O central inglês Harry Maguire é um dos maiores símbolos da resiliência do Manchester United. Juntou-se ao emblema de Old Trafford em 2019 e, de lá para cá, sofreu como poucos no desporto-rei de Inglaterra. Criticado por muitos, soube manter-se firme a nível mental e reagir sempre de forma positiva, como ficou demonstrado com o golo que anotou o recente triunfo dos red devils diante do Liverpool.
Wayne Rooney, figura cimeira do clube inglês, veio a terreiro destacar isso mesmo, assegurando que Maguire resistiu a tudo durante estes anos.
“Ele foi alvo de bullying. Nem imagino como terá sido para ele lidar com tudo aquilo que teve de lidar. Foi um ‘meme’ durante anos, foi mencionado em parlamentos do outro lado do mundo e nunca desistiu”, iniciou.
“Tiraram-lhe a braçadeira de campeão, as pessoas riram-se dele, mas ele manteve-se ao mais alto nível por Inglaterra e pelo Manchester United. Isso mostrar muita força mental, caráter e isso deixa-me muito feliz”, rematou.
A alusão de Rooney a “parlamentos do outro lado do mundo” refere-se ao sucedido depois do Mundial do Qatar’2022, em pleno parlamento do Gana. Durante a discussão do Orçamento de Estado 2023, Isaac Adongo, representante do Bolgatanga Central Constituency, apontou o dedo ao vice-presidente Mahamudu Bawumia pela má gestão financeira do país.
E fê-lo assim: "Você é o Maguire da Economina. Há um jogador igual a si em Inglaterra. É o Harry Maguire. Ele é como você... Chegou a Manchester e comportou-se como o melhor do mundo, mas depois joga mal e marca golos na própria baliza. Como lhe deram a si a possibilidade de ser o centro da nossa defesa se você só marca autogolos?"
De resto, esta foi apenas mais uma 'pedrada' no jogador internacional inglês, que sempre foi visto como o patinho feio do Manchester United, como agora recordamos.
Um ‘anti-craque’
Está a ver aqueles jogadores que só de pisar o relvado já se diz que têm ‘pinta de craque’? Maguire é o oposto. Quem prestar atenção ao internacional inglês durante um jogo, um treino ou até no aquecimento, sem o conhecer, até poderá duvidar que estamos perante um central que custou 80 e muitos milhões de euros.
Certo é que, mesmo com um estilo trapalhão, conseguiu subir a pirâmide do futebol inglês até Old Trafford. Começou a carreira profissional no clube de formação, o Sheffield United, e até foi expulso num dos primeiros jogos. Em 2011/2012, com a equipa na terceira divisão, conseguiu afirmar-se como titular e somar 56 jogos. Quatro anos e mais de 150 jogos depois da estreia, ‘saltou’ para a Premier League, pelas portas do Hull City, e dois anos mais tarde, em 2017, voltou a subri de patamar e assinou pelo Leicester.
Por essa altura, era um central com boa imagem, um daqueles que não complica, e é recompensado com a estreia pela seleção em outubro de 2017, pouco mais de um ano depois de assistir ao Euro’2016... nas bancadas, com os amigos.
As dúvidas começaram a pairar sobre Maguire no verão de 2019 e nem foi por culpa própria. É que o Manchester United resolveu pagar 87 milhões de euros para o recrutar aos 'foxes', no que foi visto como uma tentativa desesperada de replicar o sucesso da contratação de Van Dijk, pelo Liverpool, e ainda lhe entregaram a braçadeira. Uma coisa é ser um central ‘seguro’ de um emblema de média dimensão, outra é ser o segundo central mais caro da história e capitão do Manchester United.
Já se sabe que a última década não tem sido fácil para os red devils e são muito poucos os jogadores que se livraram das críticas dos adeptos, mas Maguire é um dos que mais sofre. Diga-se que, muitas vezes, com culpas no cartório.
Por vezes, por momentos em que revela o lado mais trapalhão e, simplesmente, não transparece o caráter de capitão do United. Como quando num jogo da Liga Europa frente ao Partizan, parecia não saber como agir durante a tradicional ‘moeda ao ar, já depois de ter sido o árbitro a chamá-lo, já que Maguire, literalmente, se esqueceu que era o capitão. Ou como no momento viral em que se lançou à bola de qualquer maneira num canto e acabou por acertar com um pontapé... na cabeça de Pogba.
Como se não bastasse, Maguire também já se viu envolvido em situações espinhosas durante férias e saídas à noite. Numa dessas 'broncas' foi expulso num jogo em que o Manchester United foi dizimado pelo Watford (1-4), e horas mais tarde resolveu ir jantar fora e sair com amigos. Algo que deixou os adeptos furiosos. Mais grave, foi o que aconteceu em no verão de 2020, durante umas férias na Grécia. O central acabou preso, depois de envolver em confrontos durante uma noite mais ‘quente’, acabando condenado a 21 meses de pena suspensa, por agressões, resistir à detenção e tentativa de suborno.
Um autênico ‘cocktail’ de erros e episódios insólitos, que apaga da memória as boas exibições que Maguire também já protagonizou. Agora, como realça Rooney, está preparado para uma nova vida.
Por João Seixas