Meia Maratona de Copenhaga: ambiente incrível para a segunda SuperHalf

Depois de ter feito a minha melhor Meia Maratona de sempre – calma, só corro desde março de 2018 – em Lisboa, a 12 de março, com o tempo de 1:24:05, venci a nova categoria na classificação da prova, dedicada em exclusivo a jornalistas, fotógrafos e repórteres de imagem. Na linha de partida, além de mim apresentaram-se apenas mais cinco participantes, 2 homens e 3 mulheres, tendo sido eu o menos lento pelo que tive a oportunidade de escolher uma entre as outras 4 Super Halfs que compõem o circuito. Acabei por optar por Copenhaga em detrimento de Valência, Cardiff ou Praga de forma a acompanhar uns amigos que integram o grupo com que costumo treinar. E lá fui eu desfrutar do prémio oferecido pelo Maratona Clube de Portugal, que me proporcionou uns dias fantásticos na capital dinamarquesa.

Contudo, senti na pele que nem tudo são rosas nesta vida de atleta mais amador entre os amadores e percebi melhor a tristeza que os profissionais sentem quando são obrigados a falhar uma grande competição. Sem vos querer maçar vou relatar de forma sucinta o que me aconteceu. Na semana da viagem, no treino de segunda-feira (dia 11), dei uma queda algo feia num passeio de cimento quando tinha feito 60 dos 90 minutos de corrida lenta que tinha no plano delineado pelo meu treinador, o incansável Prof. José Almeida. Regressei a pé para casa, a sangrar de vários pontos e lamentar a minha falta de sorte, sendo que o dedo grande do pé esquerdo ficou mal tratado. Ao longo do dia piorei, até porque tinha combinado ajudar a minha namorada a ir desmontar e transportar um sofá e nunca falto à minha palavra, e ao final da noite tive mesmo que ir ao hospital de Cascais. "Tem uma fissura mínima no dedo, mas para ficar bem tem de parar de correr por duas semanas", foi o diagnóstico do médico ortopedista que me atendeu nas urgências. Por sorte, também ele corre e após ouvir os meus argumentos lá me disse o que queria ouvir. "Percebo que queira ir a Copenhaga já que tem tudo marcado, mas olhe que vai sentir dores e pode agravar a lesão", disse, passando-me toda a responsabilidade.

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Nessa semana só voltei a correr 30 minutos lentos na quarta-feira (dia 13) e fiquei animado pois as dores foram suportáveis. Assim sendo, na sexta-feira (15) lá embarquei bem cedinho (7h20) rumo a Copenhaga com o dedo lesionado bem ligado e com esperança de poder fazer uma boa prova. Não conhecia a cidade e fiquei apaixonado por tudo, desde a beleza dos monumentos ao respeito extremo dos peões, condutores e ciclistas que abundam por aquelas paragens. Os canais em Nyhavn, o Palácio de Amalienborg, o Kastellet, a Igreja de St. Alban’s, a enorme Stroget (maior rua pedestre do mundo), a fábrica da Carlsberg e, claro, a Pequena Sereia foram paragens obrigatórias. Felizmente, a rede de metro é impecável (do melhor que já experimentei) e permite deslocarmo-nos rapidamente entre os vários locais, poupando estas pernas com quase 50 anos. Mesmo assim ainda palmilhei vários kms à descoberta nas vésperas da prova, algo que não se deve fazer mas não resisti.

Meia Maratona de Copenhaga: ambiente incrível para a segunda SuperHalf

Na sexta-feira, lá fui à Expo levantar o meu dorsal (número 3283), cumprir o ritual de encontrar o meu nome no mural dos participantes (desta vez foram cerca de 27 mil) e espreitar os produtos expostos. Achei os ténis caros pelo que comprei apenas umas meias para renovar o stock para os treinos. Já que falo de treinos, em Copenhaga limitei-me a fazer 9km lentos no sábado de manhã. Saí do meu hotel e fui ter com um dos meus amigos que estava hospedado mais perto da partida. No regresso ao meu hotel cruzei-me com vários corredores, sendo que um deles é amigo do Fábio Lima, um colega meu aqui no Record que partilha desta paixão pelas corridas, tendo tirado uma selfie com ele. O tempo continuava maravilhoso, ao contrário do meu pé que deu sinais preocupantes. E já não era o dedo o principal problema, mas sim o peito do pé junto ao calcanhar. Sábado à noite estava com algumas dificuldades em andar, o que me fez duvidar se seria capaz de terminar a prova. Então percebi que o objetivo de bater o meu RP estabelecido em Lisboa era missão quase impossível…

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Muito gelo depois e com vários Ben-u-ron 1000 no estômago lá chegou, finalmente, o dia da prova que é diferente desde logo pela hora tardia (11h15) da partida. Chegámos com antecedência para o ligeiro aquecimento, mas a enorme afluência de participantes e a falta de controlo no acesso aos blocos de partida (eu estava nos vermelhos com tempo estimado entre a 1:20 e a 1:30) complicou imenso a tarefa de me posicionar no bloco correto. Lá tive que saltar uma grade a escassos 5 minutos da partida para ficar mais perto dos pacers da 1:25 e pouco depois lá se ouviu o tiro. Demorei quase 1 minuto e meio a cruzar a linha de partida, após o que cumpri o ritual de me benzer, beijar a tatuagem da mão da minha filha e olhar para o céu para cumprimentar o meu pai. "Seja o que Deus quiser", pensei enquanto acenei às centenas de pessoas que estavam na reta da partida. Um prenúncio para o ambiente incrível que se vive ao longo de todo o trajeto.

Os primeiros 10km foram impecáveis pois consegui manter um ritmo vivo e passei com 40:30. Só que a minha prova acabou assim que passei no chip da dezena de quilómetros. De repente, uma dor fortíssima no peito do pé obrigou-me a abrandar pois a sensação era como se tivesse um prego espetado no pé. Sem qualquer exagero, terá sido o maior desconforto que senti desde que ando nisto das corridas. Se estivesse em Portugal a treinar tinha parado de imediato, sem hesitar. Só que estava em Copenhaga, a desfrutar de um prémio que tinha conquistado e tinha as minhas maiores fãs (a minha filha e a Paulinha) a seguir a prova através da app da prova. Não podia desistir. Tinha que chegar ao fimy, nem que fosse a andar. Aos 15km a média por km já tinha baixado de 4:04 para 4:24, mas cerrando os dentes lá consegui recuperar um pouco na parte final. Acelerei na reta da meta, onde me senti um atleta dado o apoio entusiasta de centenas e centenas de pessoas com badalos, bandeiras e buzinas. Tudo servia para puxar por quem se preparava para terminar a Meia Maratona. Só não gostei dos potes de fumo a meio do percurso pois perturbou a respiração e do facto de os abastecimentos serem em copo e não em garrafa (algo a que ainda não me habituei).

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Resta dizer que acabei com 1:28:37 (média de 4:12 por km) -- só um pouco mais do que os quenianos Ed Cheserek e Irine Cheptai, que venceram com 59:11 e 1:05:53 respetivamente -- o que ficou muito aquém do que tinha projectado e daquilo que estava ao meu alcance neste percurso fácil e propício a boas marcas. No entanto, estou grato por ter podido viver esta experiência fantástica e inesquecível. Agradeço ao meu treinador, o Prof. José Almeida, cuja experiência a definir os planos de treinos me permitiu atingir registos que nunca julguei possível. Obrigado também aos meus companheiros de treino, alguns dos quais me acompanharam nesta aventura por terras dinamarquesas. Por último, um agradecimento especial ao Maratona Clube de Portugal pela ideia de premiar o jornalista mais rápido em Lisboa com um pack aliciante. Calhou ser eu. Agora é recuperar da lesão no pé (ainda não voltei a correr desde Copenhaga) para tentar fazer a Maratona no dia 8 e apontar à próxima Meia de Lisboa, em março de 2024. Haja saúde.

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Por Nuno Miguel Ferreira
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