João Tocha com dificuldades de memória no caso dos emails: do "não sei" ao "já foi há tanto tempo"

Testemunha, que enviou ficheiro com mensagens de Fernando Gomes a Carlos Deus Pereira, foi chamado à atenção pelo juiz

• Foto: Vítor Chi

João Tocha apresentou-se no Tribunal para ser ouvido como testemunha no âmbito do Caso dos Emails como "consultor de comunicação", mas a audiência deste acabou por ficar marcada por vastas dificuldades de dar resposta ao que lhe era questionado. "Não sei", "já foi há muito tempo" ou "não me recordo" foram afirmações recorrentes do especialista em comunicação que assumiu não fazer ideia o que o levava a estar na manhã desta quinta-feira em Tribunal. 

"Não sei porque estou aqui, se me pudesse explicar", respondeu à Procuradora do Ministério Público logo no início da sessão. 

Acabou por perceber que teria enviado um ficheiro com várias mensagens de Fernando Gomes, quando este era presidente da Liga, a Carlos Deus Pereira, antigo presidente da Mesa da Assembleia Geral da Liga. Mas o que sabia das mensagens que constavam no ficheiro? Pouco. A razão por que as enviou? Essa teve resposta, mas sem grande fundamentação: "Como consultor da Liga, tinha de estar atento a possíveis polémicas que pudessem colocar em causa o nome da instituição. Tive de reportar a quem de direito. Mais detalhes, não sei", concluiu o consultor que, numa primeira fase, nem se lembrava de ter enviado esse ficheiro: "Não me recordo de ter enviado, mas se está o meu nome no email, devo ter sido".

João Tocha falou sempre com poucas certezas, mas acabou por considerar que quando partilhou a mensagem de Fernando Gomes a Tiago Craveiro, onde o primeiro pedia que o segundo o acompanhasse da Liga para a FPF, nem que fosse pelo amor dos dois ao FC Porto, "era já do conhecimento dos meios ligados ao futebol". 

Mas quando confrontado por Nuno Brandão, advogado de Francisco J. Marques, da necessidade de reencaminhar o ficheiro se este já era público, Tocha acabou por ser evasivo: "É só o meu trabalho, é o que faço todos os dias", ainda que estas mensagens de Fernando Gomes fossem de 2010 e 2011 e Tocha as reencaminhasse vários anos depois: "É o meu trabalho, proteger as instituições", defendeu-se.

Tocha também não tinha ideia se houve "devassas das mensagens ou se estes ficheiros já estavam na Internet", quando foi questionado pelo mesmo causídico, mas acabou por ter de assumir que reencaminhou centenas de SMS sem ler o seu conteúdo. É que na resposta a uma juiza, acabou por referir que partilhou a correspondência pessoal de Fernando Gomes por saber que ali constavam "mensagens sobre futebol".

Apesar disso, não se questionou se no meio do ficheiro não poderiam estar mensagens do foro pessoal: "Não me ia meter a ler aquilo tudo, não tenho conhecimentos tecnológicos para tal", o que mereceu uma resposta irónica de Nuno Brandão: "É só carregar num botão do rato e abrir um documento excel. Não precisa de ser um Rui Pinto para saber isto. Mas como sabia que essa mensagem estava lá?", voltou à carga o advogado.

Sobre isso, também não teve resposta conclusiva e houve uma altura do interrogatório em que teve mesmo que ser chamado à atenção pelo juiz: "Estão a fazer perguntas, responda!", pediu o juiz Nuno Costa num tom mais exaltado.

A verdade é que os registos mostram que João Tocha enviou mesmo o ficheiro com as mensagens de Fernando Gomes a Carlos Deus Pereira, mas se depois voltaram a falar sobre esse assunto, já não conseguiu dar uma resposta: "Isso não sei", atirou, ainda que passados estes anos todos não mostra arrependimento pelo que fez: "Fiz e voltaria a fazer, pois eu prestava funções para a Liga e se poderia comprometer a instituição, tinha de fazer o meu trabalho. Chegou ao meu conhecimento uma informação e reportei a altos dirigentes".

Quando voltou a ser questionado sobre como lhe chegou a informação, a resposta foi um lacónico "sei lá". Aliás, sobre essa matéria, nunca conseguiu avivar a memória, nunca teve uma resposta para dar, ainda que tenha sido várias vezes confrontado sobre tal.

A audição ficou ainda marcada por outra ausência de memória que causou espanto na sala. É que João Tocha terá prestado declarações à Polícia Judiciária de que não tem memória. O juiz leu excertos dessa audição sobre esta matéria, mas o consultor de comunicação nunca se recordou: "Não me recordo desse depoimento. Só fui ouvido pela PJ para atestar a idoneidade da Andreia Couto, funcionária da Liga. Não estão a fazer confusão?", questionou, o que causou perplexidade na sala. Perante a insistência respondeu: "Só se me deu uma amnésia". 

Numa sessão que durou cerca de uma hora, foram de facto muito mais as dúvidas que ficaram no ar do que as respostas dadas. Mas Tocha acabou por ser dispensado. O julgamento prossegue com a audição da jornalista Ana Guedes Rodrigues na tarde desta quinta-feira. Agendada estava também a audição de Pedro Guerra que não marcará presença.

Por Valter Marques
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