Deixou um rasto de talento e inovação. Futebolista imortal, o seu legado técnico constitui uma espécie de património da humanidade. Homem introvertido, o Divino Calvo saiu ostensivamente de cena mal a
Deixou um rasto de talento e inovação. Futebolista imortal, o seu legado técnico constitui uma espécie de património da humanidade. Homem introvertido, o Divino Calvo saiu ostensivamente de cena mal abandonou os relvados. Onze parceiros de caminhada recordam hoje o maior génio defensivo do futebol português e um dos mais extraordinários do Mundo.
1 - ANTÓNIO SIMÕES
"Começo pelo resultado da minha mais profunda convicção: Germano Figueiredo foi o primeiro Beckenbauer da história do futebol. O alemão foi um grande jogador, que deu à função de defesa e ao futebol em geral uma dimensão substancialmente maior. O problema é que Germano foi tão bom como ele, porque revelou, há mais de 50 anos, as soluções técnicas e táticas que lhe permitiriam dar hoje resposta às mais complexas exigências da competição; à multiplicidade de funções e à evolução da dinâmica do próprio jogo. Nessa altura, já revelava, por inteligência e capacidade de leitura de tudo quanto se passava à volta, uma relação muito confortável com o ritmo e a exigência tática e física. Estava muito à frente do seu tempo, razão pela qual não sentiria qualquer problema em compreender o futebol de hoje. Germano é um jogador intemporal, porque o pilar de qualquer futebolista assenta, fundamentalmente, na inteligência e na compreensão do que faz em campo. Poucos como ele foram capazes de alimentar a polivalência com valores tão elevados. Não se trata de ter 10 ou 12 a físico-química, português, matemática e história; trata-se de ter 18 a todas as disciplinas. E depois ainda tinha uma espécie de qualidade final: ele e José Águas até no erro eram de uma elegância suprema. Como se costuma dizer noutras circunstâncias, eram tão bonitos que qualquer coisa lhes ficava bem."
Magriço e campeão europeu pelo Benfica (1961/62)
2 - VICENTE LUCAS
"Quando cheguei a Lisboa, ao Belenenses e ao campeonato nacional, em 1954, o Germano era médio. E era dos melhores. Sempre me impressionou o modo simples como resolvia as situações mais difíceis. Com o decorrer do tempo foi recuando no terreno até se fixar atrás, como um dos melhores defesas-centrais da história do futebol português. Para lá da qualidade técnica e da capacidade para usar o físico sempre na medida certa, tinha uma intuição extraordinária. Por exemplo: sabia sempre onde a bola, vinda de longe, ia cair, razão pela qual quando os avançados se preparavam para disputá-la já ele lá estava há tempo suficiente para escolher o sítio exato e o posicionamento adequado do corpo para sair vencedor dos duelos. A iniciar os lances a partir de zonas recuadas era tremendo: pegava na bola e ia por ali fora, galgando terreno, como se fosse proibido desarmá-lo. Tinha ainda outra qualidade muito interessante, que era a precisão do passe longo. No Mundial’66 já não era jovem (tinha 33 anos) mas, apesar de só ter feito um jogo, ainda estava em muito bom estado."
Magriço e jogador do Belenenses (1954/67)
3 - FERNANDO CRUZ
"Foi um jogador excecional, diferente da normalidade que caracterizava os defesas. E foi um grande companheiro. Nada que nos tivesse surpreendido, porque, antes de chegar ao Benfica, já tinha revelado talento extraordinário ao serviço do Atlético e até da Seleção. Às características necessárias como central, acrescentava uma técnica superior, que lhe permitia jogar com a mesma riqueza de argumentos dos companheiros mais adiantados. Quer dizer: era duro, rápido, antecipava-se aos adversários e jogava bem de cabeça, mas também era capaz de pegar na bola, conduzi-la e passá-la com a qualidade técnica de um médio. Foi um dos grandes, talvez mesmo o maior central do futebol português. Mas é a prova de que nem esses fenómenos com lugar reservado na história são perfeitos: o Germano nunca fazia uma cobertura lateral, algo que me obrigava, bem como ao Neto, a muito cuidado na gestão desse espaço. Depois dele fui sensível à classe do Humberto Coelho."
Magriço e bicampeão europeu pelo Benfica (1960-1962)
4 - JOSÉ CARLOS
"Falamos de um daqueles raros jogadores consensuais, que estão para lá das rivalidades clubísticas e resistem ao tempo. O Germano foi um grande jogador, que se expressou nas mais diversas funções e com a mesma eficácia. Tendo acabado a carreira como defesa, foi sempre referenciado a partir da técnica extraordinária e da notável visão de jogo que o caracterizou do princípio ao fim da carreira. Foi um jogador importantíssimo em todas as equipas, desde o Atlético ao Benfica, passando pela Seleção Nacional, onde tivemos oportunidade de trabalhar e jogar juntos. Manteve um prestígio imenso no futebol, que dura até hoje. Se aparecesse agora, olhando para a qualidade dos melhores centrais da atualidade, seria um dos melhores do Mundo e, certamente, um dos mais caros e apetecíveis do mercado. Como pessoa era muito introvertido. Falava pouco, resguardava-se da exposição pública e assim se manteve até ao fim da vida. Dele guardo a imagem de um homem fechado mas de bom trato, que ia para estágio com um livro e passava o tempo todo a ler."
Magriço e vencedor da Taça das Taças pelo Sporting (1963/64)
5 - JOSÉ AUGUSTO
"São raros os jogadores que, vivendo numa época específica, acedem à história como estrelas de todos os tempos. O Germano foi um predestinado não só para o futebol como para o desporto. Lembro-me de fazermos alguns treinos de basquetebol e de o ver executar movimentos de correção como se dominasse a modalidade. Eu, que joguei basquete antes do futebol, olhava para ele e ficava deslumbrado com tanta intuição. Como futebolista foi um fora de série, inteligente e tecnicista. E um falso lento, porque nos testes de velocidade, os mais rápidos eram ele, eu e o Eusébio. Mesmo reconhecendo a classe de Félix Antunes e Humberto Coelho, Germano é uma referência absoluta do futebol português, o melhor português de sempre e um dos melhores da história do futebol. Não tomava decisões erradas, porque tinha a noção perfeita se devia ir ou não; se devia zelar pelo espaço ou atacar a bola; de intercetar ou explodir na perseguição. Acresce a esta admiração que me leva a considerá-lo um dos expoentes máximos da história, uma profunda relação de amizade. O Germano sempre foi um solitário. Depois do final da carreira encontrámo-nos muitas vezes, no Barreiro, onde ele se deslocava com a companheira para confraternizarmos. Quando ele faleceu, a senhora disse-me: ‘O seu amigo partiu a gritar por si.’ Fiquei muito perturbado com isso. É daquelas coisas que jamais esquecerei."
Magriço e bicampeão europeu pelo Benfica (1960/61)
6 - HILÁRIO DA CONCEIÇÃO
"Guardo do Germano a imagem de um grande senhor, dentro e fora das quatro linhas. Sempre o encarei como o meu padrinho na Seleção. Desde a primeira vez que fui convocado, numa altura em que ele já era um jogador experiente, sempre revelou atenções comigo que muito contribuíram para a minha evolução. Não era de falar muito mas dizia o suficiente para que eu retificasse o que ele entendia como erros. Para mim foi um dos melhores defesas-centrais do Mundo, com a vantagem de ser polivalente e igualmente bom nas outras tarefas. Recordo-me de um jogo que o Sporting fez na Tapadinha; estávamos a ganhar por 2-0, até que o treinador do Atlético decidiu colocar o Germano a ponta-de-lança; empatámos 2-2, com 2 golos do Germano. Era um jogador fabuloso, um excelente padrinho e professor de quem guardo as melhores recordações. Lembro-o como um catedrático da defesa, que me via dar um pontapé para a frente e me dizia ‘calma Hilário, sai a jogar, estavas só’. Aprendi muito com ele."
Magriço e vencedor da Taça das Taças pelo Sporting (1963/64)
7 - ARTUR SANTOS
"Recordo o Germano com a bola nos pés, galgando terreno com a cabeça levantada, dando uma dimensão mais abrangente à função de defesa-central. Com essas características de eleição veio do Atlético, impôs-se no Benfica e consolidou-se na Seleção Nacional, como se fosse indiferente aos palcos que pisava. Para lá dessa capacidade construtiva, traduzida no modo como dava início ao processo criativo da equipa, era um defesa com todas as qualidades táticas e físicas específicas para a função. Germano foi, assim, um dos grandes expoentes do futebol nacional. É a continuação de uma escola e, ao mesmo tempo, a sua consolidação. Deu seguimento à expressão sublime de Félix Antunes, que chegou a ser considerado o melhor central da Europa nos anos 50, e foi o precursor de Humberto Coelho, que iniciou a carreira no final dos 60 e só terminou na primeira metade da década de 80."
Campeão europeu pelo Benfica (1960/61)
8 - RUI RODRIGUES
"Participei no estágio para o Mundial’66 e, para se medir o impacto que o Germano tinha em mim, nos treinos ia sempre atrás dele só para vê-lo correr. Era o meu ídolo. Mais do que observá-lo, também no modo como se movimentava em campo e tocava a bola, o meu objetivo era imitá-lo. Sabendo que era impossível, tentava pelo menos aproximar-me do estilo, que parecia adaptar-se às minhas características físicas: como eu não era robusto ou pujante, compensava jogando simples, sem inventar, ao primeiro toque, aprimorando a técnica individual. Conheci-o nesses 15 dias de estágio e confirmei o que se dizia no meio: era um homem especial, muto introvertido, que se afastava do centro dos acontecimentos e desviava-se para um canto onde ficava horas a fio a ler os seus livros. Nunca mais nos cruzámos. Ele seguiu para o Mundial, eu fui chamado pelo treinador (Otto Glória) que me disse: "Calma miúdo, tens tempo, a tua hora vai chegar mas não agora." Não esquecer que, para lá de ter 23 anos, representava a Académica. Acho que o peso das camisolas também teve influência nas escolhas."
Internacional por Académica, Benfica e V. Guimarães (1962-1979)
9 - AMÉRICO LOPES
"O Germano era um homem bem formado, inteligente, muito fechado consigo próprio que, nos estágios efetuados ao serviço da Seleção Nacional e, nomeadamente, na campanha do Mundial’66, se fazia acompanhar, quase sempre, de um livro. Apesar de reservado, o que lhe dava uma imagem distante, era boa gente. Dava para ver. Como jogador não oferecia a mínima dúvida: era um dos melhores do seu tempo, com a particularidade de sê-lo qualquer que fosse a missão. Lembro-me de o vê-lo como avançado e depois como centro-campista, até se fixar no eixo central da defesa. No Atlético, uma equipa modesta, já sobressaía por ser muito melhor do que os outros. Quando foi para o Benfica já era internacional. No Mundial’66 já estava na curva descendente da carreira mas, mesmo assim, ainda se encontrava em boas condições. Perdi-lhe o rasto quando abandonou. Mas, face ao contacto que tive com ele, parecia-me indicado para se dedicar ao treino dos miúdos."
Magriço e jogador do FC Porto (1958-1969)
10 - MÁRIO JOÃO
"O Germano foi um dos melhores centrais do Mundo, com a particularidade de, nos anos 60, só ter um ponto de comparação: Franz Beckenbauer. Era um excelente companheiro, um grande amigo e um jogador excecional. Tinha uma técnica perfeita, era bom de cabeça, jogava com qualquer dos pés, driblava como um senhor e era imperial no modo como saía a jogar de trás. Acho mesmo que era bom em tudo quanto fazia. Jogámos juntos durante três anos, nos quais vencemos duas Taças dos Campeões e dois campeonatos nacionais – parece incrível mas só há quatro bicampeões europeus vivos, eu, o Ângelo, o Cruz e o José Augusto. Depois eu saí para a CUF, ele continuou no Benfica, altura a partir da qual passei a apreciá-lo mas como adversário. Guardo as melhores recordações dele. Foi um grande amigo e um futebolista como houve poucos no Mundo. Tal como sucedeu com Eusébio, também ele foi mais admirado no estrangeiro do que em Portugal. Quando íamos lá fora era sempre aplaudido e reconhecido."
Bicampeão europeu pelo Benfica (1960-1962)
11 - FERNANDO TOMÉ
"Coincidimos como jogadores durante pouco tempo: quando cheguei estava ele a despedir-se. Por isso, tenho de Germano a perspetiva do adversário mas, principalmente, do jogador que me habituei a admirar. Era um jogador que alimentava a sensação de não estar lá mas, quando era preciso, mostrava ser omnipresente. A sua categoria impunha admiração e respeito a companheiros e adversários, pelo que era uma figura imensa. Antes de atingir o máximo, isto é, de trocar o Atlético pelo Benfica, contrariou a doença que parecia fatal (tuberculose) e regressou ainda mais forte. Quando recuperou não era certo que voltasse a jogar mas afirmou-se como um dos melhores de sempre. O Germano foi uma sumidade na função que desempenhou atrás, com a particularidade de ter feito a viagem desde terrenos mais adiantados – com características diferentes, faz-me lembrar o percurso do Emídio Graça, jogador internacional, irmão mais velho do Jaime, que representou o V. Setúbal. Quando se consolidou como defesa, impunha-se também com os argumentos de uma técnica refinada. Pelo estilo e influência no jogo, só o posso comparar ao que o Beckenbauer veio a fazer anos mais tarde. Sem menosprezar os restantes, foi um caso à parte."
Internacional por V. Setúbal e Sporting (1965-1978)
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