António Caldas faz os comentários para a Next nos jogos do Sp. Braga. O antigo guarda-redes e treinador, agora com 61 anos, viveu uma experiência "nunca vista", dizendo-se perplexo pelo facto de ter visto Hugo Viana invadir o camarote onde estava e com a "ideia evidente de partir para a agressão".
"Nem sequer quero que ele me peça desculpa, mas peço que ele meta a mão na consciência, pois não pode voltar a fazer o que fez", registou a Record António Caldas, aceitando pormenorizar tudo o que se passou: "Aceito aquela descarga final do Rúben Amorim e de todos os que estava no camarote no final do jogo. É natural, pois venceram um jogo tremendamente difícil e que pode até ser decisivo na questão do título, mas muito provavelmente o Hugo Viana já deve estar arrependido do que fez ao intervalo".
Mas o que se passou ao intervalo? "O Hugo Viana veio mesmo para ‘cima de mim’… Eu é que lhe coloquei a mão no peito e disse: o que se passa Hugo? Estás bem? Foi nessa altura que ele me deve ter reconhecido e parou, mas nem disse mais nada. Ficou boquiaberto a olhar para mim…"
O que levou Hugo Viana a ter essa reação: "Ainda na primeira parte, eu disse num lance que o árbitro marcou falta para o Sporting e que tinha sido ‘no grito’, pois todo o banco se levantou a pedir falta. Aí o Rúben Amorim virou-se para mim e disse: ‘Cala a boca pá, cala a boca…’ Eu reagi e disse: ‘Cala a boca porquê, não posso falar agora queres ver?’ E nesse momento levantou-se alguém, na altura nem percebei que era o Hugo Viana, e começou a chamar-me de tudo. Enfim, eles estavam mesmo muito nervosos e completamente descontrolados. Não percebi e fiquei estupefacto com aquela reação, porque conheço ambos e não esperava uma reação daquelas".
Hugo Viana chegou a agredi-lo? "Não, isso não aconteceu. Entrou de rompante no camarote e vinha com essa intenção, mas lá está, deve ter-me reconhecido e se calhar pensou melhor no que queria fazer. Veio só tirar satisfações comigo. Provavelmente reconheceu-me depois e caiu-lhe a ficha. Não houve agressão. Conheço o Hugo Viana há muitos anos, mas não conheci essa mesma pessoa. Estava completamente fora de si, transtornado e perdido. Tenho pena do que se passou, até porque o Hugo Viana também me conhece bem e sabe que sou pessoa de bem, geralmente sou muito calmo e nunca pensei estar envolvido numa situação destas."
E Rúben Amorim também o conhece? "Claro que sim, então ele não foi treinador do Sp. Braga? Até parece que não, mas ele fez questão de dizer aos berros ‘fui eu que vos dei uma Taça da Liga’. Ele também me conhece perfeitamente, mas estavam os dois descontrolados. Quando Hugo Viana veio ter comigo e invadiu o camarote da Next, perguntei o que é que se passava com ele, nem sabia que do outro lado estava o Hugo. Era uma pessoa violenta, ameaçadora a dizer que vinha ter comigo, completamente fora de si, a simular que vinha ter comigo e a tentar saltar os camarotes quando se deu a discussão na primeira parte."
Como analisa todo este comportamento? "Só o entendo pelo cariz decisivo do jogo e pelo facto do Sporting vir de um empate em casa. Estavam nervosos e muito descontrolados e aceito tudo menos o facto de tentarem partir para a agressão. Tiveram um mau comportamento e se calhar já devem estar arrependidos. Inclusivamente no momento do golo, com pontapés nas cadeiras, na vedação entre os camarotes, virados para o nosso lado e julgo que até para mim e com mais ameaças. Enfim, presumo que tenha sido apenas um descarregar de toda uma pressão que estavam a sentir...
Alguém lhe pediu desculpa no fim pelo que aconteceu? "Não pediram e nem quero isso. Eles não estavam nos melhores dias e nem tinham condições para pedir desculpa a ninguém, essa é que é a verdade. Estavam mesmo muito descontrolados. Não preciso que me peçam desculpa, era o que mais faltava. Tenho muita pena e até disse a um amigo meu do futebol que quando o Hugo passava por mim dizia sempre: 'Mister, como é que está? Está tudo bem?'. Das poucas vezes que passou por mim, sempre o respeitei e admirei como pessoa. Quando o vi a invadir o camarote da Next e parecia que me queria bater fiquei sem reação. Encostou-se a mim. Teve tudo para me agredir. E se veio ao meu camarote era para me agredir. A chamar-me de boneco e cobarde…"
Alguém ligado ao Sp. Braga chegou a apresentar uma queixa formal? "Os responsáveis da Next chamaram a polícia e quiseram que eu participasse. Mas eu disse logo que por mim passava tudo. Depois no momento do golo, veio uma descarga da parte deles como se eu tivesse culpa de alguma coisa. O Rúben Amorim até chegou a dizer que o Hugo Viana fez muito mais que eu pelo clube. Mas o que é que isso tem a ver com o assunto? Eles cuspiram no prato que comeram. Estragaram tudo. Fiquei muito desiludido com o comportamento dos dois, mas principalmente do Hugo Viana, um rapaz que aprendi a respeitar, grande jogador, pessoa humilde… Aquelas coisinhas com o Rúben Amorim acabam por ser normais, com bitaites para aqui e para ali. Desvalorizo isso, pois faz parte do futebol. Agora o Hugo vir ao nosso camarote, entrar e tirar satisfações comigo e chamar-me cobarde e boneco do outro lado, quando ele sabia com quem estava a falar? Ele não estava a falar com um adepto. Ele é um responsável do Sporting. É essa a minha grande desilusão. A discussão começou toda antes do intervalo e ele disse-me: ‘Ó grande cobarde vou ver se ao intervalo tens coragem de vir aqui ter comigo’. E como não fui eu ter com ele, fiquei no meu lugar tranquilo da vida, veio ele ter comigo e foi o que se passou. Esta é a mais pura das verdades!"