França: Uma parceira implacável

França: Uma parceira implacável
• Foto: EPA

A contabilidade fala por si. Se há adversários com os quais o saldo da Seleção Nacional é negativo, a França é um deles. É mesmo um dos piores, daqueles em que o deve e haver não oferece dúvidas: 22 jogos, cinco vitórias, um empate e 16 derrotas. O último êxito aconteceu em abril de 1975, em Paris, com golos de Nené e Marinho; desde então, isto é, num lapso temporal de quase quarenta anos, disputaram-se oito partidas, marcadas por oito derrotas nacionais, três das quais absolutamente traumáticas: afastamento das finais dos Europeus de 1984 e 2000 (ambos no prolongamento), e da final do Mundial de 2006. Foram esses os únicos embates oficiais até agora.

A França é uma velha parceira de caminhada. Foi a 18 de abril de 1926 que Portugal se cruzou pela primeira vez com uma potência absolutamente implacável para os interesses nacionais. Ao nono jogo de sempre, a Seleção cruzou-se com os gauleses e a história começou mal: derrota por 2-4. De resto, até às duas vitórias consecutivas, em 1973 e 1975, a regra foi ceder à superioridade adversária. Para trás ficaram dois triunfos que dimensionaram a imagem heroica do malogrado Pepe e outro, já na segunda metade dos anos 40, sob o signo do grande goleador que foi Peyroteo e de um enorme Belenenses que, mês e meio depois dessa vitória no Jamor, conquistaria o título nacional.

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Na década de 70, Portugal aliviou o peso do balanço negativo. Primeiro no Parque dos Príncipes, com uma vitória por 2-1 (dois golos de Eusébio), depois no Estádio Colombes, a Seleção obteve dois triunfos que, feitas as contas, significaram pouco e tiveram nulas consequências para o futuro. Mais tarde, a 25 de abril de 2001, os franceses voltaram a ser impiedosos: venceram por 4-0, num jogo cuja consequência mais relevante foi a troca de Quim por Ricardo para o resto da qualificação rumo ao Mundial’2002.

AS 4 DERROTAS MAIS PENOSAS

Euro’84 - 23/6/1984

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Portugal-França 2-3, a.p.

Estádio: Velodrome (Marselha)

Árbitro: P. Bergamo (Itália)

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PORTUGAL: Bento; João Pinto, Lima Pereira, Eurico Gomes e Álvaro; Frasco, Sousa (Nené), Jaime Pacheco e Chalana; Diamantino (Fernando Gomes) e Jordão (Sporting)

Selecionador: Fernando Cabrita

Marcadores: 1-0 por Domergue (24’); 1-1 por Jordão (74’); 1-2 por Jordão (98’); 2-2 por Domergue (115’); 3-2 por Platini (119’)

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Portugal chegava pela segunda vez à meia-final de uma grande competição. Quando Rui Jordão, a passe de Fernando Chalana, empatou o jogo aos 74 minutos, o Velodrome tremeu. E pior ficou quando, já no prolongamento, os mesmos cúmplices fabricaram o 2-1 para Portugal. Nos últimos cinco minutos, Platini e companhia deram a volta ao texto, perante um adversário já sem forças.

Euro’2000 - 28/6/2000

Portugal-França 1-2, a.p.

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Estádio: Rei Balduíno (Bruxelas)

Árbitro: G. Benko (Áustria)

PORTUGAL: Vítor Baía; Abel Xavier, Fernando Couto, Jorge Costa e Dimas (Rui Jorge); Vidigal (Paulo Bento) e Costinha; Sérgio Conceição, Rui Costa (João Vieira Pinto) e Luís Figo; Nuno Gomes

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Selecionador: Humberto Coelho

Marcadores: 1-0 por Nuno Gomes (17’); 1-1 por Henry (51’); 1-2 por Zidane (117’, g.p.)

Dezasseis anos depois da meia-final de Marselha, Portugal e França reencontraram-se no Euro’2000. O jogo foi marcado pela polémica de um penálti por mão de Abel Xavier. O árbitro Benko indicou canto, o auxiliar Sramka não se cansou de repetir a palavra-chave: “Penálti!” A decisão penalizou Portugal, porque Zidane não desperdiçou e deu à França a final e a conquista do título europeu.

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Particular - 25/4/2001

França-Portugal 4-0

Estádio: Parque dos Príncipes (Paris)

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Árbitro: H. Krug (Alemanha)

PORTUGAL: Quim; Abel Xavier (Hélder), Fernando Couto, Jorge Andrade e Nélson; Rui Bento (Simão), Fernando Meira e Rui Jorge (Boa Morte) (Nuno Gomes); Luís Figo, Pauleta e Sérgio Conceição

Selecionador: António Oliveira

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Marcadores: 1-0 por Wiltord (17’); 2-0 por Silvestre (32’); 3-0 por Henry (34’); 4-0 por Djorkaeff (80’).

A França, campeã europeia e mundial em título, não teve dificuldades em construir uma goleada por números que Portugal não conhecia desde 1983. António Oliveira teve de conformar-se com a esmagadora superioridade alheia. O jogo teve uma consequência: Quim, titular até então, seria substituído por Ricardo no jogo seguinte, frente à República da Irlanda.

Miundial’2006 - 5/7/2006

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Portugal-França 0-1

Estádio: Allianz Arena (Munique)

Árbitro: Jorge Larrionda (Uruguai)

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PORTUGAL: Ricardo; Miguel (Paulo Ferreira), Fernando Meira, Ricardo Carvalho e Nuno Valente; Costinha (Hélder Postiga), Maniche e Deco; Figo, Pauleta (Simão) e Cristiano Ronaldo.

Selecionador: Luiz Felipe Scolari

Marcadores: 0-1 por Zidane (33’, g. p.)

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Ricardo fora o herói dos quartos-de-final, ao defender três pontapés da marca de grande penalidade frente à Inglaterra. Essa foi a esperança automática de milhões de portugueses, quando o uruguaio Jorge Larrionda sancionou falta de Ricardo Carvalho sobre Henry, assinalando o correspondente penálti – o lance não foi suficientemente claro para evitar a polémica. Mas Zidane fez o que lhe competia: o golo. Desta vez, ao contrário do que sucedera em Bruxelas, ainda havia tempo para retificar o golpe. A Seleção reagiu, teve até momentos de ascendente territorial, mas não intimidou verdadeiramente. E não conseguiu evitar uma nova derrota que lhe roubou o acesso à final.

AS 5 VITÓRIAS DE PORTUGAL

Particular - 16/3/1927

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Portugal-França 4-0

Estádio: Lumiar (Lisboa)

Árbitro: L. Collina (Espanha)

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PORTUGAL: Artur Camolas; António Pinho e Jorge Vieira; Raul Figueiredo, Augusto Silva e Varela (César de Matos); Liberto Santos, João Santos, Silva Marques, Pepe e José Manuel Martins

Selecionador: Cândido de Oliveira

Marcadores: 1-0 por José Manuel Martins (7’); 2-0 por Pepe (44’); 3-0 por José Manuel Martins (49’); 4-0 por Pepe (74’).

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O Estádio do Lumiar assistiu à segunda vitória da Seleção e a mais expressiva até aos 6-0 ao Luxemburgo, a 19 de março de 1961. José Manuel Soares, o eterno Pepe que o futebol português regista como um dos seus primeiros fenómenos, estreou-se na equipa nacional. Marcou logo dois golos e foi o herói da tarde. Estava dado mais um passo para uma das lendas mais fascinantes que o futebol deu ao país.

Particular - 23/2/1930

Portugal-França 2-0

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Estádio: Campo do Ameal (Porto)

Árbitro: J. Langenus (Bélgica)

PORTUGAL: António Roquete; Carlos Alves

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e Martinho Oliveira; Raul Figueiredo, Silva Marques e Carlos Rodrigues; Abrantes Mendes, Valdemar Mota, Acácio Mesquita, Pepe e José Luís

Selecionador: Laurindo Grijó

Marcadores: 1-0 por Pepe (44’); 2-0 por Pepe (74’)

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O Campo do Ameal registou uma enchente absolutamente fora do comum. Mais de 10 mil pessoas deslocaram-se ao recinto portuense para assistir a um jogo no qual, rezam as crónicas, o resultado foi melhor do que a exibição. Pepe voltou a ser a figura em maior destaque. Se três anos antes se estreara apontando dois dos quatro golos de Portugal na vitória sobre os franceses, desta vez não quis intromissões e resolveu ele próprio a vitória por 2-0 apontando os dois golos nacionais. A grande estrela do futebol português do seu tempo chegava aos 7 golos com as quinas ao peito e tornava-se o melhor marcador da Seleção. Sem surpresa, saiu do campo aos ombros, de um público rendido ao seu génio.

Particular - 14/4/1946

Portugal-França, 2-1

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Estádio: Nacional (Lisboa)

Árbitro: G. Reader (Inglaterra)

PORTUGAL: João Azevedo; Álvaro Cardoso e Serafim das Neves; Mariano Amaro, António Feliciano e Francisco Ferreira; Rafael Correia, António Araújo, Fernando Peyroteo, Artur Quaresma e Rogério Carvalho

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Selecionador: Tavares da Silva

Marcadores: 1-0 por Araújo (39’); 1-1 por Vaast (67’); 2-1 por Peyroteo (70’)

A 2.ª Guerra Mundial já terminara e o futebol dava os primeiros passos rumo à estabilização dos jogos internacionais. A equipa traduzia a realidade do futebol português, marcada pela superioridade do Belenenses que, mês e meio depois, festejaria a conquista do título nacional. Os azuis fizeram-se representar com cinco elementos: António Feliciano, Serafim das Neves, Mariano Amaro, Rafael Correia e Artur Quaresma. De todos, seria Feliciano o maior destaque, ao anular a estrela do futebol francês, Ben Barek, o que lhe valeu ser considerado pela imprensa gaulesa um dos melhores centrais da Europa. Ficou ainda a confirmação do talento de Peyroteo (um golo marcado e outro oferecido) e a estreia por Portugal de um génio chamado Rogério Lantres de Carvalho.

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Particular - 3/3/1973

França-Portugal 1-2

Estádio: Parque dos Príncipes (Paris)

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Árbitro: F. Geluck (Bélgica)

PORTUGAL: José Henrique; Artur Correia, Humberto Coelho (António Simões), Fernando Freitas e Adolfo Calisto; Toni, Alfredo Quaresma e Pavão; Nené (Joaquim Dinis), Abel Miglietti (Artur Jorge) e Eusébio

Selecionador: José Augusto

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Marcadores: 1-0 por Molitor (35’); 1-1 por Eusébio (37’, g.p); 1-2 por Eusébio (88’)

A Seleção regressava à atividade após oito meses sem competir. Para trás ficara a Minicopa de boa memória, perdida no Maracanã para o Brasil, pela frente estava a qualificação para o Mundial’74, iniciada antes mesmo da competição, com duas vitórias sobre Chipre. Restavam dois jogos com Bulgária e outros tantos com a Irlanda do Norte, que teriam como saldo três empates, uma derrota e o consequente afastamento do grande palco na então RFA. No Parque dos Príncipes, Eusébio defendeu a coroa de rei do futebol, em temporada na qual conquistou a segunda Bota de Ouro, e marcou os 2 golos de uma vitória que interrompia uma série de sete derrotas consecutivas de Portugal em território gaulês.

Particular - 26/4/1975

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França-Portugal 0-2

Estádio: Estádio Colombes (Paris)

Árbitro: H.J. Weyland (Alemanha)

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PORTUGAL: Vítor Damas; Francisco Rebelo, Humberto Coelho, Carlos Alhinho e António Barros (Minervino Pietra); Toni, João Alves (Adelino Teixeira), Octávio Machado e Samuel Fraguito; Marinho (Fernando Gomes) e Nené (Mário Moinhos)

Selecionador: José Maria Pedroto

Marcadores: 0-1 por Nené (20’); 0-2 por Marinho (64’)

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O Estádio do Lumiar assistiu à segunda vitória da Seleção e a mais expressiva até aos 6-0 ao Luxemburgo, a 19 de março de 1961. O jogo esteve marcado para 13 de fevereiro de 1927 mas foi adiado pelas consequências do Golpe de Estado de 28 de maio de 1926. Dos confrontos nas ruas resultaria um número indeterminado de mortos e feridos. No regresso à normalidade, selado a 10 de março, isto é, seis dias antes do embate, Portugal não deu hipóteses. José Manuel Soares, o eterno Pepe que o futebol português regista como um dos seus primeiros fenómenos, estreou-se na equipa nacional. Marcou logo dois golos e foi o herói da tarde. Estava dado mais um passo para uma das lendas mais fascinantes que o futebol deu ao país.

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