O Lyon foi despromovido à 2.ª divisão francesa. Não pelos resultados desportivos, nem por um castigo disciplinar. Foi o próprio sistema que disse: “-Assim, não jogas!”.
A DNCG - organismo que regula as contas dos clubes em França - olhou para os números, viu dívidas e promessas por cumprir e aplicou o que em Portugal não passaria de uma palmadinha nas costas: a descida de divisão por falta de saúde financeira.
Agora imaginem o Lyon a jogar por cá. Com os mesmos défices. Os mesmos desequilíbrios. E o mesmo dono — John Textor, empresário americano que chegou a mostrar interesse em comprar o... Benfica.
É caso para perguntar: se o Lyon jogasse na Liga Portugal, chamava-se Benfica?
O clube da Luz, tal como o seu vizinho da 2ª circular, e o FC Porto, dependem ano após ano de vendas milionárias para equilibrar as contas. Amiúde fecham exercícios negativos e só respiram financeiramente com presenças regulares na Champions e outros encaixes extraordinários. Nada que para a nossa Liga seja visto como um verdadeiro problema. E nada que a FPF, a Liga ou o Estado Português pareçam querer efectivamente regular e, consequentemente, punir.
Mas o caso não é novo. Vitória de Setúbal, União de Leiria, Naval, Beira-Mar, Olhanense, etc... durante anos competiram com salários em atraso, dívidas fiscais e garantias bancárias que não valiam o papel em que estavam escritas. Fora de tempo, todos acabaram por ver puxado o seu tapete, mas no entretanto o que podemos dizer sobre o Fairplay financeiro, e a verdade desportiva, dos campeonatos em que mesmo falidos estes clubes foram autorizados a competir?
Não é preciso ser-se um ROC certificado, ou sequer um contabilista para analisar as contas dos clubes da Liga Portugal, e constatar que muitos deles estão tecnicamente falidos.
O caso Lyon não é um escândalo, é uma lição!
Quando há transparência e autoridade, o futebol respeita as regras, e assim se protege a verdade desportiva. Quando não há, cada clube joga como pode... É o cada um por si, a vitória dos mais espertos, e no fim, perdemos todos. Perde a Liga Portugal em credibilidade e, sem ela, não há um produto de entretenimento desportivo de qualidade.
O que aconteceu em França só parece impensável em Portugal porque aqui o rigor financeiro é uma questão de conveniência. Diz-me quem és, dir-te-ei quanto deves.
A conveniência essa, sabemos bem, nunca ganhou competições internacionais, mas por cá, continua a dar para ir empurrando com a barriga.