Rui Costa, atual presidente do Benfica e candidato à segunda volta das eleições no clube no próximo dia 8 de novembro (sábado), esteve esta terça-feira na BTV para mais uma ronda de entrevistas aos candidatos à liderança dos encarnados.
O líder da 'Lista G' mostrou-se contra a entrada de investidores na SAD do Benfica, disse ser contra a "peixeirada" no futebol português e revelou já ter "tudo apalavrado" com um 'chief scout', que dará entrada no clube caso vença as eleições.
O que sente pelo facto de estar nesta segunda volta?
"Antes de mais, uma honra enorme. Pela votação, pelo dia eleitoral no Benfica, que bateu todos os recordes do mundo. Não só como presidente, mas como benfiquista. Estou muito honrado pelo voto de confiança dos sócios. Estou feliz por estar nesta segunda volta."
Futebol profissional: que planos tem para o mercado de janeiro?
"As questões são muito essas. Já há muito pouco para acrescentar. De qualquer das maneiras, os sócios têm essa necessidade e nós temos de esclarecer. Deveremos estar concentrados no calendário desportivo, olhar para a prata da casa. Este plantel é forte. O pouco tempo que temos tido para treinar tem impedido um melhor entrosamento e evolução. Tenho confiança neste plantel. Sempre que entendemos chegar ao mercado de janeiro e encontrar um jogador que pudesse melhorar a equipa nós estávamos lá. O que importa agora é olhar para os jogos que temos pela frente e olhar para o nosso plantel, que tem muita qualidade. Processo de contratação? É um processo conjunto, entre mim, Mário Branco e José Mourinho. Não há um jogador do presidente ou do treinador. Temos um treinador de enorme experiência, para além da enorme qualidade que tem. Vai melhorar muitos jogadores, sobretudo os mais novos. Por isso é que temos de olhar para o interior. Temos de olhar para o nosso presente e dar a Mourinho as melhores ferramentas para que possa ter sucesso."
Mercado nacional ou internacional?
"Vamos privilegiar o mercado que servir o Benfica, não vamos olhar a nacionalidades. Depois, se for nacional ou estrangeiro, será o que o mercado ditar. O mercado de janeiro não é tão fácil como o mercado de verão. Ainda assim, temos os nossos scoutings sempre a trabalhar. Há dois tipos de mercado em janeiro: para entrada imediata ou para contratar algum jovem para entrar na próxima época. Neste momento, está mais perto o perfil de garantir um jogador para ter impacto e entrada imediata da equipa principal do que o outro perfil. O mercado nacional não está barato, sobretudo para clubes como o Benfica. Muitas vezes fica mais barato recorrer ao estrangeiro do que ao mercado nacional. É um processo difícil. Não há esta panóplia de jogadores fora dos quatro grandes, onde incluo o Sp. Braga, com qualidade para jogar no Benfica. Pretendemos olhar sempre para o mercado nacional, mas a nossa prioridade é reforçar a equipa, sem olhar a nacionalidades."
Saídas no mercado: como pode o Benfica segurar os jovens do clube? Aumenta o salário ou a cláusula?
"As cláusulas de rescisão são uma defesa que os clubes têm, não quer dizer que o jogador valha esse valor ou que tenha de sair por esse valor. É uma cláusula que defende o clube. É óbvio que queremos manter os nossos jogadores por mais tempo no Benfica, não tem a ver com o facto de poder ou não fazer uma renovação de contrato. Há sempre a expectativa de o jogador jogar nos grandes campeonatos. Não queremos deixar chegar ao limite, como aconteceu no passado. Iremos fazer sempre de tudo para alongar o máximo de tempo de jogadores no Benfica. Se viesse para aqui dizer o contrário estaria a mentir. É impossível manter um jogador durante toda a sua carreira no clube, isto se tiver realmente qualidade para jogar nos maiores campeonatos. Quem disser o contrário não está a ser realista."
E continuou: "Há duas partes importantes: o clube que o quer e o valor que esse determinado clube está disponível para pagar pelo jogador. Pode sempre vir um colosso financeiro europeu e torna tudo impossível. Mas fazemos sempre o nosso máximo para manter os nossos jogadores. Não faremos sempre mercados de 100 milhões de euros. A resposta que demos a este mercado foi também uma resposta financeira. Não vou determinar valores para as contratações, mas, acima de tudo, temos de preencher os espaços nos plantéis com qualidade, não pondo em causa a saúde financeira no clube. Nunca faria isso."
Teto salarial no plantel: a favor ou contra?
"Fui eu quem pôs um teto salarial para fazermos essa reestruturação no plantel. Hoje temos um plantel muito mais valioso, que nos salvaguarda tremendamente do ponto de vista financeiro. Fizemos uma reestruturação completa do futebol do Benfica. Estamos satisfeitos com essa reestruturação. Irão crescer paulatinamente com o sucesso do clube. Conseguimos competir com equipas muito importantes dos principais campeonatos. Estamos muito mais felizes com o que temos hoje do que aquilo que tínhamos anteriormente."
Como se define o perfil de um treinador para o Benfica?
"Procuramos treinadores com qualidade. Um treinador como José Mourinho enquadra-se em todos os perfis. Estamos a falar de um dos melhores treinadores da era moderna, com capacidade de jogar em mais do que um sistema, de desenvolver jovens. Temos dois anos de contrato com José Mourinho."
Da formação para a equipa principal
"Nestes quatro anos de formação, foi uma das áreas onde tivemos mais sucesso: 23 jogadores a estrearem-se na equipa principal do Benfica e inúmeros títulos. Mas temos de perceber que há gerações onde há mais talento individual e outras em que há um talento mais coletivo. A porta está sempre aberta à nossa formação. Em algumas gerações é preciso ter mais paciência quando o talento não está apurado. Nenhum plantel do Benfica terá mais de 20 jogadores contratados com o intuito de dar espaço aos jovens da nossa formação. O que há a melhorar? Fazê-los crescer mais rápido. A nossa equipa B está a passar por algumas dificuldades porque estamos a dar passos mais fortes. A equipa está a jogar com muitos jovens de 17/18 anos."
E prosseguiu: "Temos uma estrutura fantástica naquilo que é a formação. Seria tremendo perder aquilo que temos. Continuamos a ser a melhor academia do mundo, o que mais lança atletas na sua equipa principal. Está tudo muito bem alinhado. Depois há uma passagem do futebol de formação para a equipa principal, uma etapa que é acompanhada por Simão Saborosa, assim como por Mário Branco."
A comunicação
"O Benfica, como maior instituição do país, nunca é a favor da peixeirada, peço desculpa por utilizar este termo, mas é mesmo assim. Agora, vamos estar sempre na linha da frente para defender o clube. Não gosto deste tipo de linguagem no futebol português, não favorece ninguém. Esperemos que as entidades responsáveis com que o futebol português não precise deste alarido todo. Se precisarmos, lá estaremos."
O associativismo
"O número de Red Pass em espera? É mérito do crescimento do clube. Chegámos aos 400 mil sócios. Vamos continuar com um número alto. Queremos chegar aos 500 mil. Não se resolve do pé para a mão a necessidade de todos os sócios. Queremos alargar a capacidade do estádio para 70 mil lugares. Há uma situação também muito positiva, que prejudica quem está à espera, que é anualmente haver uma quebra muito reduzida de Red Pass. A nossa forma de resolver isso é com o aumento do estádio, algo que estamos a tratar com o Benfica District. Dentro do nosso clube, os sócios não podem ser encarados como clientes."
O que pretende fazer no final das eleições?
"Eu tenho dito que a primeira missão do presidente que ficar à frente do Benfica é unir a família benfiquista de novo e que quem não for eleito é fazer para que isso aconteça. Temos de ter a capacidade para, quem não ganhar, fazer com que a família benfiquista se una e ajude o presidente a concretizar esta missão. Ao fim do dia, somos todos do clube. Não podemos fazer destas eleições partidárias. Não somos de um partido. Somos todos do Benfica. Temos de entender isso. Nestes 85 mil votantes, havia 6 candidatos e não houve, em todos os 108 locais de voto, quezílias só porque um votava num outro candidato. Desejo? Independentemente de quem for o presidente, que nos possamos unir em torno do clube. Queremos é ganhar ao Casa Pia já no domingo."
Redução dos custos e aumento das receitas
"Muito se tem falado do aumento do passivo, eu já expliquei e as pessoas que percebam: não venho para aqui dizer coisas que não são realidade. Houve um aumento da dívida líquida, sim, tem a ver com o Covid, com as obras que foram feitas no estádio... mas a dívida total do clube baixou em vez de subir. É nesse caminho que estamos a ir. No último exercício tivemos os lucros que tivemos. O caminho que estamos a levar é na redução da dívida líquida. Reduzimos a dívida aos clubes, o que ajudou também a reduzirmos essa dívida líquida. Esse é o meu compromisso. O nosso programa é para baixar a dívida líquida. Não vou acabar com as modalidades, com os pavilhões, com a BTV... Tudo isso faz parte do Benfica. Estamos num bom caminho e temos provas dadas. Temos plano para aumentar para 500 M€ as nossas receitas. É dentro deste caminho que estamos a trabalhar. Vão entrar quer pelo Benfica District, quer pelos patrocínios. Vamos ser muito mais audazes e agressivos."
Entrada de investidor: a favor ou contra?
"Chegar aos 40% ou entrada de investidor? Não. Não temos essa necessidade. Jamais colocarei em risco que o Benfica deixe de ser do Benfica. O Benfica é dos sócios do Benfica. Não estamos à procura de um parceiro financeiro para o Benfica neste momento."
Centralização dos direitos televisivos: como será feita a transmissão dos jogos do Benfica?
"Acredito que continuará a ser na BTV. Nos contratos que estamos a negociar temos sempre isso em atenção. Pretendemos que os nossos jogos em casa continuem a dar na BTV. Temos propostas com valores acima [dos valores inicialmente propostos], para esta janela de 2026-2028, mas ainda não são os valores que pretendemos. É um dossiê para ser continuado a trabalhar no imediato. Está em pausa porque estamos em processo eleitoral e não íamos estar agora a tratar de um contrato desta envergadura. Queremos aumentar a nossa receita, mas sem perder o facto de transmitirmos os nossos jogos na BTV."
A entrada de um novo elemento para a equipa
"Diretor de scouting? O Benfica tem neste momento um ótimo grupo de scouting, que será reforçado com um Chief Scout que virá pós-eleições. Não vou revelar porque a pessoa está empregada e se eu não ganhar as eleições essa pessoa vai continuar onde está, naturalmente. Mas está tudo apalavrado e é um ótimo Chief Scout. Está acompanhado por uma equipa que temos internamente, que é muito válida, e que tem dado resultados", terminou.
Por Sérgio Magalhães