Carlos Ribeiro
Carlos Ribeiro Professor Universitário

Goleadas e cozidos

Portugal voltou a garantir a presença num Mundial. Mas continuamos a mostrar duas faces demasiado distantes. O desaire com a Irlanda e a goleada por 9-1 são o espelho perfeito dessa ambivalência: num dia somos equipa esmagadora, no outro tropeçamos em nós próprios.

A goleada foi empolgante e deu para tudo: confiança, exibições individuais de luxo e aquela sensação de que, quando o jogo flui, somos uma das seleções mais fortes do mundo. Mas a derrota com a Irlanda expôs fragilidades. Falta-nos constância e agressividade competitiva quando o adversário sobe um degrau.

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Ainda assim, há algo reconfortante. Já quase não nos lembramos da última competição que falhámos. A regularidade tornou-se rotina - ao contrário de outros países com peso histórico igual ou maior. Temos uma seleção capaz de tudo e com soluções que fariam as delícias de qualquer treinador, mas que anestesiam alguns. Não precisamos de calculadora, mas de consistência.

Enquanto essa consistência não chega, o futebol português continua fiel a hábitos antigos. Há uma semana escrevia que o Vitória precisava de começar a cozinhar, aludindo a uma espécie de banho-maria em que nos encontramos. Mas, para além de cozinharmos pouco dentro de campo, almoçamos pouco fora dele. António M. Cardoso insurgiu-se, e bem, contra os mesmos hábitos de sempre: decisões importantes tomadas à mesa, por poucos e para poucos. Uma espécie de cozido putrefacto à moda do costume, preparado por chefes sem estrelas. Esperemos pela ASAE. Sentados.

Por Carlos Ribeiro
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