“Ele nunca esteve no museu”, conta-nos Fidos. Estaria ele feliz pela nossa companhia? “Ele está. Acabou de me dizer que gosta dos dois irmãos portugueses. O sítio onde vamos pode fazê-lo ceder. É normal. Trata-se de algo com muita carga emocional”, continua o nosso fiel companheiro. O memorial das vítimas desperta pouco, se mesmo alguma coisa, aos visitantes estrangeiros. É local de peregrinação no feriado de dia 26. O epicentro da lembrança, vamos chamar-lhe assim. Mal chega ao local, enquanto nos preparávamos para tirar algumas fotografias e gravar planos, o menino ameaça começar a chorar. De facto, o coração destas pessoas, pese embora enorme, tem feridas. Profundas.Martunis tem o amor em casa, mas a onda, essa maldita, tirou-lhe muito outro mais que não volta.

Segue-se o museu, edificado pela ONU e, convenhamos, bem ao lado de tudo o que podemos encontrar emBanda Aceh. Nada daquela arquitetura moderna diz sobre o povo local. Mas lá dentro há lembrança, nem sempre respeitada por todos aqueles que apenas olham para o edifício como mais um ponto turístico.Vamos entender uma coisa: em Aceh o turismo é baseado no surf e nas memórias sujas de sangue e lágrimas do passado, que tem com ele o carimbo de uma sentença a quem não cometeu qualquer crime.

Enquanto esperávamos para entrar, muito silêncio. Uma rapariga que olhou para nós, sorriu, acenou e voltou a sorrir.Martunis olhou para o chão e em seguida explorou a fachada. Toca-nos no ombro.Quer contar alguma coisa.Tão raro, um diálogo começado por ele: “Portugal”, diz, apontando para uma bandeira no meio de muitas que dizem a mesma palavra em diferentes línguas: paz. “Sabes o que é?”. Martunis cerra os olhos e coloca a mão no peito: “Sim”. O tsunami trouxe o fim da guerra, mas também o terror durante meses. Foi aí que demos com o propósito do museu: uma oportunidade para começar de novo.