (qualidade e rendimento no momento presente e margem de progressão) que Dahl se perfila como legítimo herdeiro de Álex Grimaldo na lateral-esquerda do Benfica. Aos 21 anos, Dahl revela-se mais maduro, com melhor leitura de jogo e processo decisório mais afinado do que Grimaldo apresentava nessa idade.

Com uma compleição física semelhante à do sueco, Grimaldo, claro, teve uma carreira brilhante no Benfica como lateral esquerdo no Benfica com os mais diversos sistemas táticos e treinadores para ao dia de hoje evoluir como médio interior ofensivo na Alemanha. O que vejo em Dahl é exatamente isso mesmo, reúne todos os ingredientes para trilhar caminho parecido: a capacidade física, o sentido de posicionamento, a colocação de bola, a facilidade nos movimentos interiores, a condução de bola, o remate nas ocasiões que lhe cabem — tudo aponta para evolução futura da ala esquerda para uma zona mais interior, e mais próxima da área adversária.
Mourinho, que não distribui elogios levianamente, coloca nele confiança plena. Dahl não é apenas uma peça de rotação: é um projecto, é aposta de presente e de futuro, e simboliza a renovação que o Benfica ambiciona.

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O erro frente ao Leverkusen dói, mas faz parte. Faz parte do crescimento. O verdadeiro mérito está na recuperação, na consistência, na forma como se levanta, aprende e volta melhor. E também, claro está, no olhar atento de benfiquistas e técnicos que acreditam que ali, naquela faixa esquerda, há um novo protagonista a ganhar dimensão quer no plano individual, quer na influência no coletivo benfiquista.
Dahl, entre aplausos e dúvidas, está a dar resposta e José Mourinho percebeu. Agora só resta ao coração benfiquista ter a capacidade para sofrer pelas dores de crescimento deste jogador. Estou certo, Dahl irá retribuir com muitas alegrias.

Por Nuno Félix
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