Numa altura em que a Noruega tem dois dos melhores atletas do mundo (Karsten Warholm e Jakob Ingebrigtsen) - e ainda uma Karoline Grøvdal que será das melhores da Europa -, em boa hora decidimos ir a Oslo para correr a principal maratona do país. Não é uma prova de elites. Não tem corredores rápidos. Até porque não é uma corrida com percurso rápido. Mas é uma corrida feita para o amador. Pensada para ele. E este ano com números recorde, com 23 mil atletas presentes à partida no total das 3 distâncias do programa (42 km, 21 km e 10 km). E isto leva já a apontar um pormenor curioso: as provas não se misturam, já que as horas de partida são bastante desfasadas - a maratona arranca às 9h25; a 'meia' às 13h30; os 10 km às 16:20.
O rótulo de sucesso da organização estava desde logo garantido pelo menos no aspeto da adesão popular. Mas havia que entregar a outra parte da nota. A parte mais importante. Avaliado por quem já fez 42 maratonas (esta era a 43.ª...), não a colocámos tão acima acima no ranking, mas a verdade é que não é preciso estar no topo para ser uma boa experiência. E isso, esta Maratona de Oslo foi. E nem o facto de não termos cumprido o nosso objetivo de tempo nos retirou essa sensação de que voltaríamos numa próxima ocasião.
Mas comecemos pelo início. Que é como quem diz, o levantamento do kit de prova e a expo. Localizada na zona da partida/meta, estava montada num espaço algo pequeno - talvez seja boa ideia ampliar no próximo ano -, mas todo o processo de recolha do material foi relativamente fácil. No kit de prova recebemos somente o dorsal e um brinde da organização. A camisola da prova era paga à parte, no caso por 20 euros. Na feira temos alguns expositores, que ao contrário do que vamos vendo por outras maratonas, quase nos obrigam a aproveitar as amostras que por lá têm para provar. Como bons portugueses que somos... não dissemos que não.
Boa hora para partir... o clima ajudou
Passemos agora à prova propriamente dita. O primeiro ponto que falamos é a hora de partida, pelas 9:25. Uma hora que acaba por ser simpática para quem quer dormir um pouco mais (se conseguir!) e que também permite uma chegada tranquila através dos transportes da cidade. Para outras provas pode ser um pouco tardio, mas o clima em Oslo estava encoberto e fresquinho - levar uma camada de roupa extra é uma dica preciosa para este dia. Estava mesmo propício para correr!
Falando do nosso objetivo, que também servirá para enquadrar a dificuldade da prova, partimos com o foco em conseguir correr abaixo das 3 horas. Uma marca que já tínhamos obtido por quatro vezes no último ano e meio. Mas sempre em percursos bem mais fáceis. A Maratona de Oslo, a um primeiro olhar, não parece difícil, porque o ponto de maior elevação não é tão assustador assim. Mas assim que enfrentamos o percurso rapidamente mudamos de ideias. As quatro subidas do percurso (duas em cada volta) são constantes e vão quebrando o ritmo e moendo mais e mais as pernas. Se ao acabar a primeira volta ainda sentimos que temos gás para mais, ao enfrentar a derradeira subida, já para lá dos 35 quilómetros, aí o assunto muda de figura e a palavra de ordem é "sobreviver".
Foi um pouco isso que vivemos neste dia. Passámos à meia maratona em exatos 1:30:00. Fizemos a segunda metade em 1:33:43. Acabando, por isso, com um registo final de 3:03:43. Um tempo que não é mau de todo, é certo, mas que fica a 3:44 minutos do objetivo inicial. Nada de grave, porque o mais importante tinha sido conseguido: acabar mais uma maratona e viver a experiência de correr na Noruega. Isto numa maratona que conta com um momento bastante especial, que para nós, enquanto fãs de atletismo, foi o ponto alto da prova: a passagem (dupla) pelo mítico Bislett Stadion, palco de um meeting da Diamond League e 'casa' de vários recordes mundiais.
No fundo, Oslo foi uma experiência diferente, que mais uns quantos portugueses viveram. Na viagem para Oslo encontrámos três no aeroporto. No dia da prova, minutos antes do arranque, ao entrar para a nossa caixa de partida demos de caras com um outro. E, depois, logo após cruzar a meta, com um outro, que naquele dia estava a correr a Maratona de Oslo pela... 13.ª vez! No total, neste dia, 30 portugueses correram nas ruas de Oslo: 18 na maratona, 8 na meia maratona e 4 nos 10 quilómetros. Vamos duplicar estes registos em 2024?
Da nossa parte, a vontade é mesmo de voltar. Para fazer algo que não sabíamos que fazia parte do programa: um mega desafio, o Oslotrippelen, que passa por fazer as três provas do evento. Quem o concluir, para lá de uma valente dor de pernas, leva também quatro medalhas (a de cada distância, mais uma especial).
Sauna e passeio obrigatórios
Abaixo deixaremos dicas sobre o que comer, mas aproveitamos este fim da primeira parte do relato para falar de algo que entendemos ser obrigatório fazer nesta passagem pela Noruega. Especialmente para quem acabou de correr uma maratona. Uma sessão de sauna, num dos vários espaços localizados à beira do mar para o efeito. No nosso caso, fomos ao KOK, com sessões de hora e meia por 25€, na qual fomos alternando entre 15 minutos na sauna e uns mergulhos na bem fria água de Oslo.
E, depois, para ajudar à recuperação, nada melhor do que uma boa caminhada para 'limpar' o ácido das pernas e conhecer os cantinhos da capital norueguesa. Vale a pena! Só deixamos um último alerta: os preços são... 'salgados'!
NOTAS FINAIS
Percurso: 6/10
Temos de ser sinceros. Não é o percurso mais interessante que fizemos. Mas também não é totalmente feio. A vista para o mar que temos em grande parte do traçado é um dos pontos mais agradáveis, tal como a passagem por um parque na zona Oeste da cidade. A dupla incursão pelo icónico Bislett Stadion, um dos mais importantes estádios de atletismo do mundo, dá-nos uma experiência diferente do habitual e torna esta prova em algo definitivamente para recordar. Falando do percurso, dizemos igualmente que não é dos mais fáceis. Conta com 4 pontos de subida (2 por volta), que conseguem 'matar' o ritmo e deixar praticamente KO um corredor que venha menos bem fisicamente.
Logística: 9/10
A partida e a meta são localizadas numa zona central, com boas acessibilidades. E isso facilita logo tudo o resto. Os bengaleiros estão junto a uma rotunda, com a particularidade de terem de ser os corredores a deixar e levantar o seu saco (que tem de ser o que é providenciado pela organização). Quando vamos recolhê-lo temos de mostrar o nosso dorsal, de forma a garantir que não há roubos. Falta alguma sinalética para encontrar esse local e as que há são em norueguês. Ter a opção em inglês ajudaria. De resto, há uma grande oferta de casas de banho portáteis. Nos abastecimentos, as mesas são algo curtas, mas não sentimos problemas para recolher os copos de água. Não há confusão alguma em termos de pelotão, especialmente porque as provas do programa são separadas e isso ajuda bastante.
Ambiente: 7/10
Ali mais abaixo, os dinamarqueses conseguem ser bem mais loucos, mas os noruegueses não ficaram assim tanto atrás. Diríamos que o ponto mais esperado da prova acabou por ser o menos entusiasta, já que a dupla passagem pelo Bislett Stadion não deu aquele ambiente que esperávamos. Mas (!) deu mesmo assim uma bela experiência de fazer 2 voltas numa das pistas mais icónicas do mundo do atletismo. Só por isso, como se diz no mundo da 'bola', já vale o bilhete.
Medalha e t-shirt: 8/10
A t-shirt, da adidas, contava com um design simples, mas bonito e eficaz. Mas era paga à parte. Quanto à medalha, para nós leva uma nota elevadíssima. Pela proposta e arrojo evidenciado pela organização. Na tentativa de tornar este evento o mais sustentável possível, desde 2023 que a medalha é feita em material reciclado (no caso plástico), num processo de produção no qual se tenta também reduzir ao máximo a distância necessária entre o fabrico e a entrega do produto. O resultado é uma medalha diferente do habitual, definitivamente de plástico, mas com um design bastante interessante. E com um aspeto curioso: nenhuma das quase 23 mil medalhas entregues é igual.
Preços
Maratona: de 67€ a 85€
Meia Maratona: de 60€ a 75€
10 km: de 47€ a 60€
Oslotrippelen: de 155€ a 200€
Como chegar
Oslo é uma das capitais europeias com as quais Lisboa conta com voo direto pela TAP - para partir do Porto é necessário fazer escala. No caso em 5 dias (2.ª, 3.ª, 5.ª , sábado e domingo), o que permite economizar bastante em termos de duração da viagem. Sendo a prova a um sábado, aquele voo de ida na 5.ª feira e o regresso na 2.ª é mais do que perfeito. Lá chegados, há várias opções de comboio diretas ao centro da cidade. A Flytoget é a mais cara (20 euros), ligeiramente mais rápida e exclusiva. A VY é a metade do preço (10€) e demora somente mais 6 minutos. À chegada, o nosso conselho é instalarem a aplicação Ruter, na qual podem comprar os bilhetes para esse comboio. Essa viagem fica válida por 3 horas e podem aproveitar para se movimentarem no centro da cidade nesse período. Quando expirar, utilizem a mesma aplicação para comprar os bilhetes de Zona 1 (válidos por 1 hora), por cerca de 3 euros.
Onde ficar
Oslo é uma cidade relativamente pequena e o ideal é garantir que estamos num raio de uns 3, 4 quilómetros em relação à zona de partida/meta. Como está localizada junto a uma passagem do elétrico, a escolha do local do alojamento pode ser feita em função da existência ou não de elétrico nessa zona. O facto da prova arrancar às 9:25 também ajuda nesta logística, já que não temos de madrugar para estar na linha de partida.
Onde e o que comer
Oslo é uma cidade caríssima. Especialmente para a carteira do português comum. Ali é fácil chegarmos perto dos 30 euros com uma refeição normal. Se reservarem um Airbnb, como foi o nosso caso, o ideal é tentar fazer as refeições em casa e aí já poupam muito dinheiro (podem fazer as vossas compras nos supermercados Extra, Kiwi ou REMA 1000, por exemplo).
Se quiserem comer fora, há vários restaurantes italianos e por ali os kebabs são muito interessantes também. No que a comida local diz respeito, não provámos, mas recomendaram-nos algumas coisas. Nomeadamente provar os queijos típicos do país - Brunost (queijo castanho, com sabor adoçicado) ou o Kraftkar (queijo azulado) -, o Kjøttboller (almôndegas com um toque de gengibre), Fårikål (ovelha estofada, é o prato nacional), o pão Lefse e, claro, o salmão e o bacalhau.
Espreitem o Oslo Street Food, um mercado ao estilo Time Out, onde têm (boas) opções de todos os tipos.
Já agora, estejam de olho nos mercadinhos, onde têm muita comida para provar e comer... de borla. Português não perdoa!
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Por Fábio Lima