O «Lampião da Estrela»

“LAMPIÃO da Estrela". Assim se chama mais um dos telefilmes da SIC, a exibir no próximo mês de Maio. Trata-se de um "remake" parodiando o clássico "Leão da Estrela", filmado em 1948, e referente ao campeonato de 1943/44. Um sportinguista (António Silva), alfacinha de gema, faz a viagem até ao Porto para assistir ao embate entre portistas e sportinguistas, decisivo para o título. O clássico terminou 3-1, com o resultado favorável aos leões, que nessa época se sagraram campeões nacionais.

Desta feita, não se trata do clássico FC Porto-Sporting, mas de um FC Porto-Benfica. Uma história de ficção, com mais de cinquenta anos, onde as semelhanças com a realidade são "pura coincidência". O argumento é bem diferente do filme de 48.

Em dia de Benfica-FC Porto, em que os encarnados se vêem obrigados a ganhar para continuar na luta pelo título, e num jogo que pode também ser decisivo para os dragões, que não podem deixar o Sporting distanciar-se mais na frente da tabela, Record decidiu revelar alguns dos pormenores deste telefilme, depois de ter acompanhado alguns dias de filmagens.

António Silva, Laura Alves e Artur Agostinho foram os nomes que celebrizaram o "Leão da Estrela". O elenco do "Lampião da Estrela" tem nomes como Herman José, José Pedro Gomes, Henrique Viana, São José Lapa, Maria d'Aires e Catarina Furtado.

O telefilme, em jeito de comédia, conta a história de um empresário de futebol, fanático benfiquista, Carlos Santos, interpretado por Herman José, que vive na esperança de efectuar uma transferência proveitosa para o clube do seu coração e para ele também. Através do seu grande amigo Louzada (José Pedro Gomes), proprietário de uma empresa de segurança - a Segorila -, Santos assegura o passe de dois jogadores moçambicanos e tenta vendê-los ao Benfica. Só que o porte atlético dos dois "craques" não convence os responsáveis do clube da Luz que se recusam a fechar o negócio para desespero de Santos.

Louzada, cúmplice do fracassado negócio, é obrigado a encontrar uma solução. É, então, que se lembra de Borges Pinto (Henrique Viana), conhecido empresário nortenho e um dos clientes da empresa de segurança.

Segundo Louzada, ninguém no FC Porto rejeitaria os jogadores que o Benfica recusara. A solução agrada a Santos, que se desloca à Cidade Invicta, “travestindo-se” de portista ferrenho, para negociar com Borges Pinto o passe dos dois jogadores e aproveita para assistir ao FC Porto-Benfica arbitrado por Jorge Coroado. O jogo é transmitido pela SIC e tem como narrador Jorge Perestrelo.

No Porto, o "falso" empresário portista acompanhado pela esposa (Maria d'Aires) e pelas duas filhas, Cristina (Catarina Furtado) e Vera (Alda Gomes) tenta agradar a Borges Pinto dando uma imagem de rico e conceituado empresário desportivo. Todos se rendem aos encantos de Santos até o herdeiro de Borges Pinto, André (Marco Horácio), ainda que por outras razões... Apenas Irene Pidwell (São José Lapa), uma aristocrata rica, de origem inglesa, e esposa do empresário nortenho, não se deixa levar pela conversa da família Santos e tudo o que ela representa: Lisboa.

Aí está o humor britânico ligado ao tema futebol e ao que ele tem de mais actual: o papel dos empresários a acentuar as rivalidades clubísticas (vide, esta época, as transferências “cruzadas” de Domingos e Toñito entre Sporting e FC Porto). Para ver, na SIC, lá para Maio.

A PRODUÇÃO

Os dois argumentistas, Eduardo Madeira e Henrique Cardoso Dias (ambos das Produções Fictícias, os responsáveis pelo Contra-Informação), escreveram o "Lampião da Estrela" no espaço de um mês e meio. O facto de trabalharem juntos há dez anos facilita este entendimento e rapidez de escrita: "Inspiramo-nos na realidade. É um chavão, mas a verdade é que a realidade supera muitas vezes a ficção", refere Henrique Dias.

Quando aceitaram o convite do Animatógrafo foi-lhes pedido um "remake" do "Leão da Estrela", só que desta vez com o Benfica a acentuar a rivalidade clubística e regional. "Em vez de fazermos um ‘remake’ e contarmos a história, tentámos torná-la mais actual. A introdução de dois jogadores simboliza a entrada de uma pessoa importante, hoje, no futebol: o empresário desportivo. Tanto mais que, nos últimos anos, o FC Porto tem sido acusado de ir buscar os jogadores ao Benfica", afirma Eduardo Madeira.

Os dois autores da história afirmam que o humor do "Lampião da Estrela” é muito inspirado no humor inglês. "Tínhamos que começar a introduzir este humor num tema ligado ao futebol. O humor é a única coisa decente que se pode escrever depois dos trinta anos."

Para primeiro filme, Henrique Dias e Eduardo Madeira afirmam que não podiam ter melhor sorte na escolha dos actores, que classificam de excelentes, sublinhando também a boa relação com o realizador: "Tudo o que o Herman acrescenta aos textos é para melhor, assim como o Diamantino. É uma continuidade ao nosso trabalho. Temos consciência que criámos uma história e que há certos pormenores que nos escaparam", sublinham os dois argumentistas.

A REALIZAÇÃO

Ligado à publicidade há seis anos (através da qual já recebeu inúmeros prémios), Diamantino Ferreira, de 33 anos, nasceu e viveu até aos quinze anos na África do Sul. O "Lampião da Estrela" marca a sua estreia como realizador de telefilmes. Uma semana depois do início das filmagens, o realizador afirma estar a gostar da experiência, apesar de dormir só três horas por dia. "O grande desafio para mim é que as pessoas percebam a história. Normalmente conto histórias de 30 segundos e agora tenho de contar uma de hora e meia." E adianta: "Gostava de ter começado com outro registo. A comédia é o mais perigoso de todos."

Diamantino Ferreira, benfiquista por influência da família, não tem (ou não tinha) uma ligação muito forte ao futebol, mas desde que aceitou o convite para realizar o "Lampião da Estrela" quase todos os fins-de-semana vai ao futebol para conhecer melhor o ambiente. "É muito engraçado aquele ambiente de raiz dos apaixonados do futebol. E acho que isso está bem patente nos dois personagens do filme." Viu o "Leão da Estrela" e classifica o "Lampião da Estrela" como uma farsa contemporânea, sem perder a comédia portuguesa.

A ligação à publicidade está bem patente na técnica de realização de Diamantino Ferreira. Por exemplo, uma das cenas do filme passa-se na pensão "Alcobia" e o realizador consegue imitar a iluminação do Estádio da Luz na pensão, numa das divagações de Santos: "Já estou a ver: Estádio da Luz, Liga dos Campeões: Benfica-Barcelona, 640 mil espectadores..."

A trabalhar em “cima do joelho”, Diamantino Ferreira afirma que a gestão do tempo tem sido o maior problema com que se tem deparado: "É uma gestão de tempo muito complexa, porque temos muitas vedetas, muito bem-vindas ao filme. Mas não tive muito tempo de preparação com os actores. Por exemplo, ensaiei o papel com o José Pedro Gomes pelo telefone, desde Nova Iorque."

HERMAN JOSÉ (CARLOS SANTOS)

Ainda Herman José estava na RTP quando foi convidado para protagonizar um telefilme. "Era suposto que fosse um ‘remake’ do ‘Costa de África’.

Aceitei, mas pedi que fosse só este ano. Não se chegou a um formato definitivo do ‘Costa de África’ e optou-se pelo ‘Lampião da Estrela’."

Herman José não percebe nada de futebol e no telefilme veste a pele de um fanático benfiquista que "come, vive e respira futebol": "É uma grande limitação para mim e tenho imenso desgosto nisso, mas dou-lhe a maior importância." E acrescenta a propósito de uma possível reacção de Pinto da Costa: "A personagem central é benfiquista, mas o Porto é muito bem tratado neste contexto. Este aspecto agrada-me."

O actor e humorista classifica assim a sua participação no filme: "Está a ser divertido e até é bastante leve. Só vou gostar quando o filme acabar e me sentar para o ver. Agora preferia estar numa praia das Caraíbas a apanhar sol."

Herman José tem um duplo para algumas cenas, mas mesmo assim não se livrou da queda, enquanto descia o corrimão da pensão. O comentário do actor: "Descer o corrimão é mais difícil do que eu pensava."

JOSÉ PEDRO GOMES (LOUZADA)

Há muito tempo que José Pedro Gomes tinha vontade de trabalhar com Diamantino Ferreira. O facto de trabalhar com Herman José ajudou na escolha do actor para interpretar o papel de Louzada. "Já há muito tempo que não trabalhava em cinema. A televisão é diferente, mas é o estilo que mais se aproxima do teatro", afirma o actor, que preparou o seu personagem num filme estrangeiro que Diamantino Ferreira lhe recomendou. José Pedro Gomes não percebe nada de futebol, nem sabe qual a equipa que vai em primeiro lugar no campeonato: "Nunca entrei num estádio. Às tantas já chamo ao João Pinto, João Figo. Mas estou a gostar muito do filme. É uma comédia e gosto muito deste género cinematográfico. "José Pedro Gomes realça o empenhamento de toda a equipa de filmagens e afirma que o telefilme tem todos os ingredientes para ter sucesso: "Vou ver o filme quando passar na televisão porque é a única oportunidade que tenho para o ver na totalidade."

HENRIQUE VIANA (BORGES PINTO)

Henrique Viana, conhecido como um adepto fervoroso do Benfica, interpreta no "Lampião da Estrela" o papel de portista. Uma troca de camisola muito do agrado do actor: "É um projecto muito engraçado. Dá-me muito prazer vestir a pele de portista porque vai de encontro à minha natureza e qualquer actor gosta é de encarnar o papel de outra pessoa." E acrescenta: "Para a semana vamos para o Porto gravar e espero ser recebido pelos portuenses com a mesma amabilidade que tenho sido recebido até aqui."

Além do gosto pelo personagem, Henrique Viana reencontra no telefilme "velhos" amigos, com quem já não contracenava há muito tempo: Herman José, José Pedro Gomes e São José Lapa. O actor espera que o "Lampião da Estrela" tenha o mesmo sucesso que teve o "Leão da Estrela".

JORGE PERESTRELO (JORGE PERESTRELO)

Quando recebeu o convite, Jorge Perestrelo teve uma certa relutância em aceitar: "Não gosto que conheçam a minha chipala [cara]!", afirma o narrador. À margem disso, sentiu um grande orgulho, para mais, porque no "Leão da Estrela" o seu papel era protagonizado por Artur Agostinho. E, para primeira vez, saiu-se bem pois gravou as cenas seguidas e todas de improviso: "Quando terminei e ouvi aquela ovação de palmas da equipa de filmagem senti-me pequenino." Gostou da participação, mas não deseja repetir a experiência porque quer salvaguardar a vida privada.

ODETE MARTINS

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