Surfista de 21 anos sagrou-se este ano campeã nacional pela primeira vez
Surfista de 21 anos sagrou-se este ano campeã nacional pela primeira vez, mas sonha em chegar ao principal circuito do surf mundial. "É um objetivo que já esteve mais longe", conta.
RECORD - És natural do Algarve. Foi lá que apanhaste as primeiras ondas?
YOLANDA SEQUEIRA – Fiz a minha primeira surfada na Quarteira, numa escola que tinha acabado de ser formada.
R - O que é que te motivou a pegar numa prancha e a ir para dentro de água?
YS – Aprendi a nadar ainda muito nova. A minha irmã ensinou-me quando eu tinha um ano e meio e, por isso, estive sempre ligada à água. O meu pai tinha uma casa ao pé da ilha do Farol e passava lá os meus verões todos a nadar e a pescar. Estive sempre ligada ao mar. Já fazia natação e futebol e pensei experimentar uma coisa diferente. Quando experimentei pela primeira vez, fiquei logo com o ‘bichinho’.
R - Mas as ondas no Algarve não eram as melhores…
YS – Não eram grande coisa [risos]. Em Quarteira é preciso haver tempestades para aparecerem ondas boas. Não têm tanta consistência como no Norte.
R - Seguiu-se Sines...
YS – Pois! Andava pelo Algarve à procura de sítio para me treinar. Cheguei a ir a Portimão, mas sentia que o meu surf não estava a evoluir da maneira que queria. Por acaso conheci o John, o meu treinador, num campeonato regional lá em baixo. Ele na altura fazia um Summer Camp em Sines e foi das melhores experiências que tive. Passado dois anos deixaram de fazer esse Summer Camp, mas eu continuei a ir para lá de autocarro aos fins de semana só para ir lá surfar.
R - Foi duro fazer essas viagens?
YS – Custou-me muito! Eu não venho de famílias ricas e custou-me um bocadinho no bolso. Fiz o sacrifício porque era o que queria fazer e o John é um grande treinador e sabia que me podia levar a patamares mais elevados.
R - Conseguiste o título de campeã nacional este ano. É uma época a correr de feição?
YS – Foi a época em que evoluí mais. Treinei-me como nunca, mas abdiquei de muita coisas.
R - O que é que ficou para trás?
YD – A família e os amigos. As pessoas não pensam nisso, mas torna-se duro. Não poder ver a família é difícil. Tenho um sobrinho que tem 3 anos e quase não o vejo e não acompanho o crescimento dele, o que me deixa triste. Mas isto está a dar resultados e vai levar-me ao meu grande objetivo: o campeonato mundial.
R - Qual foi a sensação de te sagrares campeã nacional?
YS – Foi incrível! Foi um objetivo que já tinha em mente há muito tempo. O ano passado estive tão perto e tão longe e fui ‘vice’. Sabia que se queria ser campeã nacional, tinha de dar tudo e ser mais consistente e radical durante os meus ‘heats’.
R - Em agosto venceste uma prova do qualifying, em Inglaterra. Foste a segunda portuguesa a conseguir fazê-lo. Como é que descreves a prova?
YS – É uma prova que está no meu coração. Tenho família em Inglaterra e amigos lá a apoiar-me na praia. Foi um ambiente incrível.
R - Sentiste o circuito mundial de surf mais perto depois dessa conquista?
YS – Sim. Consegui sentir que o meu esforço foi recompensado e que o que estou a fazer está a levar-me na direção certa.
R - Estás atualmente no lugar 68 das Qualifying Series (QS). O que é preciso para chegares ao circuito mundial?
YS – Nas raparigas, é chegar ao top 6 do QS.
R - É o teu grande sonho chegar ao campeonato mundial?
YS – O meu grande sonho é ser a primeira portuguesa a ganhar o campeonato mundial.
R - Esse objetivo está mais perto?
YS – Já esteve muito mais longe do que está neste momento. Vou dar tudo este inverno para evoluir como no ano passado e estarei muito mais perto. Talvez haja a oportunidade de me qualificar no final do próximo ano.
R - Usas Yolanda Sequeira nas provas nacionais e Yolanda Hopkins lá fora. Qual é o motivo?
YS - Eu utilizava Yolanda Hopkins antigamente no circuito nacional e ninguém percebia que era portuguesa por serem dois nomes esquisitos. Gosto muito do nome Sequeira mas o Hopkins dá mais ênfase. Lá foram chamam-me mais Hopkins do que Yolanda.
R - Fazes do surf vida?
YS – Sim. Neste momento estou a fazer as minhas viagens todas com o dinheiro que ganhei no campeonato nacional e através do apoio de amigos que me criaram contas de ‘crowdfunding’ para me ajudarem a chegar aos ‘qualifying’ internacionais.
R - A escola ficou para trás?
YS – Eu não acabei o 12º ano. Foi difícil conciliar. Deixei uma disciplina para trás, mas vou acabar por fazê-la. É preciso tempo e eu não tenho muito. Foi na altura em que andava a fazer as viagens do Algarve para Sines.
R - És daquelas pessoas que se levantam de madrugada para ir treinar?
YS – Definitivamente! Antes não era pessoa de manhãs, mas virei a vida ao contrário. Aproveito o dia desde o nascer até ao pôr-do-sol. Em Portugal, acordo entre as 5h e a 6h.
R - Presumo que no inverno deva custar mais sair da cama...
YS – É um bocadinho difícil, mas eu faço exercício logo de manhã, o que me acorda e aquece logo o corpo. Às vezes apetece ficar na cama, mas tenho de ser forte mentalmente para alcançar os meus objetivos.
R - Tens cuidados com a alimentação?
YS – Para ter uma performance de alto nível tem de ser uma alimentação cuidada. Os surfistas ainda não seguem muito essa rotina, mas deviam fazê-lo. Tenho uma dieta especial à base de proteína e vegetais. Não como massa, nem arroz, por exemplo. Nada de hidratos.
R - Qual foi o momento mais marcante da tua carreira?
YS – Já surfei frente a raparigas com muita qualidade. Um dos momento mais significativos foi quando surfei com a nº 1 do Mundo, a Carissa Moore. Surfar um ‘heat’ no Japão com ela foi muito intenso. E estive tão perto de ganhar, foi por pouco!
R - Estavas nervosa por surfar frente a uma das tuas grandes referências do surf?
YS – Não me senti nervosa. Deu-me mais garra de mostrar o meu surf e fazer melhor.
R - Ela disse-te alguma coisa no final da prova?
YS – Ela e o treinador vieram dizer-me que estava a surfar muito bem. Eu primeiro dei-lhe os parabéns e ela disse que gostou muito de me ver. O treinador dela disse que o meu surf foi muito poderoso.
R - Presumo que tenha sido um enorme motivo de orgulho receber um elogio de uma pessoas que tu admiras tanto…
YS – Exatamente! [risos]
R - Estás ainda no início da carreira. Qual é agora o teu principal objetivo?
YS – O meu principal objetivo é subir no ranking e em 2021 entrar no campeonato mundial. É um objetivo ambicioso, mas realista e que depende também muito dos apoios.
R - O Frederico Morais já conseguiu a histórica presença nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Pensas que esta presença vai ter um impacto positivo no surf nacional?
YS – Definitivamente! O surf português nos Jogos Olímpicos vai dar muita visibilidade à modalidade. Mesmo as pessoas que não veem surf e não percebem, vão considerar um desporto sério, do qual as pessoas conseguem fazer vida.
R - Agora que o surf passou a ser modalidade olímpica, tens como grande objetivo estar um dia presente nos Jogos Olímpicos?
YS – Gostava muito e ainda não deixei essa ideia para trás. Quero muito fazer parte da equipa que vai para os Jogos Olímpicos no próximo ano, em Tóquio, e mal posso esperar para ir para um ISA Games [prova de qualificação olímpica] outra vez e dar o meu melhor para tentar entrar na equipa que vai aos Jogos Olímpicos. É um objetivo e ainda não desisti dele.
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