André Villas-Boas foi um dos participantes do QSP Summit, esta quinta-feira, e, no final, respondeu a várias questões sobre o universo FC Porto. Pese embora mantenha ainda em aberto a possível candidatura à presidência do clube, o técnico deu o seu ponto de vista sobre várias questões, não escondendo que há temas que o preocupam.
"Nos últimos anos tivemos uma gestão desportiva desenquadrada das realidades financeiras do clube. E que muito sucesso nos trouxe, fruto de uma pessoa capaz de encarar todos os valores e princípios do FC Porto, e com uma capacidade de exigência e intransigência invulgares. A verdade é que a situação económica do FC Porto está cada vez pior há muitos anos. O futebol tem este sucesso desportivo e sucesso financeiro… O que é sucesso no futebol? São os títulos? É a sustentabilidade do FC Porto enquanto clube de associados para o longo termo? Que é o que os adeptos querem sentir e a confiança que querem ter. Ultimamente falamos muito na entrada de capital estrangeiro nas SAD e começámos já a tocar nessa entrada nos três grandes clubes nacionais. A entrada de capital estrangeiro nos três grandes não se pode traduzir apenas como sucesso e passo de futuro, tem de se traduzir também como falência das gestões anteriores. Os clubes portugueses têm um passivo acumulado absurdo, permanentemente no limbo… E o vender parte do capital a estrangeiros não pode ser visto como um passo para a modernidade", apontou, abordando depois a situação económica do FC Porto, que corre o risco de fechar as contas de 2022/23 no vermelho.
"Contas? É algo a que só o presidente e o seu Conselho de Administração pode responder. Certamente já pensaram em todos os efeitos nefastos que um novo incumprimento financeiro pode ter, para a sustentabilidade do clube, até porque o fair play financeiro também está em transformação dinâmica. Nós elegemos a direção para tomar os melhores passos, portanto tenho quase a certeza absoluta que já foram estudados todos os cenários. O gestor financeiro colocou um cenário de uma necessidade de venda absoluta, o presidente, embora não o tenha dito publicamente, mas pelo que se viu na comunicação social, terá passado uma ideia contrária. Vamos ver. O mercado está aberto e muitas coisas podem acontecer", considerou.
Voltando ao tema das eleições, Villas-Boas foi confrontado com as suas declarações de há uns anos em que afirmou que não concorreria contra Pinto da Costa. "Isso foi em 2020, quando assinei o livro da candidatura de Jorge Nuno Pinto da Costa, assinei-o com o Dr. Rui Moreira como números 1. E assinei com muito gosto, consideração e sentido de pertença para essas eleições de 2020, as eleições em que ele teve talvez mais rivais, onde sentiu mais a proximidade de um voto silencioso que começa a crescer. Quando fiz essa declaração, o presidente fez outra… Em que possivelmente não se recandidataria se eu avançasse para a presidência do FC Porto, pois via em mim as capacidades e características pessoais, de personalidade, de adepto e de sócio do FC Porto necessárias para uma função desta importância. Portanto, estamos aqui em duas verdades ou duas inverdades… ou apenas duas pessoas que podem fazer algo que disseram que não iam fazer. Vamos ver. Acho que nesta fase não posso adiantar muito mais além do que é a minha evolução contínua", referiu.
Por fim, André Villas-Boas fez ainda uma reflexão sobre o futebol atual. "Temos clubes-estado, os qataris, sauditas, americanos… Porque é que não há uma associação de clubes europeia de clubes que ainda permanecem no associativismo? E permanecem nesses fundamentos? Será que esses conseguem resistir? Temos o Barcelona num caos financeiro, o Real Madrid vive porque é uma máquina de ganhar, de lucro, de competição… É uma altura sensível para o futebol, está tudo em equação. Os quadros competitivos portugueses poderão ter de ser reformulados fruto da centralização dos direitos televisivos; a Champions vai ser reformatada; a liga saudita está a mexer com todos os mercados… Portanto, que impactos? Que respostas? Como é que os clubes portugueses se colocam perante isso? Que capacidade de resposta têm? E como combatem os clubes cadeia que só vendem ativos entre eles? É uma altura muito sensível em que a discussão aberta era necessária entre todos os stake holders do futebol português… Já perdemos um lugar no ranking para os holandeses, quanto temos vamos demorar a recuperá-lo?", concluiu.
Por José Miguel Machado