Mourinho começou por dizer que no Barcelona-Chelsea viu Rijkaard ir ao balneário do árbitro Andreas Frisk ao intervalo. Depois disse que não tinha sido ele a ver, mas um adjunto, e que confiava nos seus colaboradores. A UEFA castigou-o. Ontem o próprio árbitro – que desistiu da carreira por alegadas ameaças provocadas pelas acusações de Mourinho –, confirmou que o treinador do Barcelona foi mesmo ao seu encontro. O que fará agora a UEFA?
O Chelsea não recorreu do castigo da UEFA ao seu técnico. Mourinho zangou-se pela falta de apoio. Esticou a corda, exigiu um pedido de desculpas e ameaçou bater com a porta, mandando às malvas a glória de ser campeão inglês e talvez europeu. O que teve de fazer o Chelsea? Desculpou-se e ainda lhe propôs um aumento de ordenado.
Por causa do castigo, Mourinho não pôde ir para o banco no jogo com o Bayern. Decidiu não ir também para a bancada, como é costume, e onde seria controlado por um técnico da UEFA. O que fez Mourinho? Ficou calmamente num ginásio, a ver o jogo pela televisão, em contacto telefónico com o adjunto que escutava as suas ordens pelo auricular que um barrete escondia. Um truque de se lhe tirar o chapéu.
Mourinho é um jogador. Arrisca. E ganha. Com jogadas de mestre. E a sorte, como todos sabem, não é um mero acaso.
Outro exemplo. No início da minha carreira, pediram-me um trabalho complicado para o Record. Antes de um Benfica-Sporting, devia juntar na Luz grandes jogadores das duas equipas: Damas e Carvalho, Eusébio e Nené. Ao contrário do que possa parecer, não foi difícil convencer os inimigos a irem a casa do rival e até Eusébio foi quase pontual. Faltava Nené. Saí à porta da velha Luz e vi-o, às voltas, de carro. Estava a tentar confirmar se os outros já tinham chegado. Só depois se sentiria seguro. Foi essa a imagem que guardei dele. Pouco confiante, nada de acordo com a sua dimensão de craque. O estrelato parecia um peso sobre os seus ombros. Soube porquê pouco tempo depois e entendi-o. Não deve ser fácil ter um filho transexual. Mais de 15 anos depois, o espanto. Nené é o primeiro a dar a cara, a mostrar o orgulho de ter uma filha diferente. Aparece na TV, nos jornais, anda de helicóptero. Merece todo o respeito.
Um último exemplo. Este a não seguir. Há seis meses, João Manuel era um jogador à procura de um final de carreira digno, depois de muitos anos de dedicação. Jogava no Moreirense quando descobriu que tinha esclerose múltipla, uma doença degenerativa. Três meses depois já mal andava. Os melhores jogadores portugueses organizaram-lhe um jogo de homenagem para o ajudarem financeiramente. Jorge Sampaio recebeu-o e condecorou-o. A FPF decidiu também apoiá-lo financeiramente. Pois bem: entregou-lhe 2.500 euros, 500 contos!, em ano de mega-lucros do Euro.
Leitura - Falta o génio
Memórias de mis putas tristes. A expectativa em redor do novo livro de Gabriel García Marquéz eram enormes depois de dez anos de ausência. Duas horas depois o livro está lido. Mais duas e está esquecido. A linguagem única está lá, o realismo da descrição também, mas falta a pitada de génio do Nobel escritor-jornalista colombiano.
Cinema - Salvo pela voz
Ray. Duvido que haja alguém que vá à espera de mais do que uma história lamechas de um cantor pobre, negro, e ainda por cima cego. Mas o filme de Taylor Hackford vai muito mais além. Ray Charles é só mais uma estrela caída na desgraça das drogas e do sexo, mas salvo pela voz. E pela interpretação de Jamie Foxx.
Espectáculo - Oportunidade
Ópera do malandro. As músicas de Chico Buarque são eternas. Vê-las em palco, cantadas, dançadas e interpretadas, constitui uma oportunidade única. Foi possível em Março em Portugal para quem correu a comprar bilhetes. Ninguém se deve ter arrependido de ter ido. Os que não foram é que só têm de se lamentar.
Benfica rumo ao título
O Benfica sabe que ganhar em Vila do Conde é quase garantir o título. Moralizados, os jogadores dificilmente deixarão escapar a oportunidade. Em casa, o Sporting também não deve ter problemas em impor-se a um Beira-Mar que segue em último e manter a esperança de uma escorregadela encarnada, ainda que Inácio, o último treinador campeão em Alvalade, possa atrapalhar. Quanto ao FC Porto, Couceiro só pode acenar aos seus jogadores com a goleada leonina no Bessa. Pode ser que espevitem.