Treinadores e toureiros

Ser treinador profissional de futebol é ter uma vida de alto e intenso risco. É ter uma profissão solitária e estar sempre ‘na mira das espingardas’. É andar sempre com a casa às costas. É ter sempre de ‘domar os leões’ sem poder utilizar o chicote quando e como se quer. É ficar cedo com o cabelo grisalho tal o corrupio de emoções, preocupações, pressão e um sem número de arritmias. É passar noites sem dormir. A ver jogos e mais jogos no computador ou pela televisão. Analisar jogadores. Estudar os adversários. É estar sempre a viajar e a dizer adeus aos filhos. É não podê-los levar e trazer ao colégio as vezes que gostaríamos. E adiar os beijos de boa noite. É não poder passar muito tempo com a nossa mulher, já que o tempo livre é pouco e escasseia para o que nos dá prazer. É dormir muitas vezes sozinho, sem sentir o calor que gostaríamos de sentir no aconchego dos lençóis.

É ‘levar’ com aqueles dirigentes que dizem saber muito de futebol, pois vêem o jogo há muitos anos. E a tentarem dar sempre palpites e fazer sugestões para o ‘team’. É a mesma coisa que dizer, que, pelo facto de irmos muitos anos ao cinema, temos capacidade para realizar um filme, qual Tarantino, Polanski, Orson Wells ou outro qualquer fazedor de magia.

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É viver sempre a 200 à hora. Contra tudo e contra todos. Pois só o primeiro ergue a taça e tem direito ao prémio de objectivos contemplado no contrato.

Poderia acrescentar mais um sem número de motivos e factos para que quem tem o hábito e faz o favor de ler estas simples histórias pudesse chegar a esta conclusão: "Coitados dos treinadores. Esta é uma profissão ‘lixada’! Nem tempo têm para viver a sua vida. E a colocarem a saúde em jogo."

No entanto, esta conclusão é ilusória. Pois não corresponde ao que se passa nos meandros do futebol. E porquê? Porque cada vez há mais treinadores. Mais aspirantes a treinadores. Mais pseudo-treinadores que põem para trás das costas tudo o que referi, procurando o sucesso, a fortuna, o reconhecimento, as primeiras páginas dos jornais, o acesso à ‘sociedade’ e a algumas ‘loiraças’, aos contratos publicitários e afins, à fama e muito mais. Só que aqueles que procuram e têm como único e principal objectivo obter estas benesses, nunca as atingirão e passarão, tipo ‘meteoritos’, por esta profissão.

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Um verdadeiro treinador tem de ter paixão pelo que faz e, acima de tudo, amar o jogo e tudo o que está à sua volta. É por isso que o Zé Mourinho, o Guardiola, o Marco Silva, o Jardim, o Klopp, o Conte, o Luís Henrique, o Rui Vitória – que em 2003 estava a treinar o meu União Vilafranquense, contratando-o eu em 2004 para os juniores do SLB – o Zé Peseiro, o Bento e muitos outros, andam por aí, fazendo carreira e sucesso.

E, tal como os toureiros, cujo culto de morte sublime será na praça, também os verdadeiros e genuínos treinadores de futebol, por amor à sua ‘arte’, aspiram no seu íntimo abrir um telejornal, com a notícia de que ‘passaram para o outro lado’, com um enfarte fulminante, quando aos 90’+5 minutos de jogo, numa final da Champions, o seu avançado faz o golo da vitória em tão prestigiante e gigantesco acontecimento mundial. Em direto, ao vivo e a cores. Será? Ou estarei aqui a divagar?

Por António Carraça
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