Luís Alves Monteiro
Luís Alves Monteiro Atleta olímpico

O final da carreira desportiva: saúde mental, desafios, oportunidades!

Recentemente assistimos à comunicação do final de carreira de alguns atletas de topo do desporto nacional, exemplo do campeoníssimo Emanuel Silva, atleta da canoagem, medalha de prata e 5 participações em Jogos Olímpicos, que aos 38 anos decide abandonar uma carreira recheada de êxitos que se confunde com a própria modalidade. São sempre momentos em que se misturam um turbilhão de emoções, a memória de um passado ainda muito recente, a sempre natural e difícil decisão de abandonar uma vida repleta e vivida de uma forma superlativa ao mais alto nível, e o desassossego de um futuro diferente e muitas vezes incerto.

O fim da carreira desportiva de um atleta de alto rendimento é um momento de transição que pode trazer uma mistura de emoções e desafios únicos. Tal e qual como a história,  o percurso de um atleta pode estar repleto de glória e drama. Enquanto alguns atletas enfrentam esta fase com determinação e otimismo, outros lutam para encontrar o seu caminho e um novo capítulo da vida.

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É uma fase em que se  lida com a perda de identidade já que, para muitos, a carreira desportiva é central para a sua afirmação e mesmo para o prazer que dela retiram, sendo que o fim dessa carreira pode levar a uma sensação de perda e confusão sobre quem são fora do mundo do desporto,  e sobre a perspectiva e decisão dos próximos passos a tomar.

A transição para a vida pós-desportiva pode deixar um vazio emocional, especialmente se o atleta não estiver preparado para lidar com a mudança. Sente-se naturalmente a falta da estrutura e da adrenalina da competição que pode necessariamente levar a sentimentos de tédio e desorientação vide o caso tão conhecido como o do campeoníssimo Michael Phelps. Depois, há que contar com os  Atletas que enfrentam lesões graves ou problemas de saúde durante o final de carreira e que podem experimentar um impacto significativo na sua saúde mental, sendo que lidar  com esta dor física e emocional pode ser extremamente desafiador.

Mas se enumerarmos todos os problemas sentidos por estes atletas que cada vez mais terminam as suas carreiras mais tarde, até pelos avanços tecnológicos e cientificos, chegando também em consequência disso cada vez mais tarde ao mercado de trabalho, temos que arranjar formas de desdramatizar e relativizar, pensando que existem maneiras de atenuar estas dores. Este processo pode e deve começar no próprio atleta e com a ajuda de todos os que o rodeiam, ao utilizar a mesma disciplina e foco com que encara os treinos e competição. Terá de usar essas "armas" para que logo durante a carreira comece a preparar o que lá vem, diminuindo as incertezas e inseguranças no futuro, até porque o próximo terço, o da sua vida profissional, é e pode ser tão ou mais importante que o seu passado desportivo.

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O fim da carreira desportiva para um atleta pode e deve abrir espaço para explorar novos interesses e paixões que antes eram deixados de lado devido ao compromisso com o desporto. Muitos atletas descobrem talentos e vocações fora do desporto que podem ser desenvolvidos e explorados numa nova carreira que pode ser de empreendedorismo.

Ainda assim existe a forma e via mais natural,  mesmo após o término da carreira competitiva, os atletas podem continuar a contribuir para o mundo do desporto como treinadores , mentores, comentaristas ou envolvendo-se em projetos de caridade e advocacia.

Claro que para que o cenário seja mais positivo é preciso conjugar uma série de factores que podem e devem concomitantemente concorrer para que essa transição se faça da forma mais natural possível. É preciso que esta fase esteja integrada num plano estratégico para o desporto, é preciso que a Sociedade Civil no seu todo compreenda que não basta glorificar os seus heróis enquanto estão na ribalta e sob as luzes dos holofotes, e depois simplesmente esquecê-los. E é preciso também sensibilizar todos os stakeholders, nomeadamente as empresas, para a qualidade intrínseca desta "mão de obra" qualificada (hard skils naturais, benefícios fiscais para a contratação, publicidade interna e externa).

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Embora o fim da carreira desportiva possa parecer assustador, alguns atletas descobrem que é um novo começo cheio de possibilidades. Ao abraçar essa transição com uma mente aberta e procurar o apoio adequado, os atletas, que são pessoas úteis como qualquer outra,  que têm aspirações e que são capazes e com hábitos regulares de superação, podem encontrar um novo propósito e significado nas suas vidas para além do desporto.

O fim da carreira desportiva de um campeão é um momento de mudança que traz consigo uma série de desafios e oportunidades. Enquanto alguns podem lutar com a perda de identidade e o vazio emocional, outros encontram novos interesses e maneiras de contribuir para o mundo do desporto. Com o apoio adequado, o fim da carreira desportiva pode representar não apenas o fim de um capítulo, mas o início de uma nova e emocionante jornada.

Como é que devemos lidar com este assunto? Devemos seguramente integrar estas fases da vida de um atleta no famoso plano integrado e estratégico do desporto nacional, do ponto de vista legislativo, de uma forma estruturante, garantindo que o que faremos hoje com estes atletas pode assegurar um plano de vida futura. Mas também garantir que aqueles que ainda estão na vida activa possam encarar o futuro de uma forma mais tranquila, contribuindo para, a melhoria dos índices da sua saúde física e mental e inclusive repercutindo-se no melhoramento da sua performance atlética.

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Como é que a Associação dos atletas Olímpicos de Portugal contribui para diminuir o impacto do Final da Carreira Desportiva e diminuir o impacto da Saúde mental.... vai, no próximo dia 10 de Maio, em Espinho, celebrar o 21º Aniversário no "Espinho Olímpico", continuando a manter viva a chama de todos os que são atletas, pessoas que estão maioritariamente na fase do pós carreira ou já se encontram na sua  vida profissional ou mesmo retirados desse mundo, colocando-os a todos na primeira fila. Dando voz e capacidade interventiva, com palco, não vão seguramente ser um mero elemento decorativo, como tantas e tantas vezes acontece nas celebrações do desporto e para o desporto.

E no dia 22 de Maio no Estoril, com a realização do II Seminário Nacional de Saúde Mental no Desporto de Alta Competição onde vamos manter vivo um tema que é premente continuar a tratar, normalizar o estigma, com a participação, entre profissionais da área, dos Olímpicos Nelson Évora, Marta Onofre, Nuno Frazão e Mário Anibal, estes dois últimos actualmente treinadores, e da conceituada atleta e treinadora Ana Oliveira. Vamos também ter oportunidade de apresentar os resultados de um questionário feito a nível nacional, com mais de 150 respostas e com o carimbo cientifico do Observatório da saude mental e contribuir para que a saúde mental seja um campeonato que é preciso vencer.

P.S: Escrevo este artigo como  tributo a todos os atletas que em segredo e anonimato lutam contra o estigma da depressão e dos problemas de saúde mental e em memória de Paulo Abreu atleta do Francisco de Holanda, que faleceu recentemente em circunstâncias trágicas, um atleta exemplar em todos os sentidos. Além de ser uma figura de destaque dentro de campo, com diversos títulos conquistados ao serviço da Universidade do Minho e do Xico Andebol, era também um exemplo de integridade, fair play e dedicação à modalidade".

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Por Luís Alves Monteiro
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