Vicente Lucas: «Tinha jeito para anular o Pelé»

Vicente Lucas: «Tinha jeito para anular o Pelé»
Vicente Lucas: «Tinha jeito para anular o Pelé»

RECORD – O que sentiu ao reviver estes locais?

VICENTE LUCAS – Olhe, nem consigo dizer. Fiquei… Senti-me outra pessoa. Quando vi e entrei neste hotel onde estivemos há 50 anos, num momento tão bom das nossas vidas, fiquei muito feliz. Vieram-me à memória muitas recordações e tal como quando fomos recebidos em Goodison Park de uma forma extraordinária. Nunca esquecerei este momento.

Como recorda esses momentos do Mundial de 1966?

VC – Como tendo sido dos melhores que vivi. Quando me disseram que eu ia jogar com a Hungria fiquei surpreendido, porque não tinha atuado na fase de qualificação. Fiquei muito satisfeito por jogar e mais ainda por tê-lo feito bem e ganharmos por 3-1. Foi um jogo tremendo, muito difícil. Depois veio a Bulgária, voltei a fazer um bom jogo e fui sempre titular até me lesionar num dedo da mão esquerda com a Coreia do Norte. Nesse jogo, quando começámos a sofrer os golos perguntei ao Coluna: "Quem está a marcar quem?" E ele respondeu-me: "Não sei, eles são todos iguais." Estávamos muito atrapalhados.

Ficou conhecido como o jogador que secou Pelé várias vezes?

VC – Mas essa história começou antes do Mundial. O Pelé é uma sorte na minha carreira. Ele tinha qualquer coisa comigo que não me podia ver, o que sucedeu desde a primeira da meia dúzia de vezes em que nos defrontámos. A verdade é que mesmo com a bola dominada eu chegava e desarmava-o sem lhe tocar. Não sei como, não sei explicar. Era assim.

O que lhe dizia ele?

VC – Dizia "muito bem Vicente", surpreendido pelo modo como lhe roubava a bola sem lhe dar pancada. Houve uma jogada nesse Mundial, em que ele ficou lesionado, à qual me associam. Mas não fui eu quem lhe tocou. Foi o Morais. Na verdade, o Pelé nunca me disse nada para além disso: "Muito bem Vicente." É estranho mas, de facto, contra mim o Pelé nunca fez nada. Não sei porquê. Eu tinha um jeito especial para antecipar as coisas que ele fazia. Nas primeiras vezes, a malta dizia-me. "Vicente, o Pelé vai dar cabo de ti." Eu respondia que isso não me interessava e jogava apenas o que sabia. Marcou uma vez um golo porque me deu uma cotovelada nos lábios mas, no resto, não lhe dava hipóteses.

Ele já tinha um certo complexo quando jogava consigo?

VC – Talvez. A partir de certa altura os jornalistas brasileiros criticavam-me por não deixá-lo jogar. Mas ele saiu em minha defesa, ao afirmar que mais valia ser anulado com correção do que por adversários que o matavam com pancada.

Como era o ambiente ?

VC – Excelente. Estávamos juntos para o mesmo. Para o sucesso de Portugal. Havia jornalistas portugueses aqui e brincávamos todos uns com os outros.

 O que mais relembra desse período?

VC – Recordo o Torres. Era um grande homem, um grande companheiro e um grande jogador. Tenho saudades dele.

Há uma foto do Vicente com o chapéu de cozinheiro…

VC – Fomos brincar para a cozinha. Depois houve alguém que agarrou uma galinha com a mão – acho que era o Morais. Foi uma fotografia que ficou para sempre. O Nuno Ferrari estava sempre connosco.

R – São momentos únicos?

VC – Esse Mundial de 1966 ficará para sempre na minha memória. E esta visita ajuda a recuperar pormenores que já tinham passado. *

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