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Ricardo Silveirinha Clube Romântico de Futebol

A bola é a amante do golo

O futebol é o desporto mais universal do mundo. Não há ilha neste planeta, por mais selvagem que seja, que não tenha ainda sido palco de uma futebolada. Pode a bola ser o esférico de um côco acabado de cair; pode ser um jornal enrolado dentro de uma meia ou atado a uma corda; pode ser uma pedra, uma borracha de um pneu, uma concha ou crustáceo ancestral; uma super-pastilha gorila de Laranja ressequida. Onde houver um ser humano, haverá alguém a dar toques com o pé em objectos mais ou menos redondos. Haverá um remate e alguém que, entre duas estacas na areia, o tentará defender.

Haverá erro e acerto, boas e más decisões. Na escola primária, rapidamente percebemos que o árbitro não tem sequer de ser uma figura humana mas a noção simples de bom-senso entre os jogadores. Alguém grita: "é falta!" e o lance, entre alguma discussão acalorada, acaba ali rapidamente decidido porque o jogo pede para continuar. O jogo quer continuar. O jogo tem de continuar.

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Tal é a essência infantil porém absolutamente criativa do futebol que, ao contrário de outros desportos, não absorve bem medidas que o subjuguem constantemente à normalidade de uma burocrática avaliação. O jogo, este jogo, não deve ser várias vezes interrompido para que três ou quatro engravatados de chuteiras analisem meticulosamente as imagens num ecrã. Não faz sentido para os jogadores, é entediante para os adeptos que já nem festejam os golos decentemente, sempre à espera que venha do exterior uma mensagem a anunciar o cancelamento do festejo numa espécie de turn off futebolístico - um golo interrompido.

É por isso que, depois de anos a defender o VAR ainda antes de ele existir, hoje, vistos todos os prós e contras do seu aparecimento e construção, trago uma outra ideia mais simples. Daria ao futebol apenas duas inovações tecnológicas:

1) A da linha de baliza. Saber se a bola entrou totalmente ou não. Com esta medida, que seria IMEDIATAMENTE assinalada (não se perdendo minutos a decidir o lance), garantíamos que a verdade desportiva no seu aspecto mais essencial - o golo - ficasse absolutamente garantida.

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2) O direito dado a cada treinador de pedir uma segunda avaliação sobre um lance. Não são os árbitros que devem ter esse encargo; esses devem fazer o seu papel em campo como sempre fizeram - talvez se apostarmos numa melhor formação na arbitragem deixemos de ser todos tão paranóicos, maldosos e desconfiados dos árbitros.

Como no Ténis ou no Basquetebol, pede-se um "olho de falcão" ou "challenge"; se o treinador pedir uma avaliação num lance duvidoso (uma possível grande penalidade, um fora-de-jogo que deu golo, uma falta para expulsão), o jogo pára. Se tiver tido razão, o árbitro agirá sobre esse lance e esse treinador manterá o direito a um pedido. Se o pedido tiver sido incorrecto, essa equipa ficará até ao final do jogo sem qualquer direito a pedidos de reavaliação dos lances.

No resto, é apostar fortemente na profissionalização e talento de quem arbitra e na pedagogia a adeptos para que deixem de ser tão absolutamente irracionais que, na maioria dos casos, já quase nem gostam do desporto que dizem ser a sua paixão maior. Amar o futebol, amar o nosso clube, amar até os nossos adversários não se compadece com discursos constantemente paranóicos de treinadores, dirigentes e sobretudo de comentadores desportivos que pululam por televisões e jornais a incendiar o público com teorias boçais e pouquíssimo conhecimento e devoção ao jogo lindo.

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Por amor de Iniesta, não estraguem o futebol.

Por Ricardo Silveirinha
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