Pedro Sousa: «Narrar um jogo implica dar a própria opinião»

PARA os ouvintes da Renascença e para os telespectadores da Sport TV, Pedro Sousa é conhecido como o narrador que mais exprime e sua emoção quando está a narrar um jogo de futebol. “Não concebo uma narração sem emoção. Este é o meu estilo”, refere. E explica o porquê de tanto envolvimento: “Se a jogada, o golo, é espectacular por que é que não posso gritar? Se o jogo não vale nada, não vamos fazer dele uma final da Liga dos Campeões. São chatos, são chatos.”

Pedro Sousa dá ainda outro exemplo que, segundo ele, é mais flagrante: ”A narração ou um relato de um jogo da selecção nacional é sempre mais emotivo. Na Sport TV eu só comento jogos internacionais, nomeadamente, das Ligas espanhola e italiana, onde actuam muitos portugueses. É natural que me emocione.”

PUB

A diferença entre o futebol nacional e internacional também condiciona o trabalho do narrador/relator: “Como tenho o privilégio de narrar o futebol internacional, vejo a diferença. Da última época recordo o Real Madrid-Lazio, da Liga dos Campeões. O jogo foi espectacular, tal como a exibição de Figo, que nem dei pelo tempo. Assim qualquer pessoa gostaria de narrar uma partida.”

Sobre a forma que narra, Pedro Sousa afirma: “O narrador não precisa de ser uma 'picareta falante'. Deve limitar-se a anunciar o nome dos jogadores, dar notícias extra que estejam ligadas ao jogo, falar das curiosidades e depois dar opinião. Narrar um jogo implica também dar opinião. Sim, por que não? Não sou obrigado a dizer 'amém' a tudo o que o comentador diz.”

Pedro Sousa considera que ainda não se encontrou um estilo de narração: ”Narrar muita gente consegue, mas relatar não é para todos. O relato é uma arte. Exige atenção e muita descrição. Depois, o ritmo é completamente diferente. A narração deveria ser mais emotiva.” A língua portuguesa merece igualmente um comentário: “Fala--se muito mal português. A língua é fundamental para uma boa narração ou relato. Mas hoje em dia há menos preocupação em falar bem.”

PUB

Com 32 anos, casado, pai de duas filhas, com 2 e 6 anos respectivamente, Pedro Sousa começou a fazer relatos aos 18 anos, numa rádio local em Torres Vedras. Em 1988 começou a colaborar com a Rádio Renascença aos fins-de-semana. Dois anos depois vestiu a camisola, em definitivo, da emissora católica: “Gosto de fazer relatos, mas a notícia é o que mais me apaixona.”

Na memória ainda está o primeiro relato: “Foi o Benfica-V.Guimarães, jogo em que Diamantino fez uma rotura de ligamentos [na véspera da final da Taça dos Campeões], e estava acompanhado por Romeu Correia e Alves dos Santos.”

"É terrível fazer perguntas"

PUB

Outro dos aspectos que merece uma chamada de atenção de Pedro Sousa é o papel do jornalista: “As pessoas não estão preparadas para fazer perguntas. É terrível fazer perguntas.” E conta: “Às vezes manda-se o jornalista para uma conferência de Imprensa para colocar o microfone. O jornalista não faz uma pergunta e, muitas vezes, nem é ele a fazer o texto.“ Pedro Sousa realça ainda a diferença de tratamento entre a televisão e a rádio. “Há uns anos, quando íamos fazer um jogo lá fora, estávamos sempre com o coração nas mãos antes de começar, pois não sabíamos se a aparelhagem ia funcionar. A primeira coisa que dizíamos era: 'Alô Lisboa, alguém me está a ouvir?'” E conclui: “Daqui a uns anos, os jornais e as rádios vão ter de pagar para se sentarem na tribuna de Imprensa. O segredo é que as rádios continuem a ter os direitos da informação diária.”

"Rádio só de desporto é viável"

Questionado sobre a viabilidade de uma rádio só de desporto, Pedro Sousa responde: “Ouço falar nisso há tantos anos... Na minha opinião tem pernas para andar, é viável.” E acrescenta: “O basquetebol, o andebol e o hóquei em patins, no mínimo, são modalidades em que se deveria dar forçosamente mais atenção.”

PUB

O jornalista da Rádio Renascença já comentou basquetebol, um jogo do “playoff”, Estrelas da Avenida-Ovarense, mas prefere o futebol.

Pedro Sousa não resiste em fazer a comparação com o que se passa no país vizinho: “Nós não temos uma cultura desportiva. Em Espanha, os futebolistas e os dirigentes vão à rádio e televisão e não recusam falar de nada. Depois os próprios clubes obrigam os jogadores a falar. Aqui não. Parece que têm medo de falar ou só falam quando querem.” E adianta: “O Euro-2004 vai ser importante nessa mudança de atitude. A informação diária e desportiva terá de passar por esta área.”

Deixe o seu comentário
PUB
PUB
PUB
PUB
Ultimas de Fora de Campo Notícias
Notícias Mais Vistas
PUB