Ministério Público pede condenação de Paulo Gonçalves no 'E-toupeira' e este reage: «Já estou condenado, sou sempre o Toupeira»

Procurador mostrou-se inflexível em relação às acusações já feitas

• Foto: Vítor Chi

Prosseguiu esta manhã, no Campus da Justiça, o julgamento do caso 'E-toupeira', que tem como principal arguido Paulo Gonçalves, antigo assessor jurídico do Benfica. Depois de ouvido o perito da Polícia Judiciária, deu-se início à fase de alegações finais, altura em que o Tribunal pediu a condenação de todos os arguids e comunicou entender estarem provados os factos e crimes de corrupção ativa e passiva, não fazendo referência a penas. "Penso que o Tribunal já percebeu quem é o arguido Paulo Gonçalves. Poderia dizer como católico praticante que me preocupo só com a justiça divina, mas isso não é verdade. Também me preocupo com a justiça dos homens e estive sempre aqui, embora pela justiça pública já esteja condenado. Já estou condenado, sou sempre o Toupeira. Vou viver com isso para o resto da minha vida. Espero que em face da postura que demonstrei, por nunca ter faltado às várias sessões, se faça a justiça do Tribunal e não da opinião pública", disse já no final, num discurso curto, o agora agente de jogadores.

Paulo Gonçalves está acusado de aceder a informação privilegiada em segredo de Justiça no portal Citius através do amigo e também arguido José Augusto Silva, ex-funcionário judicial de Fafe que acedia indevidamente a processos com o conhecimento de Júlio Loureiro, outro arguido. Estes seriam recompensados "com convites para assistir a jogos do Benfica em bancadas privilegiadas do estádio, com oferta de vestuário do Benfica e produtos de merchandising". O também jurista ter-se-á mostrado, inclusivamente, disponível para de tudo fazer para garantir a "contratação do sobrinho de José Augusto Silva como funcionário do museu do Benfica".

Tiago Rodrigues Basto, defesa do jurista, pediu a absolvição do mesmo e sustentou: "A que título coparticipou Paulo Gonçalves? Estava ao lado dos outros arguidos a carregar nas teclas? Ou dizer-se que A pediu a B é crime? O povo diz que perguntar não ofende. Posso pedir o que quiser, pedir não é coparticipar. As camisolas do Samaris e do Svilar não podem contar como provas suficientes. Camisolas? Acontece em todo o lado, é banal. Paulo Gonçalves não teve nenhum comportamento anormal com estes convites. Há uma amizade com estas pessoas que vem muito de trás. Só mentes que estão sempre à procura do crime é que veem em todas as condutas essas ideias malévolas."

O Ministério Público entende que tais oferendas eram estabelecidas em troca da divulgação das referidas informações, que diziam respeito a processos judiciais que envolviam o Benfica e os seus rivais. Contudo, Paulo Gomes, defesa de José Augusto Silva, diz não "haver provas suficientes de que foram cometidos tais crimes", ao passo que o advogado de Júlio Loureiro ironizou: "Estava à espera da absolvição do meu arguido. Tentaram, e conseguiram, futebolizar este processo, e por isso é que ficou tão importante: já que visou não só um clube de futebol mas o maior clube de futebol português. Devo dizer, olhos nos olhos mas com todo o respeito, que o Ministério Público teve tanta ânsia de vir a jogo - gastou horas a fio no estudo de adversário e nas táticas e formas de se apresentar em campo - para que o jogo se realizasse, mas vossa excelência, na minha opinião e em relação a Júlio Loureiro, não compareceu."   

Este arguido, Júlio Loureiro está acusado de um crime de corrupção passiva, enquanto o funcionário judicial José Augusto Silva, que não esteve presente nesta sessão, responde por um crime de corrupção passiva, seis de violação do segredo de justiça, 21 de violação de segredo por funcionário, nove de acesso indevido, nove de violação do dever de sigilo, 28 de acesso ilegítimo e um de peculato.

Já o antigo assessor jurídico da SAD benfiquista está acusado de seis crimes de violação do segredo de justiça, 21 de violação de segredo por funcionário, nove de acesso indevido, nove de violação do dever de sigilo, em coautoria, além de um crime de corrupção ativa, dois de acesso indevido e dois de violação do dever de sigilo.

A leitura da sentença ficou agendada para 4 de novembro, às 14h30.

Por Rita Pedroso
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