A análise de Pedro Bouças ao médio que é pretendido pelo Sporting:
Tende-se a confundir jogar bem com ter momentos de brilhantismo e criatividade.
Não que no jogar bem, tais momentos não possam e devam estar presentes. Contudo, é bastante mais do que isso. Jogar bem tem tudo a ver com a percentagem de acerto das acções que se realizam. Fazer três golos e perder noventa bolas na mesma partida, não é jogar bem. É ter impacto no resultado. E ter impacto no resultado, a menos que seja algo que surja de forma consecutiva, não garante nada sobre o que virá. Já passar jogos a fio a jogar bem, mesmo que longe da notoriedade, garante que estamos na presença de um jogador de nível diferenciado.
Não há espaço nos maiores clubes para quem não soma consecutivamente boas ações. Pouco importa um lance extremamente bem desenhado se a ele se juntam outras perdas e se expõe a equipa. Num clube de menor dimensão, talvez o lance da notoriedade, porque surgem em menor número possa compensar os erros. Nos grandes clubes, não.
Não há portanto muitos jogadores na Liga que joguem consecutivamente bem. E que tenham potencial para chegar a um dos três, ou quatro, mais fortes do campeonato.
Stephen Eustáquio é uma das excepções. O miúdo que se estreou na primeira divisão aos 21 anos, teve a felicidade de chegar à realidade certa. Isto é, ao modelo de jogo e à liderança de Luís Castro. Um dos treinadores em Portugal que são catalizadores do talento.
Mas, também para Luís Castro será uma felicidade poder ver crescer de perto Eustáquio. A qualidade com que define, a forma como pensa o jogo, como toca a bola, como decide e executa, fazem do jovem um dos jogadores que mais importa conhecer em Portugal.
Eustáquio, mais perto ou mais longe da notoriedade, joga sempre bem. Praticamente sem erro, sempre a dar seguimento, e a descobrir caminhos.
Se ainda não conhece o Xavi de Trás-os-Montes, não perca mais tempo.
Texto originalmente publicado a 3 de maio no site Lateral Esquerdo.
Por Pedro Bouças