A cidade de Messi e Di María

Los Monos, organização criminosa argentina, chegaram a ter percentagem nos passes de mais de 120 jogadores, entre os quais o do internacional Éver Banega, atualmente ao serviço dos espanhóis do Sevilh

A cidade de Messi e Di María
A cidade de Messi e Di María • Foto: getty images

Durante muitos anos, Rosário foi conhecida como a terra onde tinha nascido Che Guevara. A terceira maior cidade da Argentina também foi o berço de Messi e Di María. Hoje é uma zona famosa pela violência e corrupção relacionadas com o narcotráfico. Também é palco do “Clásico Rosarino”, o temível dérbi entre o Rosario Central e o Newell’s Old Boys, por onde passaram Di María e Cardozo, respetivamente, antes de ingressarem no Benfica. Argentino e paraguaio chegaram a ser adversários neste jogo e só depois foram companheiros na Luz.

Os dois clubes são, em parte, controlados pelas barras bravas, violentas claques organizadas que se sustentam através do narcotráfico e de outras práticas criminosas. Los Leprosos (Newell’s) e Los Guerreros (Rosario) proporcionam verdadeiras batalhas campais. São raros os jogos entre estas duas equipas que acabem sem mortos. Na última vez que se defrontaram, em outubro, foram assassinados dois adeptos do Newell’s. Com estas mortes, a cidade de Rosário passou a registar 198 casos de assassinato apenas em 2014. Alguns por causa do fanatismo futebolístico. Muitos outros provocados pela guerra do tráfico de droga.

Morrer como um boss

Éver Banega também nasceu em Rosário. O médio é companheiro dos portugueses Beto, Daniel Carriço e Diogo Figueiras no Sevilha e já foi várias vezes apontado ao Benfica. Fez parte da lista de pré-convocados para o último Mundial, mas Alejandro Sabella deixou-o fora do lote final dos 23 jogadores, numa decisão que causou alguma surpresa. Uns defenderam que foi mera opção técnica. Outros justificaram, mais tarde, que decisão foi tomada pela Federação argentina por suspeitas de uma ligação de Banega ao grupo Los Monos (Os Macacos), uma das organizações criminosas mais poderosas da Argentina.

O caso veio a público em agosto, pouco tempo após o Mundial, através de uma investigação do programa “Minuto Uno”, da estação de televisão argentina C5N. Como forma de branquear o dinheiro da comercialização de droga, Los Monos usavam a compra e venda de jogadores. Terá sido assim, alegadamente, que o grupo teve uma percentagem do passe de Banega antes de este ter sido vendido ao Boca Juniors, em 2000.

Francisco Lapiana, um caçador de talentos que terá descoberto Banega, tinha uma percentagem do atual jogador do Sevilha, algo que foi descoberto através de uma conversa telefónica com um dos integrantes da dinastia Cantero (que controlava Los Monos) depois de um golo marcado por Ángel Correa, então no San Lorenzo, ao Boca Juniors. Uma percentagem do passe de Correa, atualmente no Atlético Madrid, também pertencia a Los Monos. O grupo chegou a ter uma carteira com mais de 120 jogadores, através de vários testas-de-ferro, como Lapiana.

A mesma reportagem mostra Banega a jogar à bola com crianças e jovens num campo de terra batida, em Rosário, que pertence a Los Monos. Numa das paredes está um enorme mural de homenagem a Pájaro Cantero, antigo líder do cartel, assassinado com seis tiros, em março de 2013, resultado de uma guerra pelo controlo de território das vendas de cocaína. Banega continua a jogar no Sevilha. Pájaro morreu como quis. Como querem todos os narcotraficantes, seja na Argentina, México, Colômbia ou Itália.

O escritor Roberto Saviano, perseguido pela máfia napolitana, escreveu no seu livro “Gomorra” o relato de um jovem aspirante a mafioso que se pode aplicar a qualquer líder do “narcofutebol”: “Todos os que conheço ou estão mortos ou estão presos. Eu quero tornar-me um boss (chefe). Quero ter supermercados, lojas, fábricas, quero ter mulheres. Quero três carros, quero que me devam respeito quando entro numa loja, quero ter armazéns em todo o Mundo. E depois quero morrer. Mas como morre um verdadeiro boss, um que comanda realmente. Quero morrer assassinado.”

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