ESTE estágio da selecção nacional não começou da melhor forma para Pauleta. Uma gripe, que lhe provocou uma grande inflamação na garganta, impediu-o de apresentar-se no dia marcado e mesmo depois de ter chegado ao Algarve foi obrigado a mais um dia de cama, perdendo um treino.
Apesar de saber que não parte, por isso, nas melhores condições para discutir um lugar na equipa, Pauleta não desanima, pois, como sublinha, o gozo maior é estar presente entre os eleitos. Aliás, o desejo de ver Pauleta no "onze" já ultrapassou fronteiras e no Liechtenstein ele quase entrou a pedido do público, que não se cansou de gritar o nome dele.
Recordando esse dia, não esconde os sentimentos:
"É sempre uma enorme alegria quando ouvimos chamar por nós, para mais tratando-se de um jogo realizado fora do nosso país, o que significa que lá fora também estão atentos àquilo que vamos fazendo. Já tinha sentido algo parecido em Guimarães, mas no Liechtenstein foi, realmente, uma coisa muito bonita."
O açoriano referiu-se ao facto de ser reconhecido "lá fora". Isso para ele deve significar qualquer coisa de especial, até porque "cá dentro" só passou a ter reconhecimento público após provar, em Espanha, as capacidades de goleador.
"Em Portugal talvez não tenha sido reconhecido quando cá jogava. Curiosamente, ainda na passada semana jornalistas espanhóis me questionavam sobre aquilo que achava dos estrangeiros naquele país. E respondi-lhes com o meu exemplo. Quer dizer, a questão é semelhante àquela que os espanhóis agora levantam, acerca do número de estrangeiros que lá actuam e que ‘tapam’ os jovens locais. Disse-lhes que devido ao facto de em Portugal suceder o mesmo, as pessoas não me deram grandes oportunidades para me mostrar. Ao contrário do que sucedeu em Espanha, onde sou estrangeiro."
O papel de suplente na selecção não o aborrece e uma vez mais o vincou:
"Estou aqui para dar o máximo. Jogue cinco ou dez minutos, não interessa, quando entro faço-o com grande vontade de ajudar a selecção e sempre com a mesma alegria. Todos gostam de jogar de início, mas quando isso não é possível temos de aceitar e entrar com o mesmo pensamento de ajudar."
Por fim, comentou o próximo jogo com a Eslováquia, sem esquecer o segundo confronto, a realizar na quarta-feira:
"São dois jogos complicados porque temos de os ganhar para encarar o desafio da Roménia com mais tranquilidade. Estamos bastante moralizados, mas creio que o primeiro jogo, com a Eslováquia, vai ser o mais complicado, devido às mudanças que essa selecção fez nos últimos tempos. Mas todos os jogadores que aqui estão actuam em grandes clubes e estão habituados a lidar com a pressão que existe quando há obrigatoriedade de vencer. Por isso, vamos ter essa pressão mas estamos preparados para ela."
«ERA UM SONHO DE TODOS»
Pauleta vibrou de forma especial com a subida do Santa Clara à I Divisão. Ele jogou lá, quando a equipa militava na III Divisão e não esconde que gostava de terminar no clube açoriano a carreira como futebolista. E de preferência com a formação insular a jogar o principal campeonato português.
"Que grande alegria foi ver o Santa Clara subir à I Divisão! É algo que vai ser bom para os Açores e creio que o sonho de todos os açorianos era ver uma equipa do arquipélago na I Divisão. Isso foi conseguido com o esforço de todos, desde o povo ao Governo Regional, que fez o esforço necessário para criar essas condições ao Santa Clara."
Apesar de o clube açoriano estar a viver os seus melhores dias, a questão torna-se inevitável: conseguirá o Santa Clara criar condições para a manutenção entre os "grandes", ou terá uma passagem fugaz pela I Divisão? Pauleta, conhecedor da realidade dos Açores e do clube, responde:
"Espero que não seja uma passagem esporádica e que o Santa Clara consiga manter-se muitos anos no principal campeonato. Tem condições ou deve criá-las caso não existam. Para isso, tornar-se-á indispensável o apoio de todos, em especial do Governo Regional. Sem a ajuda governamental é quase impossível."
O Santa Clara representa os Açores. Mas não os jogadores naturais dessas ilhas. Significa que não existirão por lá atletas com valor? Não é essa a opinião do melhor jogador açoriano da actualidade:
"Pelo que conheço, existem lá alguns jogadores que podiam estar na I Divisão. Aliás, penso que esse terá de ser o próximo passo do futebol açoriano, ou seja, criar condições para a evolução das camadas jovens dos clubes. O facto de o Santa Clara estar na I Divisão deve contribuir para essa realidade. Há que criar condições para a miudagem. Seria importante o Santa Clara conseguir ter dois ou três açorianos na equipa, isso iria dar uma certa mística."
Pauleta, há não tanto tempo quanto isso, representou o Santa Clara, na altura a disputar o campeonato da III Divisão. Terminar nesse clube a carreira é uma opção?, questionámos:
"Sim, dava-me um gozo especial poder terminar a carreira no Santa Clara, de preferência na I Divisão. Mas mesmo que fosse na segunda, gostava de acabar lá. Mas só Deus sabe o que vai acontecer até final da minha carreira. Para já, tenho mais cinco anos de contrato com o Deportivo da Corunha, clube que estabeleceu em 20 milhões de pesetas a cláusula de rescisão. Mas na verdade esse número também tem pouco significado, caso alguém me pretenda."
BOA SORTE PARA O SPORTING
O ex-treinador do Sporting, Carlos Manuel, sublinhou há poucas semanas que Pauleta fazia parte das suas prioridades para o Sporting, mas que o avançado açoriano não foi contratado porque os responsáveis da SAD entenderam que ele não tinha condições para jogar na equipa de Alvalade, apesar de ser titular no Deportivo da Corunha. Quando confrontámos o ponta-de-lança com esta situação, não evitou um comentário com alguma ironia: "Há que respeitar a opinião dos dirigentes do Sporting. E só lhes posso desejar boa sorte nas contratações que têm feito e que continuam a fazer. O que vem de fora tem sempre um gosto melhor, não é?"