Em entrevista à CMTV, Martim Mayer comentou a chegada de José Mourinho ao comando técnico do Benfica e se a mesma foi uma jogada eleitoralista e abordou também o bónus dado pela direção de Rui Costa aos funcionários, que o atual presidente garante não estar relacionado com as eleições do próximo mês. De resto, ainda na resposta sobre José Mourinho deixa críticas a Noronha Lopes... por causa de Ruben Amorim.
A contratação de José Mourinho foi uma boa cartada de Rui Costa, mesmo que não seja eleitoralista?
"Acho que face ao momento, aos resultados e à pressão que existia, justificou-se a tomada de decisão da saída de Lage e da contratação de outro treinador. José Mourinho é um treinador com grandes credenciais, agora tem de provar. Agora vamos ver outra perspetiva: isto acontece a 30 dias das eleições. É muito importante a componente financeira da contratação de José Mourinho. Pedi ao Rui Costa, em vários assuntos, e mesmo relativamente aos direitos televisivos, que não hipotecasse o futuro do Benfica e tomasse decisões tendo em consideração a data de fim do seu mandato, e em relação à contratação de José Mourinho continuam a não se conhecer ao detalhe as cláusulas que estão em causa. Acho que poderia ter sido feito de melhor maneira. Acho interessante verificar uma coisa em que não me revejo, que é: vários candidatos ficaram vazios. Trouxeram instabilidade para a equipa trazendo rumores sobre treinadores que estão em Inglaterra. E foram para a bancada, foram falar sobre Ruben Amorim, e ficaram a falar sozinhos. Não gosto dessa atuação. Aquilo que eu faço é cuidar da estabilidade no Benfica. Fui atleta de alta competição. A componente psicológica dos jogadores é importantíssima. Quem cria instabilidade vinda de fora tem responsabilidade, por exemplo no jogo contra o Qarabag. Não se pode ilibar dessa responsabilidade. E isso é o que os sócios devem perceber. Quais as agendas que estão por trás, quem protege o clube em todas as situações e quem está à procura de saltar para o poleiro do poder. Os sócios não são estúpidos. Quem quer saltar para o poleiro do poder? Alguém que causa esta instabilidade e que, a seguir, ainda tenta condicionar o presidente do Benfica dizendo que está tão próximo das eleições e tem de colocar um interino, quando no fundo, se calhar, quer é meter o clube em desgraça. Eu quero que o Benfica ganhe sempre. Faltavam sete jogos e o presidente do Benfica estava totalmente habilitado a tomar a decisão. Estou a referir-me diretamente a João Noronha Lopes. Revelou-se aí. Noutras coisas é mais sonso, aí revelou-se e ficou à vista de todos".
Rui Costa garantiu que o bónus aos funcionários não está relacionado com as eleições...
"Três perspetivas da coisa: não tenho dúvida nenhuma de que o Benfica tem ótimos colaboradores. Se recebem bónus, é certamente merecido. Os resultados, do ponto de vista financeiro, permitem ao presidente tomar esta decisão. Se me perguntarem, a um mês das eleições, se é inocente? Até um cego vê... Acho que não é preciso desenvolver muito. Se está a tentar comprar os sócios? Está a tentar passar-lhes a mão pelo pelo...".
"Do ponto de vista das receitas recorrentes, o Benfica tem um défice de 70 milhões de euros por ano. Se não vender jogadores, todas as épocas faltam 70 milhões. Isto, em quatro anos, representa 280 milhões de euros. É preciso ter algum cuidado. Um fecho de ano é uma fotografia, quatro anos são um filme. Quanto maior a observação, quanto maior o tempo, mais evidentes ficam as fragilidades e os pontos fortes de uma determinada instituição financeira. E o Benfica está frágil, não haja dúvidas. Perguntavam como é que vou resolver isto. Do lado dos custos, Kaizen, 162 milhões de euros. Consegue-se ir buscar 20% em eficiência com motivação dos trabalhadores. Baixa para metade. O projeto Benfica Global, em Angola e Moçambique, vamos buscar ao fim do segundo ano 15 milhões de dólares a cada país. Mais o envolvimento das comunidades benfiquistas destes países, que são grandes âncoras do benfiquismo. Três, em relação a todo o merchandising, o match day, a bilhética. Há muita coisa a fazer. E no fim, a cereja no topo do bolo, resolver 23 mil sócios que querem ver os jogos e não conseguem... Com o projeto que já apresentei, sobe 15 mil lugares. Vamos buscar, desde o fim de obra que demorará 24 a 36 meses, mais 15 milhões de euros por ano com financiamento próprio".
Não tomaria esta medida [a de dar um bónus aos funcionários] na posição de Rui Costa?
"Eu acharia bonito fazê-lo, acho que é uma excelente ideia. Mas se estivesse no lugar de Rui Costa? Preocupar-me-ia a situação financeira estável do Benfica e explicaria às pessoas que estávamos a recuperar prejuízos do passado e que ainda não havia espaço para isso. Era o que eu começaria por dizer. Se as contas foram bem chumbadas? Acho que o exercício foi bom e que devia ter sido aprovado. Do ponto de vista do mandato de quatro anos, o consolidado é frágil, é mau. Porque dependemos da venda do João Neves, da venda de talento, para tapar 70 M€ de buraco que não vem das receitas recorrentes, temos mais custos do que receitas. Sem a venda dos jogadores. Quando assim é, e como não é isso que queremos, e quando andamos atrás do prejuízo porque não temos tesouraria nem responsabilidade económica, então o clube não vive equilibrado. Não toma as melhores decisões desportivas e depois não ganha. Não queremos ganhar dinheiro, queremos é ganhar títulos. Têm é de se criar as condições financeiras para se conseguir ganhar os títulos".
Por Record