Nuno Félix
Nuno Félix Scout internacional

O melhor treinador da Liga não tem curso... nem vai ter!

O dedo do treinador vê-se quando do pouco faz muito, e nem tanto quando renova títulos com o campeão ou ganha jogos com o plantel mais valioso.

João Pereira, treinador do Casa Pia, tem 33 anos, vitórias sobre o SL Benfica e SC de Braga e ideias próprias, trouxe modernidade e seriedade ao jogo do Casa Pia. Um caso claro de competência com consistência precoce no futebol português.

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Pois bem, quando deveríamos estar a promover este talento do treino como tantas vezes fazemos com outros, eis senão quando João Pereira esbarra no muro invisível da injusta prepotência corporativista do "sistema do futebol português".

Aquele que foi, na minha opinião, o melhor treinador desta temporada, não consegue aceder ao curso UEFA Pro, obrigatório para treinar fora de Portugal e em competições de primeiro plano.

Este não é um caso isolado, é um sintoma da disfuncionalidade do sistema. A formação de treinadores em Portugal, regulada pela FPF e gerida pela ANTF, tornou-se um circuito fechado, sem critérios transparentes, onde o mérito conta pouco e os “contactos” contam tudo.

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A situação de João é paradigmática: recusou ir para a Escócia tirar o curso, acreditando que um país que forma treinadores campeões da Europa daria oportunidades aos seus melhores talentos. Estava enganado. Já perdeu propostas do estrangeiro por não ter o curso. E continua à espera.

A formação de formadores no desporto profissional não pode continuar a ser gerida com critérios de exclusividade corporativa. Está na hora de o poder político agir. O desporto é política pública — e o acesso equitativo à formação deve ser garantido com regras claras, fiscalização independente e critérios de admissão objetivos.

A perpetuação deste modelo elitista não apenas bloqueia carreiras — empobrece o futebol nacional. Exclui talentos. Mata oportunidades. E mina o princípio constitucional da igualdade.

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O Parlamento e o Governo têm de deixar de olhar para o futebol como um feudo intocável e assumir que o futuro do desporto português começa na transparência das suas estruturas. João Pereira não precisa de um favor. Só precisa que o deixem competir em pé de igualdade com os melhores, aos quais pertence por mérito próprio.

Por Nuno Félix
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