Martunis já terminou os estudos obrigatórios, mas quer mais. Por enquanto, a faculdade, meta que traçou para o próximo ano, terá de esperar e ajuda o pai, homem que, como a esmagadora maioria dos habitantes de Banda Aceh, vive do trabalho no campo e, mais propriamente, da pesca. A criação de gado caprino – que anda livremente pela estrada, como se fosse um cão de rua – é outra ajuda da família. Esta, segundo o pai Sarbini, conseguiu construir a casa graças à ajuda que chegou de todo o Mundo, em especial de Portugal.

A casa tem algo que facilmente ajuda a perceber quem nela habita. As paredes da sala, logo à entrada, estão cheias de fotos de Martunis.Não atuais, mas sim de há dez anos. Em quase todas tem a camisola de Portugal.Há com a Seleção Nacional,Luiz Felipe Scolari ouSepp Blatter.Momentos inesquecíveis.

Martunis não gosta muito da ideia de ter de ajudar o pai – aliás, chegou a confidenciar-nos que estava contente com a nossa visita, pois isso era uma oportunidade para sair e ter um dia mais livre –, mas sabe que é necessário: “Fico triste por saber que o meu pai está doente. Ele é uma boa pessoa e somos felizes. Não tenho coragem de dizer que não quero sair da cama ou ir jogar futebol. Eu quero ajudá-lo. Espero ter dinheiro para a universidade. Isso deixar-me-ia muito feliz.E a ele também.” Uma frase longa, nem parece dele...

Família

Martunis perdeu a mãe e o casal de irmãos que tinha na altura do tsunami. Agora, o pai casou-se de novo, com a simpática Ismaniah, e têm três filhos. Riadzuljannah, de 6 anos, Safira, de 4, e Muhammad de 3. Todos eles têm semelhanças comMartunis, até na abordagem: são tímidos, estranham as pessoas de longe, mas são acolhedores. Com o tempo, começam a sorrir.