Paulo Morais: «Estou pronto para a luta e nem me preocupo se é no futebol, só quero um trabalho»

As altas temperaturas não convidavam para um jogo de futebol.

• Foto: Miguel Barreira

As altas temperaturas não convidavam para um jogo de futebol. Mas a causa superava tudo. Antigos futebolistas, e não só, juntaram-se para um jogo solidário no campo do Tenente Valdez, na Pontinha, em Odivelas, para ajudar Paulo Morais.

Para perceber toda a história é preciso fazer a contextualização. Paulo Morais, hoje com 41 anos, formou-se no Sporting e até chegou à equipa principal - na época 1993/94 era o terceiro guarda-redes, atrás de Costinha e Lemajic. Passou depois por Estoril e Sp. Braga, onde jogou na 1.ª Divisão, seguindo-se praticamente uma dezena de clubes ao longo dos anos. Juntam-se ainda 36 internacionalizações, dos sub-16 aos sub-21. Na época passada representou o Flamengos, da Associação de Futebol da Horta, Açores.

Este é o resumo do passado, agora fazemos-lhe o retrato do presente: está desempregado e a passar dificuldades. Também por culpa própria, algo que assume sem rodeios. "Tive um vício. Não tem nada a ver com drogas nem jogo, mas sim com carros. Trocava de carro de dois em dois ou de 3 em 3 meses e quando reparei já não tinha dinheiro. Devo ter gasto à volta de 200 mil euros", explicou a Record.

Agora, luta por uma segunda oportunidade, muito por causa dos 5 filhos, dos 5 aos 17 anos. E esse é o apelo que faz através de Record. "Infelizmente, 4 dos meus filhos não vivem comigo. Há obrigações que temos de cumprir e a verdade é que eu não consegui cumpri-las. E eu quero contribuir porque eles não têm culpa de nada. O que aparecer a nível de trabalho que venha. Estou cá para a luta, arregaço as mangas, e nem me preocupo se é no futebol, quero é um trabalho. Se não souber aprendo porque ninguém nasce ensinado. Sei que há pessoas muito boas que me poderão dar uma oportunidade", confessou, emocionado.

Para já, fica a gratidão por todos os que se juntaram para ajudá-lo. Além de bens de primeira necessidade, houve também donativos monetários. "Só me posso sentir feliz por saber que tenho muitos amigos dentro e fora do futebol", apontou Paulo Morais. E como se costuma dizer, os amigos são para as ocasiões. Principalmente quando não são as melhores.

Compreensão e apoio

Aurélio Pereira passou a liderar o departamento de recrutamento de futebol do Sporting em 1988. Foi mais ou menos na mesma altura em que Paulo Morais começou a formação nos leões. Mais de 20 anos depois, fica o sentimento de apoio e compreensão. "O Paulo é um bom miúdo, de bairro, nunca teve comportamentos desviantes. A vida não lhe correu como desejava, assumiu alguns erros mas pode acontecer a qualquer um. O que interessa é que todos nós possamos ajudar a resolver uma questão que até pode ser passageira", atirou.

Beto, antigo capitão do Sporting, aproveitou o caso de Paulo Morais para reforçar o que falta no futebol. "É importante que haja união na categoria do ex-jogadores. Neste caso é o Paulo Morais que precisa de carinho e acho que temos de ser mais unidos porque por detrás de um jogador há uma pessoa, uma família, uma dedicação. É muito fácill apontar o dedo mas pode acontecer a qualquer um, no futebol ou noutras áreas", lembrou.

Nuno Valente também contribuiu e continua a torcer pelo amigo. "Jogámos juntos na formação do Sporting a partir dos 10 anos e é sempre bom revê-lo, independentemente da situação. Acredito que irá ter um futuro feliz ao lado da família e espero que tenha sorte", desejou.

Por David Novo
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