Praga é uma das mais belas cidades da Europa, atraindo anualmente milhões de turistas dos quatro cantos do mundo. E é também palco de algumas das mais importantes provas de atletismo do ano, todas elas organizadas pela RunCzech. A meia e a maratona da capital checa levam milhares de corredores à cidade, tal como a Birell 10K Race, uma prova corrida ao final do dia, em setembro, que costuma dar tempos bastante rápidos. Comum a todas essas provas está, como dissemos, a RunCzech, mas também o nome de Carlo Capalbo, diretor da organização e cérebro de tudo o que por ali se realiza. A começar pela própria maratona, que nasceu também com a ajuda de um dos maiores ícones do desporto mundial, o lendário Emil Zátopek. E de uma forma... peculiar.
"Há 30 anos, quando planeámos o primeiro percurso da Maratona de Praga, juntamente com dois ícones como o Emil Zátopek e o Gelindo Bordin, tínhamos grandes sonhos. Tínhamos a visão de unir as pessoas através de um evento de classe mundial que pudesse celebrar a corrida. Mas mesmo tendo essas altas expectativas, nunca poderia imaginar que a corrida cresceria ao ponto de ter um estatuto internacional como tem agora. Ver que aqueles planos iniciais, feitos num guardanapo, se tornaram realidade deixa-me orgulhoso, especialmente depois de 2019 e também pela próxima edição, a 30.ª. Esta jornada foi extraordinária e sinto-me muito grato por ter testemunhado o crescimento desta maratona até se tornar uma das mais populares a nível mundial", disse-nos.
E por falar no 30.º aniversário, Carlo Capalbo promete muitas novidades. "A edição do próximo ano será especial. Temos muitas surpresas planeadas, tanto para os corredores como para os espectadores. Não podemos revelar nada, mas podem esperar celebrações únicas, que irão prestar tributo à história da prova, isto enquanto projetamos o futuro".
Um futuro que passa também pelo contínuo crescimento do circuito SuperHalfs, do qual Praga, tal como Lisboa, é uma das provas fundadoras. "Estou muito satisfeito com o crescimento das SuperHalfs", assume, apontando aquilo que distingue este circuito dos demais: "É uma experiência que liga cidades e corredores pela Europa. Estou extremamente orgulhoso por este projeto ter nascido em Praga. E o feedback que temos dos participantes tem sido fantástico. O facto de termos mais de 60 mil corredores registados fala mais do que qualquer palavra que pssa dizer", assume, prometendo depois novidades para o futuro... ainda que não as possa revelar para já.
O balanço de 2024
Para lá de olhar para o futuro, em entrevista a Record o líder da RunCzech olhou ainda para o que foi alcançado em 2024, um ano que diz ter sido "memorável" e do qual se orgulha bastante. "Os obstáculos que enfrentámos, nomeadamente o clima cada vez mais imprevisível, tal como o impacto que tem nos eventos globais, não nos parou. As nossas corridas foram vibrantes e a comunidade da corrida continua a crescer".
Falando precisamente da meteorologia, Capalbo assume que o clima será um fator a pesar no futuro e diz ser importante encontrar formas de contornar a sua influência nos resultados e na experiência dos corredores. "É algo que temos de assumir como parte da mudança climática. Estamos cientes dos desafios que o aumentar das temperaturas nos traz, não apenas para as corridas, mas para a comunidade da corrida no seu todo. É uma preocupação, mas estamos a trabalhar em estratégias de adaptação, seja fazendo mudanças nos horários, nos percursos ou soluções inovadoras para garantir que as corridas são seguras e rápidas, algo com que nos preocupamos bastante".
Tempos rápidos é aquilo que quase todos procuram e, talvez por isso, um dos momentos que enaltece é mesmo o registo do vencedor da meia maratona deste ano (58:24, de Sabastian Sawe). "A sua incrível performance, com a melhor marca do ano [entretanto batida por outras 3, incluindo uma do próprio, em Copenhaga], deixa-me apenas a imaginar o que podia ter sido se não estivesse tão quente nesse dia. Talvez tivéssemos testemunhado um recorde mundial.... E isso mostra bem o calibre do talento que as nossas provas atraem, algo que nos alimenta a motivação para o que vem."
Tudo isto, alimenta uma ideia clara na mente do cérebro da RunCzech: o futuro é risonho. "A comunidade é resiliente e mais pessoas estão a começar a correr pela sua saúde e bem-estar. Há desafios, especialmente as alterações climáticas e a necessidade de sermos cada vez mais sustentáveis, mas acredito que esta modalidade continuará a prosperar. Estamos comprometidos em continuar a ser acessíveis, entusiasmantes e relevantes para as futuras gerações de corredores. Afinal de contas, 'All Runners Are Beautiful' (todos os corredores são bonitos). E é isso que representa a RunCzech na sua essência."
EuroHeroes, o outro projeto que orgulha
Além das SuperHalfs, a RunCzech está ainda envolvida num outro projeto inovador, este apenas em solo checo, que tem como propósito ajudar os corredores europeus a ter um espaço competitivo cada vez maior. O circuito EuroHeroes. E, tal como no caso das SuperHalfs, a sensação é de orgulho.
"É algo do qual falo com muita paixão. A missão deste projeto, que passa por enaltecer e cimentar o talento europeu, tem muito potencial. Acredito firmemente que o EuroHeroes continuará a crescer e deixará a sua marca no panorama do atletismo mundial nos próximos anos. Tem tudo a ver com o alimentar do talento local e dar aos atletas europeus o palco que merecem", explica, enaltecendo depois o exemplo de Sebastian Hendel, vencedor da edição deste ano, que recentemente foi o melhor alemão na sempre bastante competitiva Maratona de Berlim.
O circuito EuroHeroes, no qual este ano o português Hélio Gomes participou, é composto por quatro meias maratonas em solo checo (Karlovy Vary, Ceské Budejovice, Olomouc e Ústí nad Labem), coroando todos os anos os atletas que melhor média de pontos obtiverem.