Luciano Gonçalves quer mais árbitros e alerta: «Continua a existir um clima de impunidade»

Presidente da APAF apela ainda ao profissionalismo e enaltece nomeações de Soares Dias para o Euro'2024 e final da Liga Conferência

• Foto: Ricardo Almeida

À margem do 45.º aniversário da APAF, celebrado esta sexta-feira, em Coimbra, o presidente do organismo, Luciano Gonçalves, fez um balanço positivo da época e saudou as nomeaçoes de Artur Soares Dias - que foi homenageado - para a fase final do Euro'2024 e para a final da Liga Conferência.  

"As temporadas são todas assim. Foi uma época desgastante e desafiante, mas dentro daquilo que era expectável, acho que correu bem. Houve erros, irão existir sempre. Foi uma época com formação atrás de formação, ajustes atrás de ajustes, mas acabámos por culminar com uma época desportiva que, no geral, consideramos positiva", começou por referir aos jornalistas. 

O que é que é mais urgente pedir a entidades como Liga e Conselho de Arbitragem para a próxima temporada? "O mais urgente que temos para pedir à Liga, ao Governo e à Federação Portuguesa de Futebol é que se trate da questão do profissionalismo. Num futebol profissional, onde todos os agentes são profissionais, não podemos continuar a ter um árbitro que não é profissional. Esse é um dos temas principais. Outro tema que, naturalmente, também temos que chamar à atenção, e é uma preocupação nossa, tem a ver com a falta de árbitros em Portugal. Precisamos, urgentemente, de aumentar a quantidade de árbitros, ou melhor, reter os que querem vir tirar o curso de árbitro.

Soares Dias no Europeu, no regresso dum português a uma fase final, e na final da Liga de Conferência, é um caso circunstancial ou está englobado num plano de crescimento de arbitragem? "Está englobado num plano de crescimento, mas não pode ser circunstancial. Portugal, com todos os outros agentes que tem, a qualidade que também tem na arbitragem, que já foi demonstrando ao longo do tempo, inclusive já tivemos, em 2012, o melhor árbitro do mundo. Já tivemos vários árbitros nos campeonatos da Europa e campeonatos do mundo. Obrigatoriamente, e isso tem que ser um compromisso da arbitragem, temos que ter sempre árbitros nas fases finais ou pelo menos a possibilidades de fazer finais europeias. Temos qualidade para isso e esta situação deste ano, não podemos ficar tão satisfeitos por ser anormal. Temos que ficar satisfeitos por ser normal e continuar a trabalhar para que isso aconteça. Agora o Artur, a seguir o João Pinheiro, depois outros jovens árbitros que temos com um grande valor e que podem fazer grandes carreiras a nível internacional. Sentimos que, a nível internacional, estão a ter esse reconhecimento. Não só por estas duas nomeações, que são históricas, mas também porque foi um ano repleto de nomeações nas várias vertentes, de futebol masculino, feminino, futsal e futebol de praia a nível internacional, o que nos deixa cheios de orgulho.

Homenagem mostra importância da chamada de Artur Soares Dias? "Felizmente, ao longo de 45 anos da APAF, fomos sempre homenageando os árbitros que iam estar nestas competições. Não tem acontecido, e temos que admitir isso, com a regularidade que pretendemos, mas acredito e trabalhamos para que seja normal os nossos árbitros estarem lá também podermos homenagear todos os anos um árbitro que esteja presente em competições.

O que pensa sobre a questão da segurança dos árbitros? "Temos uma série de temas que temos que abordar. Pedir que as associações olhem para os jogos do distrital com uma cara diferente, ou seja, temos que dar segurança àqueles jovens árbitros para não os perdermos e eles continuarem. Temos que punir, e não se está a conseguir verdadeiramente fazê-lo a quem comete este tipo de infrações, e depois termos penas verdadeiramente dissuasoras. Quando um árbitro é agredido, ou um jogador ou qualquer outro agente, tem que haver punição. Continua a existir um clima de impunidade, estamos a trabalhar, e quero acreditar que todos estejam empenhados nisso, Governo inclusive, para termos cada vez mais segurança, e não apenas para os árbitros. Para jogadores, para treinadores, pais e para vocês mesmos, jornalistas, que também são testemunhas das situações que infelizmente vão acontecendo com colegas vossos. Se estivermos todos mais seguros, vamos ter um futebol melhor, porque o que todos gostaríamos, não era que tivéssemos polícia, era que não existissem sequer estes comportamentos. Mas enquanto isso não acontece, enquanto não conseguimos que os jovens de hoje amanhã olhem para o desporto de uma forma diferente, vamos ter que punir, porque infelizmente não existe outra forma.

A falta de árbitros pode pode ter implicações como adiamentos ou suspensões de jogos? "Não, diretamente não acredito que chegue a esse ponto. O que vai acontecer e não é bom, nem para o futebol, nem para os jovens, nem para a própria arbitragem, é que muitos escalões, em muitas associações distritais, muitos jogos com jovens de 6, 7, 8, 9, 10, 12, 13 inclusive, ainda não não terem árbitros. E isso não é bom para nada nem ninguém. Estamos a habituar os jovens a ter cada vez mais competição e depois falta este elemento. Se desde pequeninos tiverem o árbitro, também o vão respeitar mais à frente. É tudo um ciclo e temos todos que fazer parte deste jogo."

Por Ricardo Chambel
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