Daniel Sá
Daniel Sá Diretor Executivo do IPAM

EA Sports: mais uma cartada da Arábia Saudita

O título do meu artigo da semana passara era “O Plano Saudita para dominar o desporto mundial”. Os movimentos dos árabes são tantos e tão intensos que esta coluna corre o risco de ficar monopolizada pelos novos amigos de CR7.

Um dos objetivos desta minha coluna de opinião foi sempre indicar tendências futuras da industria do desporto e como, nos próximos anos, iriamos passar a ter grandes conglomerados na área do entretenimento, onde o desporto seria um dos seus maiores ativos.

PUB

Eis que, na semana passada, a Arábia Saudita fez mais uma jogada de mestre. A indústria global dos videojogos acaba de assistir a uma das maiores transações da sua história. A Electronic Arts (EA), produtora de marcas como EA Sports FC, The Sims, Battlefield e Madden NFL, foi adquirida por um consórcio liderado pelo Fundo de Investimento Público (PIF) da Arábia Saudita, em parceria com a Silver Lake e a Affinity Partners, por 55 mil milhões de dólares. Esta operação, totalmente financiada em dinheiro e dívida, representa a maior aquisição da história no setor do entretenimento digital.

A estrutura financeira do negócio inclui 36 mil milhões de dólares em capital próprio e 20 mil milhões em dívida garantida pelo JPMorgan Chase. Cada acionista da EA receberá 210 dólares por ação, um prémio de 25% sobre o valor de mercado antes do anúncio. A empresa deixará de estar cotada na bolsa e continuará a operar como empresa privada, com sede na Califórnia e sob liderança do atual CEO, Andrew Wilson.

A EA Sports é um dos pilares da EA, responsável por títulos que geraram 7,46 mil milhões de dólares em receitas em 2025, com destaque para EA Sports FC, Madden NFL e The Sims. A divisão de futebol americano ultrapassou mil milhões de dólares em receitas líquidas no último ano fiscal, e os jogos de futebol registaram mais de 8 mil milhões de horas de envolvimento dos jogadores.

PUB

A aquisição insere-se na estratégia da Arábia Saudita de diversificar a sua economia através do plano Vision 2030, que aposta fortemente no desporto, entretenimento e tecnologia. O PIF já detém ativos como o Newcastle United, a Saudi Pro League, e empresas como a Savvy Games Group, que organiza a Esports World Cup e investe em ecossistemas de gaming e eSports. A compra da EA é vista como um passo para consolidar a posição do país como potência global no entretenimento interativo.

Estrategicamente, o fundo PIF pretende expandir o alcance global da EA, reforçar a ligação entre jogos, desporto e cultura, e desenvolver conteúdos adaptados ao público árabe — cerca de 420 milhões de pessoas que, segundo o governo saudita, estão sub-representadas nos jogos ocidentais. A expectativa é que o setor de gaming contribua com 13 mil milhões de dólares para o PIB saudita e crie 40 mil postos de trabalho até 2030.

Este movimento coloca os videojogos no mesmo patamar estratégico de setores como o futebol, o cinema e o streaming. A EA, agora sob controlo saudita, torna-se um ativo geopolítico, com potencial para influenciar não só o mercado de gaming, mas também a forma como o desporto e o entretenimento são consumidos e monetizados globalmente.

PUB

Por Daniel Sá
Deixe o seu comentário
PUB
PUB