O defesa-esquerdo mais internacional de sempre do futebol português fala de cansaço, lesões e de uma relação degradada com Bölöni. Pendurou as botas e não está arrependido
– Ainda acha que tomou uma decisão dolorosa mas correcta?
– Continuo a pensar que fiz bem e, pelo contrário, criei um momento de alegria. Digo mais: a grande diferença é que voltei a ser feliz. Fui jogador e adorei sê-lo; vivi a profissão apaixonadamente e entreguei-me a todos os sacrifícios, mas nos últimos tempos andei triste e angustiado, ou seja, sem as condições mínimas necessárias para continuar. Para me sentir bem comigo próprio e valorizar a relação com a família tomei essa decisão, da qual não me arrependo.
– O que o levou ao abandono?
– Quando deixei o Standard Liège e vim para o Sporting nunca me passou pela cabeça voltar a sair do País. Por motivos relacionados com a orientação da equipa e porque tinha objectivos claros, fui obrigado a ir para Marselha. Essa foi a gota de água que fez transbordar o copo: senti-me injustiçado no Sporting, queria ser opção para o Mundial, ia ser pai... Tudo me obrigou a uma reflexão profunda sobre o futuro.
– De que tipo de injustiça fala?
– Saí do Sporting com uma relação degradada com Bölöni, seguro de que não teria mais hipóteses de jogar. Para prosseguir restava-me voltar a fazer as malas e seguir para o estrangeiro. Decidi então dar passos para me manter ligado ao futebol, noutra área em que pudesse ser útil, aproveitando também para me dedicar à família.
– Esses tempos também foram marcados por várias lesões...
– Sim, é verdade que também as lesões me impediram de jogar tanto quanto queria. Gostava de ter feito mais, mas ao nível das relações humanas tudo foi perfeito com dirigentes, companheiros, adeptos, médicos, massagistas, roupeiros...
– Faltou a recompensa técnica?
– A única recompensa é o trabalho e afastar do campo das probabilidades a maldade dos outros. Quando um jogador está apto, trabalha bem e se submete a todos os sacrifícios em prol da equipa, a pessoa que manda deve reconhecê-lo e dar uma oportunidade. Eu acho que mereci essa oportunidade e ela não só me foi recusada como entendo não ter sido tratado com o respeito devido ao meu passado, à minha carreira, mais que não seja às 45 vezes que representei a selecção nacional.
– Consegue definir o auge dessa relação degradada, para usar as suas palavras, com o treinador Bölöni?
– No final de 2001 fomos a Alverca, eu estava em condições e na preparação do jogo ele disse-me que era importante para o grupo a minha disponibilidade. Muitos dos habituais titulares descansaram, eu fui convocado mas, para espanto meu, não saí do banco. A incompatibilidade com Bölöni dimensionou-se aí, no momento de me recusar a recompensa individual para o doloroso trabalho que levei a cabo, contrariando a convicção de que tinha capacidade para jogar até num conjunto formado por inúmeros não titulares habituais.
– Foi então que decidiu sair?
– Sim, percebi que para alimentar a esperança de ir ao Mundial teria de jogar e para jogar tinha de sair do Sporting e de Portugal.
– Ainda jogou em Barcelona...
– A minha actuação nesse jogo não me deu garantias de que estaria a cem por cento para jogar o Mundial. Essa auto--avaliação tornou as coisas claras para mim, razão pela qual achei normal o facto de ter sido afastado do lote final.
– Mas ainda tinha três meses para se preparar...
– Eu sei, mas percebi que entre o querer e o poder pode cavar-se um obstáculo intransponível.
– Se tivesse ido ao Mundial também abandonaria o futebol?
– Antes de ser conhecida a lista disse que cumpriria o último ano de contrato que tinha com o Sporting. Mas também podia regressar da Coreia e mudar de opinião, não só pela infeliz carreira da equipa como também pelo risco de ver acentuada, dentro do clube, a imagem que considero incorrecta de ser um jogador marcado pelo insucesso.
– Continua a referir-se a Bölöni?
– De todas estas críticas, implícitas e explícitas, está ilibada a SAD e todos os seus dirigentes. Foi um grato prazer lidar com pessoas de formação e competência irrepreensíveis. Gente com quem me identifiquei também pela frontalidade, por essa virtude, que muito valorizo, de dizerem as coisas na cara.
– Que ideia tem sobre o que se passa no futebol português?
– Terminei com a clara ideia de que muita coisa precisa de ser alterada. Falta credibilidade ao futebol e acredito que as ideias de uma nova geração podem servir como ponto de partida para o futuro.
– O que pensa do Euro-2004?
– Estou muito preocupado, porque entendo que não nos estamos a preparar à altura de um grande candidato ao título. E nem sequer estou a falar apenas da questão do seleccionador. Falo da indefinição da estrutura dirigente, técnica e médica; da ausência de um projecto sério que ultrapasse a simples preocupação de os estádios ficarem concluídos a tempo e horas; falo de problemas cujos responsáveis não sei se podemos circunscrever apenas ao Governo, à Federação, ao presidente, ou à crise económica mundial...
«O meu momento mais alto foi regressar à selecção»
Dimas define o momento mais alto da carreira:
– O meu maior momento foi regressar à selecção em Fevereiro de 2002, depois de longa travessia do deserto. Esse jogo em Barcelona, frente à Espanha, que foi o último dos 45 que efectuei, fez de mim, analisadas as coisas pelos meus princípios, um vencedor, por ter sido capaz de superar dificuldades e todo o sofrimento inerente, fazendo-o com muito sacrifício. Depois de ser operado sabia que tinha um joelho de alto risco e que, para cumprir os objectivos da carreira, precisava de trabalho suplementar. Ser convocado para esse jogo, numa altura em que a porta do Mundial da Coreia não estava fechada, encarei-o como o reconhecimento pelo meu esforço.
Uma paixão chamada Académica
Um elo indestrutível:
– A Académica é uma paixão – sou sócio há 14 anos. Mas há coisas com as quais não me identifico, por muito amigo que seja de Campos Coroa: fui à Figueira da Foz e, apesar de ter um camarote no Municipal de Coimbra, assisti ao jogo de pé. Vi como tudo se passou e não me enganam com bilhetes falsos... Associar isto à SuperLiga, máxima referência competitiva do futebol português, a mim soa-me estranho. Comecei e acabei com as mesmas caras nos postos de comando. Com todo o respeito, está na altura de aparecer gente nova. Pretendo criar um projecto para a Académica, apresentá-lo e, se for bom, vê-lo aprovado pelos sócios.
Projectos e o apoio à Casa Pia
Sobre o presente:
– Estou prestes a concretizar a entrada no meio da Comunicação Social. É um projecto que será conhecido em breve, que espero seja diferente, fuja ao dia a dia e se transforme num espaço para debater ideias. Enquanto isso, estou associado à Casa Pia com o vínculo oficial de relações públicas. Acredito no ideal de quem pretende fazer o bem, neste caso definido com o objectivo de formar homens e desportistas. Mas para recuperar o ideal de um clube ao qual o desporto português muito deve, precisamos de imaginação para ultrapassar as enormes dificuldades financeiras que se nos deparam.
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