Miguel: «A extremo ou a falso ponta participa-se mais no jogo»

MIGUEL chegou ao plantel sénior do E. Amadora rotulado de ponta-de-lança. Não um ponta-de-lança puro, mas um segundo ou falso ponta-de-lança. À medida que o tempo foi passando, o campeão europeu de sub-18 recuou no terreno e encostou-se à esquerda, fixando-se como extremo ou médio-ala esquerdo.

Jorge Jesus apercebeu-se das limitações de Miguel no capítulo da concretização e atribuiu-lhe um lugar mais coerente com as suas capacidades. Fazer a transposição entre o meio campo e o ataque e servir os pontas-de-lança é, neste momento, a sua principal atribuição.

O jovem internacional português não foge ao lugar-comum -- "jogo onde o treinador entender" --, mas não esconde a sua preferência pelas funções que actualmente desempenha e que lhe permitiram fixar-se no onze titular do E. Amadora.

"Como ponta-de-lança, o jogador é menos interventivo. Como extremo ou falso ponta-de-lança estamos mais activos, participamos mais no jogo", constata Miguel, acrescentando: "Na área trabalha-se mais. Temos de ser mais agressivos, para tentar ganhar os espaços aos defesas. Como extremos, corremos mais, estamos mais em contacto com a bola. É muito diferente."

A conclusão parece óbvia, mas Miguel faz questão de sublinhar a sua preferência: "Gosto mais de jogar como extremo, pois sou mais interveniente, a bola passa mais por mim e faço jogar a equipa."

VELOCIDADE AJUDA

Miguel está consciente de que a sua "adaptação" a extremo-esquerdo está directamente relacionada com a velocidade que imprime ao jogo e com a fraca compleição física de que dispõe. Afinal de contas, preconiza, o ponta-de-lança tem de ser forte, para se superiorizar na luta corpo a corpo, e o extremo tem de ser veloz, para levar a melhor nos lances de um para um.

"Na posição que ocupo, o aspecto físico não é muito importante. A velocidade, sim. Ajuda-me muito. Se estiver concentrado no jogo, a velocidade pode ajudar a impor-me ao jogador que me faz marcação", explicou Miguel, seguindo, depois, para um raciocínio inesperado: "Nos seniores, temos mais espaços para jogar. Nos juniores há mais marcações. Isso ajuda-me muito, porque sou um jogador rápido e, tendo espaços, desenvolvo melhor o meu futebol."

Em final de conversa, Miguel aproveitou para olhar para o futuro. O médio tricolor conhece as suas capacidades e sabe que o E. Amadora é demasiado pequeno para as suas ambições. Dentro de um ou dois anos a saída é mais que certa.

"A ideia de qualquer jogador vai no sentido de melhorar as suas condições de vida. Por isso, é natural que dentro de dois ou três anos comece a pensar em voos mais altos. Dentro deste período, estarei em condições de representar um clube de maior dimensão", argumentou Miguel.

DE "DISPENSADO" A CAMPEÃO EUROPEU

Miguel tem demonstrado ao longo da sua carreira ser um miúdo persistente. Se assim não fosse, dificilmente seria hoje um dos indiscutíveis titulares do E. Amadora e um dos preferidos do seleccionador nacional de sub-18. Teria desistido do futebol, quando, aos 15 anos, os responsáveis do Sporting lhe disseram que era "muito pequeno" e que deveria procurar clube para jogar.

Em boa hora não desistiu. Foi treinar para Alverca, regressando a Alvalade no final da primeira época de juvenil. Não conseguiu fixar-se e, no ano seguinte, foi emprestado ao Olhanense. Mais uma época para esquecer. Pouco jogou e, no final do ano, o Sporting dispensou-o em definitivo.

Por influência de um amigo de infância foi até à Reboleira, onde o técnico Quaresma descobriu que, afinal de contas, era um diamante por lapidar. Começou como "trinco", avançou para ponta-de-lança, assumindo sempre posição de destaque dentro do plantel. Daí, a gratidão ao técnico que o "redescobriu" para o futebol. "Quaresma foi-me corrigindo aos poucos e ajudou-me a acreditar que poderia vir a ser profissional", confessa o médio tricolor.

JOÃO LOPES

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