Tal como Record informou em 1.ª mão, na edição em papel e no Premium, Pedro Proença vai dirigir o FC Porto-Benfica, sábado (20H30) que pode decidir o campeão nacional.

Record recorda um momento especial em que Proença admitiu ser benfiquista. Aconteceu no tribunal de Gondomar, no dia 31 de maio de 2008, quando o árbitro ali esteve na qualidade de testemunha do árbitro lisboeta Valente Mendes (que acabaria por ser absolvido). No banco dos réus sentava-se o homem que entregou a Proença as insígnias de internacional, Valentim Loureiro.

"Sem dúvida que o processo Apito Dourado mudou o futebol português. Pelo menos algumas práticas que hoje foram postas a nu", considerou no final da sessão, quando interrogado pelos jornalistas.

Na sala de audiências, Proença considerou "ofensiva" uma pergunta do procurador Gonçalo Silva sobre se o norte ganha mais vezes por árbitros se sentirem intimidados aí.

"Não conheço a palavra pressão na arbitragem mas posso dizer que o mediatismo de alguns casos pode alterar a posição dos magistrados", contra-atacou o árbitro lisboeta. O juiz-presidente, Carneiro da Silva, não resistiu e comentou a afirmação de Proença: "Está bem visto, o humor é uma boa forma porque nos permite, pelo absurdo, estabelecer uma forma de conduta".

O procurador tinha mais uma carta na manga e perguntou: "O futebol só tem 17 leis?". Proença respondeu:

"Há a Lei 18, que é a lei do bom senso. Há enquadramentos culturais, geográficos, até da forma como as pessoas vivem o próprio sistema. Arbitar no Norte é diferente, as pessoas têm uma vivência muito mais acérrima. Não temos que faltar à verdade desportiva sabendo gerir um jogo de futebol. Em tudo na vida temos de ter bom senso."

António Carneiro da Silva ainda quis saber ainda de Proença o que pensava de um árbitro que reconhecia ter errado de forma premeditada. "Se há essa sequência...", reagiu. Era mais uma referência às escutas, tendo o advogado Carlos Duarte perguntado se muito do que se dizia não tinha a ver com o caráter latino dos intervenientes. "As pessoas falam demais, dizendo coisas que até nem fizeram, mas não acontece só na arbitragem as pessoas falarem demais e fazendo muito menos do que aquilo que dizem", concluiu Proença.

Questionado sobre as prendas aos árbitros, Proença dissertou:

"Recebo-as dos meus familiares. Sou diretor financeiro de uma empresa onde temos despesas de representação. Como árbitro internacional existe uma norma de sã convivência que é o receber bem as pessoas, de acompanhá-las, de almoçar nos sítios da terra, onde conhecemos novas realidades e posturas e tudo culmina no final do jogo com o oferta de algo que é muito caraterístico na zona. É uma norma que existe e acontece com toda a naturalidade. Nunca vi ninguém pôr isso em causa. Acontece na UEFA, na Liga e no quadro da FPF. Recebi aquilo que sempre considerei como uma forma de bom acolhimento."

Na mesma sessão foi ouvido o árbitro assistente Ricardo Santos, envolvido na polémica do Benfica-FC Porto da época passada. Santos confessou que também ele na Luz recebeu prendas de clubes, tal como Valente Mendes recebeu um fio de ouro do Gondomar. Ricardo Santos confessou ter recebido do Benfica uma placa em acrílico.

Voltando a Proença, quando questionado pelos jornalistas pelo facto de estar nomeado para apitar o Estrela da Amadora-Benfica e ser alvo de contestação dos encarnados respondeu assim: “É um jogo para o Distrital”. Para acrescentar logo: “É um jogo entre equipas do distrito de Lisboa e não há pressão nenhuma, é só mais um jogo de futebol, são 90 minutos que todos temos pela frente.”

Confrontando, nessa altura, por Record com as críticas que vinha já a sofrer da parte de responsáveis do clube da Luz, Proença reagiu com mais um sorriso rasgado: “Eu prejudico tantos clubes, se fosse só o Benfica...”

Com Duarte Gomes a seu lado – que também testemunhou em tribunal, igualmente arrolado pela defesa de Valente Mendes –, Proença respondeu depois à nossa pergunta 'é adepto do Benfica?’: “E você?" Dissemos que sim. "Então somos consócios", acrescentou com um sorriso.