O monstro sagrado do futebol português

O monstro sagrado do futebol português
• Foto: PEDRO SÁ DA BANDEIRA

Não precisava da braçadeira para mandar ou de elevar a voz para se ouvir – era, ele próprio, a imagem de liderança e autoridade. Exercia no centro de operações do jogo, com a entrega de quem sempre viveu o futebol com seriedade e o talento adequado a um dos melhores centro-campistas mundiais de todos os tempos.

Sendo marechal em pleno campo de batalha, Mário Esteves Coluna manteve pela vida fora o sorriso tímido e a expressão nostálgica que remetia para a Lourenço Marques (hoje Maputo) dos seus amores, característica que fez dele uma figura simpática e reconhecida muito para lá da cor da camisola. O seu futebol tinha a grandeza de um estilo comprometido, de uma atitude ditatorial em relação aos acontecimentos e de qualidades raras do ponto de vista técnico, tático e físico. Senhor de abrangência territorial sem limites geográficos, decidia sempre em função dos interesses da equipa.

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Coluna, que lançou a carreira como avançado, tornou-se num dos mais sublimes administradores futebolísticos de sempre. Por intuição, mas também por conhecimento adquirido, sabia quando devia jogar curto ou longo; a um/dois toques ou entregar-se à condução da bola; a dobrar companheiros ou a atacar a baliza contrária.

Um dia, para sintetizar tanta a grandeza, chamaram-lhe Monstro Sagrado. É isso mesmo que será para sempre.

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Moçambique

Nasceu no mesmo bairro de Matateu e Vicente Lucas, o Alto do Mahé, e depois de uma paixão adolescente pelo boxe dedicou-se ao futebol, iniciando- se aos 15 anos num modesto clube da capital moçambicana, o João Albasini.

Depois de alguma indefinição, e por influência do pai, acabou no Desportivo de Lourenço Marques, filial do Benfica. Tinha 17 anos quando se estreou na equipa principal, sob comando de Carlos Mesquita, antigo jogador do FC Porto, que quis encaminhá-lo para as Antas. O Sporting apareceu depois com proposta melhorada mas acabou por ser o Benfica a vencer a corrida.

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Benfica

Coluna chegou a Lisboa a 22 de agosto de 1954. Demorou um pouco a ambientar-se ao futebol e às exigências maiores do profissionalismo que Otto Glória introduziu, mas soube resistir ao choque. Nas duas primeiras temporadas atuou mais próximo da baliza mas, face ao futebol exibido, recuou no terreno e alterou as funções que exercia.

Numa digressão ao Brasil, a imprensa local chamou-lhe o Didi português, algo que, nos anos 50, constituía grandioso elogio. A sua vida mudaria a 25 de agosto de 1959, quando Bela Guttmann entrou no Estádio da Luz.

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Auge e fim

Na década seguinte, Coluna atingiu o ponto mais alto da carreira. Foi bicampeão europeu, esteve em mais três finais da Taça dos Campeões e foi ele a capitanear os magriços, dada a condição de suplente de Germano.

A 27 de setembro de 1967 viveu a que sempre considerou a maior honra como jogador: capitanear, no Bernabéu, a seleção mundial que esteve na festa de homenagem ao mito das balizas que foi Ricardo Zamora.

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A meio de 1969/70, depois da saída de Otto Glória, Coluna foi dispensado pelo novo treinador, o seu antigo companheiro José Augusto, que iniciou um processo de renovação da equipa. Levou anos a aceitar esse momento. A verdade é que foi em Lyon, com 35 anos, que se despediu do futebol.

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