Saleiro cresceu num bairro problemático, contudo recorda acima de tudo a "tremenda liberdade" quando deu os primeiros pontapés na bola nas ruas da Musgueira Sul. Apesar de ser sportinguista desde o berço, apenas enveredou pelo futebol graças à insistência de um amigo. Do campo de futebol ao campo da vida, foi, em 1986, o primeiro bebé proveta em Portugal, com mão de um médico... benfiquista. No Sporting, encontrou Cristiano Ronaldo RECORD - Cresceste em Lisboa, no bairro da Musgueira Sul, que por vezes tem uma reputação de ser uma zona algo problemática. Sentiste isso na altura?
RECORD - Cresceste em Lisboa, no bairro da Musgueira Sul, que por vezes tem uma reputação de ser uma zona algo problemática. Sentiste isso na altura?
SALEIRO - Nasci lá, tal como os meus pais. A minha infância no bairro foi até aos 8 ou 9 anos, coincidiu mais ou menos com a minha entrada no Sporting. Depois saí do bairro para uma casa que a câmara nos deu e onde os meus pais ainda hoje vivem. O bairro foi depois destruído para fazerem prédios, o que é hoje conhecido como a Alta de Lisboa. Sei que era um bairro problemático, com o norte e sul ali pegados. Mas era uma tremenda liberdade. Lembro-me de jogar na rua, sem carros a passar, com duas pedras ou o que fosse a fazer de baliza. Obviamente havia problemas, mas não tenho muito a noção disso, até porque era miúdo. Sei que vivíamos numa casa pequena, não havia espaço para todos. Tinha um quarto, uma sala, uma cozinha e uma casa de banho. Éramos 6, os meus pais dormiam no quarto, com a minha irmã, que na altura era pequena. Eu e os meus irmãos ficávamos no sofá-cama. Na nova casa cada um já tinha a sua cama. R - Dizes que desde sempre foste adepto do Sporting. De onde remonta essa preferência?
R - Dizes que desde sempre foste adepto do Sporting. De onde remonta essa preferência?
R - E como se deu a oportunidade de integrar a formação do Sporting?
R - E como se deu a oportunidade de integrar a formação do Sporting?
R - Mas o 'bichinho' falou mais alto...
R - Mas o 'bichinho' falou mais alto...
R - Além da carreira profissional no futebol, a comunicação social da altura fez também algumas reportagens por teres sido o primeiro bebé proveta em Portugal. R - É algo que, naturalmente, acompanha-te.
R - Além da carreira profissional no futebol, a comunicação social da altura fez também algumas reportagens por teres sido o primeiro bebé proveta em Portugal.
R - É algo que, naturalmente, acompanha-te.
R - Entraste no Sporting numa altura em que ainda não existia a Academia, inaugurada em 2002. Que tipo de condições existiam no pré-Alcochete? 
S - Apanhei três fases. Quando comecei, existiam os campos de treino à volta do antigo estádio e os balneários eram modernos. Mais tarde, quando começaram a destruir parte do estádio, tiraram os balneários e jogávamos no Sporting da Torre, no campo da Musgueira ou no da Encarnação. Foi uma pequena loucura, mas naquela altura és um miúdo e estás no Sporting, as pessoas dizem para ires para a esquerda e vais. Íamos naquelas carrinhas, algumas quase sem bancos. A outra fase foi a transição para Alcochete. Era uma diferença enorme: vários campos, balneários novos, um ginásio com várias máquinas. Luxos que nós não tínhamos e que nos fizeram crescer como jogadores. Não faltava nada, pedíamos meias, camisolas, cuecas ou até chuteiras e davam-nos.
R - És da geração de ’86, a mesma do Miguel Veloso, João Moutinho ou Yannick Djaló. Desde cedo eram vocês os craques da equipa ou havia um ou outro nome que diziam ‘este vai dar jogador’ e depois não conseguiu chegar lá?
S - Na formação é giro, porque vais a um jogo dos iniciados e vês um miúdo que pensas que é um fora-de-série, mas se olhares atentamente para outro miúdo ao lado percebes que ele também é bom, mas não teve ainda a maturação que devia ter ou que irá ter mais tarde. Dois ou três anos depois percebes que a ‘máquina’ ficou para trás e o outro ultrapassou-o. Mas esses nomes que dizes sempre se destacaram ao longo da formação, foi uma geração que quase sempre jogou junta e que ganhou um campeonato de juniores com o Paulo Bento. Eu era de ’86, mas em infantis jogava com os mais velhos. Coincidiu até com a vinda do Cristiano Ronaldo.
R - Já na altura o Cristiano Ronaldo era, como se diz, um fora de série? Só via futebol à frente?
S - Quando joguei com ele, era ele mais velho, devia ter 12 e eu 11. Desde logo conseguias perceber que estava algo ali fora do normal. Eu, depois de treinar, ia logo para casa, não sei o que é que ele fazia no centro de estágio. Dizem que ele passava horas no ginásio. Nunca vi, mas acredito, dada a ética de trabalho dele. Não digo que ele ia 7 vezes por semana, mas em 4 ou 5 de certeza que estava escondido no ginásio, na Nave de Alvalade, como se dizia, mais o Semedo, o Fábio Ferreira ou o Miguel Paixão.
R - Ele que era um dos meninos de ouro de Aurélio Pereira. É um nome incontornável da formação do Sporting?
S - O professor fez um excelente trabalho e tinha uma grande equipa com ele. Teve dedo na escolha de muitos jogadores, apesar de não ter sido o meu caso, pois quem deu o ‘OK’ foi o mister César Nascimento e o Osvaldo silva. Comecei no Sporting com 8 anos, em ‘94, e estreei-me na equipa principal em 2009. Já viste o que é um trajeto de 15 anos? Quando chegas à equipa principal é o auge, na minha opinião.